2 Dias em Paris


Em seu segundo longa-metragem, Julie Delpy demonstra que as sombras das produções Antes do Amanhacer e Antes do Pôr-do-Sol ainda a perseguem. Com este drama contemporrâneo, a atriz e diretora alterna discussões banais relativas às bobagens do dia-a-dia com momentos típicos das comédias de erros.

O casal protagonista encontra o timing certo para a relação a dois. Na trama, os dois estão fazendo um tour pela Europa e, antes de retornarem aos Estados Unidos, decidem permanecer dois dias em Paris. É na capital francesa que a família dela vive, assim como seus antigos amores.

Justamente por ter seu nome associado aos filmes anteriormente citados, espera-se que essa produção fosse no mínimo parecida com aqueles que dividia a tela com Ethan Hawke (e esse fosse, teria obtido um resultado muito superior). Os momentos parecidos são os que mais valem a pena. As tramas possuem semelhanças, porém algumas confusões e questionamentos sobre a vida sexual da personagem de Delpy diferem os projetos entre si.

Os dez minutos iniciais ameaçam a apresentação de um filme muito diferente do que se assiste no decorrer da exibição. Tanto a abertura como o encerramento são de uma beleza cinematográfica que já garantem a sessão. Mesmo com momentos inspirados e alguns diálogos realmente bons, o produto é interessante, mas ainda assim razoável.

Nota: 6,0

[REC]


Levou quase uma década para Hollywood começar a explorar o cinema estilo “Bruxa de Blair”. A técnica foi repetida esse ano com bastante êxito em “Cloverfield”, porém um ano antes, o terror espanhol “[REC]” já havia utilizado esse formato para transmitir maior angústia e tensão ao espectador.

O filme concentra sua ação em praticamente um único ambiente: um prédio residencial na cidade de Barcelona, que repentinamente é lacrado pelo governo sem explicação aparente. Dentro do edifício estão os moradores, o corpo de bombeiros que recebeu uma chamada suspeita e uma equipe de reportagem que estava acompanhando o dia-a-dia desses profissionais. O que assistimos na tela são as imagens desse cinegrafista e a narração da repórter que acompanham a proliferação de um vírus mutante surgido no local.

O modesto longa-metragem adquire o tom realista imprescindível para esse tipo de projeto e ainda revela a talentosa Manuela Velasco. Alguns sustos e um final aterrador completam o pacote desse interessante filme de terror. O remake foi encomendado às presas por Hollywood e a versão americana estreou mês passado sob o título de “Quarentena”.


Nota: 7,6

Os Desafinados


A indecisão entre filme de banda e drama romântico arruinou Os Desafinados. O ótimo início prometia uma produção como The Wonders, só que trocando o grupo de rock por um de bossa nova. Ou seja, uma versão bem nacional. A partir do momento que chegam em Nova York e se alojam no apartamento da alternativa Glória, a trajetória da banda perde espaço para um triângulo amoroso chatíssimo.

Rodrigo Santoro é o progonista, mas quem rouba a cena é Selton Mello e Cláudia Abreu. Ambos aproveitam seus personagens e apagam o carisma dos demais músicos. Aliás, o grupo do título não atinge a identificação do público que gostaria – salvo raros momentos. Pode-se acrescentar à lista de escolhas erradas, a dublagem utilizada em várias cenas e a duração excessiva com mais de duas horas. É, o resultado poderia ser outro, porém terminou desafinado mesmo.


Nota: 6,0

Zohan - O Agente Bom de Corte


A nova comédia de Adam Sandler é de um humor tão esdruxulo que chega a ser engraçado. O roteiro assinado pelo astro em parceria com Judd Apatow (Ligeiramente Grávidos, Superbad) prometia o grande retorno de Sandler ao gênero lhe deu fama e reconhecimento. A trama sobre um agente do exército israelense que possui o sonho de ser cabelereiro não apresenta um pingo de normalidade. O show de bizarrices começa na primeira cena com o protagonista pelado, requebrando o quadril e trovando as gostosas da praia, a cena acaba quando um peixe fica preso em suas nádegas.

Bom, para não afugentar a galera do cinema, já vou avisando que Zohan é um filme bastante divertido, rende ótimas risadas e deve ser assistido em DVD entre amigos e com uma cerveja bem gelada. Se o longa mantivesse o mesmo clima da primeira hora de duração poderia ser uma comédia hilária. Pena que a sem gracisse do final faz com que o ritmo desande.


Nota: 7,0

Amor e Inocência


Muito se fala dos romances de Jane Austen (Orgulho e Preconceito e Razão e Sensibilidade), mas da vida particular da escritora pouco se sabe. Em Amor e Inocência, pode-se descobrir uma jovem destemida, não tão inocente como o título nacional sugere, mas uma romântica consciente de suas escolhas.

Conhecida mundialmente por seus clássicos da literatura, Jane teve uma vida que renderia um livro ou filme, como é esse o caso. E olha que demorou para os produtores de Hollywood se darem conta disso! A queridinha Anne Hathaway encara o desafio de viver a sensível protagonista e James McAvoy fica com o papel do arrogante Tom Lefroy – interesse amoroso de Jane.

Dessa vez, os dois jovens astros, bastante talentosos por sinal, não conseguem o brilho já habitual em cena. Quase que no automático, os atores, assim como o filme, contam a história da escritora. A estrutura que o diretor Julian Jarrold (Kinky Boots – Fábrica de Sonhos) dá para o longa também não contribui para envolver o espectador. Sem grandes atrativos em sua narrativa, a trama só ganha a consistência necessária perto do fim. Uma pena.

Nota: 5,5

Linha de Passe


Walter Salles e Daniela Thomas, em mais uma parceria, realizaram uma obra aparentemente simples com Linha de Passe. Mas, pouca gente sabe que o filme levou cinco anos para ser feito. Todo esse tempo reflete no cuidado com o projeto e a preocupação sem limites com a autenticidade. Ao assistí-lo, é inevitável constatar que a realidade invadiu o filme: quem comanda as cenas são aqueles personagens vivos na tela.

Com tantos filmes abordando o lado negativo da periferia, Salles decidiu apostar em uma história que mostrasse essas pessoas com humanidade. Uma das questões discutidas é a dualidade entre uma família disfuncional, sem a ausência de um pai, com uma cidade gigante e opressora como São Paulo. A mãe (Sandra Corveloni) e seus três filhos sobrevivem o dia-a-dia em um mundo de devoradora desigualdade.

A sensibilidade como o diretor trata seus personagens encanta o mais duro dos corações. Linha de Passe é um trabalho caprichado, bonito de assistir e sentir, portanto, nem um pouco simples. Os atores estreantes em cinema (com exceção de Vinícius de Oliveira) dão um show a parte. Salles aparece mais maduro do que nunca, e esse projeto demonstra toda essa confiança.

Nota: 7,5

Um Crime Americano


O chocante caso da adolescente Sylvia Likens é contado nesse filme igualmente brutal. O diretor Tommy O´Haver não poupa o espectador de presenciar as cenas de humilhação e tortura. Um Crime Americano não é um passatempo como qualquer outro, não chega a ser filme bom de assistir, a experiência é pra lá de indigesta.

Após a sublime interpretação em Juno, Ellen Page dá vida a adolescente de 15 anos que é aprisionada no porão durante várias semanas por Gertrurde Baniszewski. A mulher de 36 anos ficou responsável de cuidar da menina enquanto seus pais viajavam. Como os pais não voltam e o dinheiro pela hospedagem pára de chegar, Sylvia se torna uma válvula de escape da megera.

O mais impressionante é que Gertrude tinha ainda sete filhos e todos eles conviveram normalmente com a situação. Várias crianças da vizinhança chegam a ser coniventes com as condições precárias por qual Sylvia passa, sendo que muitas vezes, ainda ajudam a torturá-la. A única exceção é a irmã de Sylvia que parece ter entrado em estado de pânico e assiste a tudo calada. Apesar de parecer exagerado, a história é baseada em fatos reais.

Um Crime Americano funciona como um relato de um caso brutal e repulsivo, uma denúncia fílmica que veio aparecer mais de 45 anos depois do acontecido. Entre os quesitos técnicos, destaca-se a ótima performance de Catherine Kenner na figura do carrasco. Mesmo sendo um filme correto, o espetáculo não é nada agradável. Justamente por isso, fica difícil apreciá-lo como entretenimento.

Nota: 6,0

Trovão Tropical


Até o momento, Trovão Tropical pode ser classificado como a melhor comédia do ano. O filme dirigido por Ben Stiller é desde o início uma sessão de muitas risadas. Os trailers falsos na abertura colocam o espectador no humor exato da produção, além de resultarem em uma jogada esperta, que dispensa a apresentação dos personagens.

Ben Stiler, Jack Black e Robert Downey Jr interpretam na tela astros de cinema! Só isso já torna o filme muito divertido! Na trama, os três são atores milionários com egos super inchados e que não se acertam de jeito nenhum nas gravações da produção que promete ser ‘o maior filme de guerra de todos os tempos’!

Para tentar controlar sua equipe e evitar o fracasso do seu projeto, o diretor leva os atores para o meio da floresta com a intenção de obter o ar de realidade imprescíndivel para as filmagens. Porém, os perigos se tornam mais reais do que todos imaginam.

Para variar, o show é de Robert Downey Jr! Desde seu retorno em 2005, com Beijos e Tiros, que o ator marca um sucesso atrás do outro e demonstra ser um dos melhores de sua geração! Aqui, o sujeito é o responsável pelas melhores cenas e está impagável como o astro bem conceituado que se submete à tudo pelo personagem.

Quem mal aparece é Jack Black, ofuscado pelos demais protagonistas. O único momento em que faz rir é durante o trailer de “The Fatties”. Uma surpresa é a atuação de Tom Cruise como o dono do estúdio Les Grossman. O ator está irreconhecível sob muita maquiagem e falas grotescas.

Misturando ação com comédia, o filme não foge de sua proposta e, quando as piadas ameaçam acabar para dar espaço à cenas de guerra, chega logo o final. Assim, Trovão Tropical resulta em uma comédia bacana, que brinca com Hollywood e seus estrelismos, mas que além de tudo, faz o público rolar de rir. Até mesmo a história meio furada funciona na tela. O que nós resta é aproveitar a sessão!

Nota: 8,0

O Amor Não Tem Regras


Já é a terceira vez que George Clooney comanda a direção de um longa-metragem: Confissões de Uma Mente Perigosa, de 2002, recebeu boas críticas e reservou lugar no ramo alternativo, Boa Noite e Boa Sorte, de 2005, ganhou vários prêmios e teve indicações ao Oscar, e agora, O Amor Não Tem Regras, de 2007, foi completamente esquecido.

O filme não levou praticamente ninguém aos cinemas norte-americanos e nem chamou a atenção da crítica. Para tentar alavancar o filme no Brasil, a distribuidora optou por um título de comédia romântica – o que certamente deixará os espectadores desavisados bem pouco satisfeitos.

Na verdade, é um filme que se passa na década de 20, sobre esporte, mais especificamente futebol americano. O galã Clooney é Dodge Conolly, um veterano treinador que tenta salvar seu fracassado time ao contratar um jogador promissor. Renné Zellweger interpreta a repórter que deve desmascarar o astro profissional e serve como a ponta do triângulo amoroso.

O terceiro projeto de Clooney na direção é um filme sem personalidade, tipicamente comum e com raros atrativos, entre essa minoria pode-se citar o visual retrô e o humor pastelão simpático. O casal protagonista não consegue a química pretendida, fazendo com que o jogo sujo praticado por ambos soe ainda mais prejudicial para a apreciação da obra. Dessa vez, o esquecimento foi merecido.

Nota: 4,8

Mamma Mia


Entre os clássicos musicais da Broadway está Mamma Mia, um novelão recheado de canções do grupo ABBA. Na onda de transpor para o cinema as peças teatrais da famosa avenida de Nova York, chegou a vez desse espetáculo de visual kitsch e números musicias ainda mais brega, e olha que isso não é uma crítica negativa.

Sem comparar as duas versões, vamos nos concentrar apenas no filme. O roteiro apoia-se na história de uma garota que possui três pais! Isso mesmo, a sua mãe não sabe qual deles foi o responsável por sua gravidez. Inseridas no meio desse fiapo de história as músicas contagiantes do ABBA encontram o lugar certo na trama. Aliás, são esses momentos que dão vida ao projeto.

À frente do elenco, a consagrada Meryl Streep esforça-se para encantar o público – o que nem sempre é garantido. O argumento fraco é um acúmulo de clichês e por isso, totalmente previsível. Boa parte das coreografias são exageradas, requisitando um elenco de apoio que surge do nada e não traz novidades. Muitas danças chegam a ser constrangedoras, sem falar no histerismo das personagens femininas, principalmente Julie Walters. Quem não suporta musicais, deve fugir de "Mamma Mia" e assim evitar que pegue ainda mais nojo! Somente os fãs do gênero sem grandes pretensões consiguirão aproveitar alguns momentos dessa desiquilibrada montagem.


Nota: 6,5

Ensaio Sobre a Cegueira


O que muitos consideraram infilmável, o brasileiro Fernando Meirelles foi lá e fez. A adaptação da premiada obra de José Saramago, Ensaio Sobre a Cegueira, é o mais recente projeto do brasileiro mais respeitado atualmente no mundo do cinema.

Depois do “revolucionário” Cidade de Deus, o diretor arriscou-se no exterior com O Jardineiro Fiel e teve seu merecido reconhecimento. Agora, com esse novo longa-metragem, temos mais uma produção excelente fazendo parte de sua filmografia. Para encurtar o caso: uma epidemia de cegueira branca deixa toda uma população a beira do primitismo. Entre os afetados, apenas uma mulher consegue enxergar, Julianne Moore é quem guia os desamparados e conduz o filme.

As imagens esbranquiçadas ajudam o espectador a embarcar no contexto da ausência de visão, enquanto isso, a trama contundente do escritor envolve o público e realiza uma importante análise sobre a convivência em sociedade. Assim, já se pode compreender o sucesso do livro ao assistir a versão cinematográfica. Com Ensaio Sobre a Cegueira, Meirelles promove um espetáculo para os olhos (e para mente).


Nota: 8,0

O Sonho de Cassandra


Realmente existe uma certa semelhança entre O Sonho de Cassandra e Antes Que o Diabo Saiba Que Você Está Morto. Coincidência ou não, os dois abordam como tema central a cobiça e ambição do homem comum, exemplificada através de um crime que procura se justificar no momento em que gera um bem maior. Os dois projetos foram lançados com poucos meses de separação, o primeiro deles foi o filme de Woody Allen.

O veterano diretor retorna à tramas policiais equivalentes a Crimes e Pecados e Match Point. A ironia se faz presente, acampanhada de bons diálogos, tensão contínua e uma evolução que se desenvolve pouco a pouco, sem se apressar para o trágico final. Talvez o defeito do filme seja utilizar um tema tão interessante e não aprofundar o suficiente. A consequência disso foi a realização de um thriller de entretenimento envolvente e curioso. Poderia ser muito mais.

A dupla Ewan McGreggor e Colin Farrel já foi melhor. As escolhas equivocadas dos últimos anos podem ter atrapalhado a auto-estima dos atores, impossibilitando performances semelhantes à de outrora. Farrel, por exemplo, apesar de estar bem em cena repete o mesmo personagem do recente Na Mira do Chefe. Ou o contrário? O personagem de Na Mira do Chefe repete esse aqui? De qualquer maneira, foi preguiça.

Em contrapartida, é inegável a capacidade impressionante de Allen contar, a cada ano, uma nova história fascinante. O periodo de espera por seus filmes é feita com contagem regressiva e o resultado dificilmente revela-se decepcionante. Se O Sonho de Cassandra teve apenas boas críticas foi porque a expectativa que ronda o nome do diretor acaba por produzir uma cobrança muito elevada. Talvez se os críticos assistissem o filme desconhecendo o envolvimento do cineasta teriam aproveitado muito mais.

Nota: 7,9

A Lista - Você Está Livre Hoje?


Por essa ninguém esperava: A Lista é um filmeco de quinta categoria vestido de produção elegante. Hugh Jackman e Ewan McGregor embarcaram nessa roubada com o diretor iniciante Marcel Langenegger. Mas, não vá colocando a culpa no pobre coitado!

Langenegger apresenta um bom trabalho na direção, envolvendo o público com sua história, utilizando belas locações e uma fotografia estilosa. Ewan McGregor também não desmerece o projeto. O ator retorna aos seus papéis de início de carreira quando vivia interpretando sujeitos tímidos ou “gente comum”.

À mando de seu novo “amigo”, Jonathan entra num misterioso clube sexual para homens poderosos e mulheres sem tempo de amar. O deslumbramento é imediato, principalmente, quando conhece em um desses encontros uma jovem que pode ser a mulher de sua vida. Porém, nada é o que parece.

A Lista começa bem interessante e conforme vai avançando perde sua força ao mostrar como é previsível e banal. Um thriller onde o roteiro é o elemento-chave, os demais quesitos por mais que estejam no lugar certo não compensam. Assim como o título original, o desfecho supostamente surpreendente é uma decepção.

Nota: 5,0

Southland Tales - O Fim do Mundo


Richard Kelly, o diretor do imperdível Donnie Darko, realizou uma ficção científica bastante ambiciosa como sua segunda incursão no cinema. O projeto foi esse Southland Tales, que devido o fracasso retumbante acabou sendo adiado por muitos meses e esquecido em dvd.

Segundo o diretor, que também assina o roteiro, a produção é anti-guerra e brinca com a situação de os Estados Unidos estar estragando o planeta. Assistir o filme é uma experiência completamente insana, provavelmente a maior parte das pessoas não conseguirá sobreviver aos 30 minutos iniciais – sendo que o filme tem quase duas horas e meia.

O mais incrível do projeto é o visual futurista misturado com estilo retrô. Super bacana mesmo! Como já foi dito, o filme é muito bizarro, parece que Kelly juntou problemas sociais, questões políticas, cultura pop e astros de Hollywood e colocou tudo num liquidificador. As várias tramas paralelas confundem a platéia que, por mais que se esforce, não conseguirá entender muita coisa.

Ironicamente, a produção acabou ganhando caráter cult e de tão ruim, acabou sendo bom. É difícil assistir como um todo, o melhor mesmo é apreciar cada momento, principalmente aqueles muito inspirados, como a seqüência onde Justin Timberlake canta a música “All These Things I´ve Done”, do The Killers. É sensacional! A melhor cena disparado! Aliás, a trilha sonora é um deleite.

Não tem como negar que esses momentos brilhantes também se misturam com cenas de puro tédio e de uma idiotisse tremenda. Os altos e baixos fazem parte do conjunto, assim como o elenco repleto de rostos conhecidos: Sarah Michelle Gellar, Sean William Scott, Justin Timberlake, Dwayne Johnson, Mandy Moore, Christopher Lambert e Miranda Richardson.

Grande parte do tédio pode ser atribuído o uso insistente de narração e meios de comunicação para contar a história. Volta e meia acontecem interrupções para o despejo de muitas informações da trama. Por mais difícil de assistir, o filme não deixa de ser intrigante e pede uma segunda olhada.

Southland Tales resultou uma produção pretensiosa demais, que não cumpre o prometido e soa bagunçada para o espectador, dando a impressão de que foi um desperdício de tempo! Para aqueles que souberem tirar proveito de alguma coisa, vão se divertir!

Nota: 6,8

Chumbo Grosso


O diretor Edgar Wright juntou vários clichês dos filmes de ação para criar essa comédia inglesa e aproveitar o sucesso de seu projeto anterior, Todo Mundo Quase Morto, que também tirava sarro do cinema, no outro caso, eram os filmes de terror, em especial aqueles de zumbis.

A parceria é a mesma: Simon Pegg e Nick Frost, os protagonistas da primeira sátira, retornam como dois policiais de uma pequena cidade do interior da Inglaterra que acabam tendo que lidar com um assassino misterioso. Os crimes são apenas pretexto para explorar as piadas, que incrivelmente não são tão explícitas e engraçadas quanto o planejado.

Chumbo Grosso foi considerado por muitos críticos como a melhor comédia de 2007. É inegável que o filme seja bem divertido, mas a resolução dos assassinatos é tão ridícula que só pode ser uma pegadinha do roteiro. De tão idiota e revoltante, o único alento é que tenha sido proposital, com a intenção de ridicularizar o gênero.

O plot inicial d a trama é o mais sensacional: policial é transferido pela polícia de Londres para uma pacata vila porque é competente demais e pode fazer com que os outros colegas percam o emprego! A crítica e ironia andam juntas com a paródia, o que dá uma carga mais cult para a produção.

A dupla de Pegg e Frost está melhor do antes e o primeiro apresenta um ótimo desempenho como ator mais sério.

Nota: 6,5

Vida de Casado


Ambientado nos anos 40, este drama tem todo jeito de filme clássico. Além de se passar no pós-2ª Guerra Mundial, o filme apresenta uma narrativa lenta, digna das produções dessa época cujo clima e roteiro eram mais devagar, trabalhando com uma trama simplista e linear.

Vida de Casado é sobre um homem que se apaixona por uma jovem viúva, e sem saber como contar do seu caso para a esposa, decide matar sua companheiro de anos para evitar que ela passe pela humilhação de um divórcio.

O ótimo elenco dá vida aos personagens de forma crível, principalmente o casal Chris Cooper e Patricia Clarkson. O roteiro ultrapassa o óbvio e lembra muito Crimes e Pecados de Woody Allen. Elogio maior que esse? Vida de Casado é um filme adulto, sério e para poucos.

Nota: 7,7

O Procurado


Logo nas primeiras cenas de O Procurado assistimos um cara saltar de um prédio para outro, e durante esse feito, acertar com precisão na cabeça dos bandidos que o perseguem. A conclusão não podia ser outra: estamos frente à frente a um filme de ação totalmente impossível.

Contornando as cenas de ação nada verossímeis, temos um personagem cativante que dá uma guinada incrível em sua vida. Wesley Gibson (James McAvoy) era um funcionário de repartição até o dia em que é recrutado pela sexy Fox (Angelina Jolie) para fazer parte de uma fraternidade de assassinos profissionais.

As narrações de Wesley são afiadas e com muita ironia, mostrando que a ascenção do personagem é o melhor do projeto. A primeira hora de duração aborda um treinamento violento e a transição de um completo fracassado a um habilidoso matador. Como o próprio personagem diz: “Seis semanas atrás eu era exatamente como você…”. Essas pequenas pérolas elevam esse filme de ação para um nível superior de entretenimento.

A traição surge próximo do final quando algumas reviravoltas colocam tudo a perder. O que antes era extremamente impossível passa a ser gritante na tela – isso acontece porque no início a história seduz o espectador, como sofremos um baque com a nova proposta tendemos a ver essas “façanhas” com outros olhos.

O Procurado tinha tudo para ser um excelente produto de ação, surpreendendo a todos como um dos melhores filmes do ano. James McAvoy firma-se como astro e é o elemento chave da produção. Angelina Jolie hipnotiza cada vez que aparece em cena (e só isso). Apesar da enorme derrapada no final, adrenalina excitante é o que não falta e o que fica é o gosto de quero mais (e melhor).

Nota: 7,5

Melhores Filmes de 2008 (até agora)

1º) O NEVOEIRO







Sufocante do início ao fim, O Nevoeiro é um “filme de monstro” que leva o espectador ao ápice do desespero. O responsável pelo feito é o dirtor Frank Darabont, que surpreende ao transformar um simples filme de terror em uma obra-prima do gênero.

2º) SWEENEY TODD







O musical gótico de Tim Burton é uma saga sangrenta e bem orquestrada, não censura a violência e apresenta um visual de encantar os olhos. Em sua sexta parceria com o diretor, Johnny Depp brilha na pele do barbeiro demoníaco e Helena Broham Carter como sua comparsa.

3º) SENHORES DO CRIME







O submundo da máfia russa é explorado por David Cronenberg de forma seca e brutal nesse que é um dos melhores filmes de 2008. Viggo Mortensen incorpora o papel do motorista Nicolai e choca a platéia em uma sequência de luta prá lá de violenta contra dois matadores em uma sauna.

4º) DESEJO E REPARAÇÃO







O drama de Joe Wright não encontra muitas semelhanças com seu longa anterior, Orgulhoso e Preconceito. Nesse aqui, o diretor realiza um filme de época atemporal, demonstrando que a redenção nem sempre é possível. Destaque para as atuações de todo elenco.

5º) O GÂNGSTER







Ridley Scott consegue fazer com que os 150 minutos de O Gângster passem numa rapidez incrível. Sua façanha é manter o espectador envolvido com uma trama típica dos filmes da década de 70, e por incrível que pareça, a trama é inspirada em uma histórial real. Denzel Washington respira o personagem-título e as doses de drama e cenas de ação estão na medida.

6º) CLOVERFIELD







Outro filme de monstro no ranking! Parece que finalmente conseguiram sacar que o importante não é mostrar sangue e sim gerar tensão. Vale mais não entregar a criatura e deixá-la no imaginário do que entregar um monstrengo de mão beijada, sem impacto algum. Cloverfield tem tudo que um filme desses pede: sangue, nervosismo, uma criatura cool e um roteiro esperto.

7º) BATMAN: O CAVALEIRO DAS TREVAS







O avanço de Batman Begins para O Cavaleiro das Trevas é impressionante. Cristhoper Nolan cria um filme de suspense dentro de uma trama de super-herói. O dono do filme, o Coringa, deita e rola na telona. Heath Ledger está fantástico e sua tese sobre a maldade conduz até o desfecho emocionante.

8º) MEU NOME NÃO È JOHNNY







Ùnico filme nacional do ranking comprova que a safra brasileira de 2008 está fraca. Pelo menos, o filme de Mauro Lima figura na lista, demonstrando o talento da nossa terra em uma produção ágil, com uma boa história e ótimas interpretações (leia-se Selton Mello).

9º) APENAS UMA VEZ







Esse drama independente é uma delícia de assistir. Quase um musical, Apenas Uma Vez fala sobre as escolhas que tomamos na vida de forma poética e verdadeira. As canções tornam a sessão ainda mais encantadora.

10º) O ORFANATO







Mistério à moda antiga! O Orfanato conta sua narrativa bem lentamente e, ainda assim, mantém o público roendo as unhas. De quebra, reserva alguns sustos e revela-se um conto macabro inteligente e fascinante! Por isso, está entre os 10 melhores!

11º) LARS AND THE REAL GIRL







Uma das melhores surpresas do ano! Adorável comédia dramática sobre um cara que se apaixona por uma boneca inflável. No elenco, os ótimos Ryan Goslin e Emile Mortimer. Criativo, bastante humano e fora de comum. Recomendado!

12º) À PROVA DE MORTE







Tarantino e o seu universo da cultura pop: o requebrado femino, o culto à bebida, o personagem canastrão de Kurt Russell, a morte violenta de Rose McGowan, a participação especial do próprio diretor e a fotografia de cores vibrantes. Algo mais? Não, obrigado, já estou bem servido!

13º) OS INDOMÁVEIS







Recriação de um faroeste típico dos áureos tempos do gênero! Os Indomáveis é um drama emocionante sobre um poderoso duelo de personalidades. Russel Crowe e Christian Bale travam esse embate poderoso ao centro de várias cenas de bangue-bangue.

14º) JUNO







Um filme é o seu roteiro. Juno comprova essa teoria com diálogos inteligentes e sarcásticos em uma produção adolescente que merece ser assistida por todos os públicos. O diretor Jason Reitman dá um caráter indie e classifica a produção no estilo alternativo, enquanto Ellen Page entrega sua melhor interpretação.

15º) ACROSS THE UNIVERSE







Filme musical com canções dos Beatles não podia dar outra! Across the Universe garante presença na lista dos melhores de 2008 (até agora). É para assistir e cantar junto! As imagens multicoloridas, quase em formato de videoclipe, excitam o espectador e tornam a exibição extremamente prazerosa.

Charlie - Um Grande Garoto


Sucesso entre o público adolescente, essa comédia conseguiu seu espaço entre os filmes bobocas do gênero e de brinde, agrada todos os públicos. Charlie Bartlett é um adolescente rico e inteligente que decide traficar remédios regulamentados com receitas para se tornar popular na escola. O plano dá certo e uma revolução estudantil se anuncia.

Sem pretenções, o filme diverte como uma qualificada sessão da tarde infanto-juvenil. O elenco de apoio, com Robert Downey Jr. e Hope Davis, dá o aval de credibilidade para o projeto. Aliás, Downey Jr é o ator ideal para alcoólatras, vide seu passado e sua identificação imediata com o vício. Mais uma vez, ele mostra que está no auge da carreira.

Ainda que forçando a barra ao tentar passar uma lição de moral, o longa-metragem consegue tratar os adolescentes de forma mais realista mostrando-os problemáticos, drogados e com desejos sexuais. Mas, ainda assim, não foge de seu caráter infanto-juvenil.

Nota: 7,0

Esquina da Morte


Quem diria que Esquina da Morte, com toda essa cara de “filmeco”, iria surpreender. Não que o longa seja como O Gângster, mas é um filme menor sobre máfia, algo como Os Donos da Noite. Confesso que só levei a fita para casa quando vi os nomes dos atores: James Marsden, Giovanni Ribisi, Piper Perabo e Val Kilmer. Com esse elenco tem como recursar?

Tudo bem que todos já cometeram crimes em suas filmografias, mas vamos dar uma chance né? Afinal, são os quatro reunidos! E assim começa Esquina da Morte: Tommy Santoro se mete em enrascada no exército e para se livrar da pena aceita a proposta de vigiar seu primo Joey, informando seus passos a polícia. Enquanto Tommy estava investindo em sua carreira militar, Joey se tornou um dos chefões do tráfico e está metido até o último fio do cabelo com gangues de mafiosos. O dilema de delatar ou não põe tudo a perder.

James Marsden, que mesmo sendo um ator pelo qual simpatizo, termina não combinando com o porte de mafioso. Ao contrário de Giovanni Ribisi, que entrega mais uma ótima performance como o desequilibrado Joey. Falecido no início do ano, Brad Renfro também aparece em cena em uma de suas últimas atuações e comprova que tinha talento. Se a trama não é tão original, o filme compensa com o seu andamento lento, em uma linguagem simples e eficiente. Além do mais, é inspirada em uma história real.

Nota: 7,0

Santos e Demônios


Robert Downey Jr. voltou com tudo ao “grande” time de astros de Hollywood. Entre as superproduções, como "Zodíaco" e "Homem de Ferro", o ator realiza filmes menores como "Charlie Bartleett" e este aqui, "A Guide to Reconize Your Saints". Nem é preciso dizer que o nome original é sempre melhor que as sofríveis “traduções”.

O diretor estreante Dito Montiel conta sua própria história, baseada em livro de sua autoria, e consegue um debut melhor do que muitos vistos recentemente. Com a força de um ótimo elenco e o incentivo do Sundance, o filme foi alavancado rapidamente ganhando notoriedade e boas críticas.

As atuações dos veteranos Dianne Wiest e Chazz Palminteri (excelente) aumentam a avaliação, enquanto os sempre competentes Robert Downey Jr. e Rosario Dawson completam o quadro de estrelas. Shia LaBeouf aparece em seu primeiro papel de destaque no cinema, anunciando o sucesso que estava por vir. Channing Tatum mostra que pode ser um bom ator e promete se tornar igualmente famoso quanto o companheiro de cena.

O drama é todo ambientado no bairro Queens, em Nova York, contando a infância de um grupo de amigos e da rivalidade que sofrem com as gangues de rua. Os romances adolescentes, as influências da violência e a educação familiar entram na balança. A história de Dito é um bonito conto sobre amadurecimento, da ânsia de sair da realidade oprimida para atingir os sonhos e objetivos traçados.

Dito não quer ficar nesse inferno, mas para isso terá que deixar todos para trás. No final, analisando suas escolhas, ele emociona o público ao constatar que se desfez de todas pessoas que amava, porém nenhuma delas o deixou. Mensagem captada!

Nota: 7,2

Um Jogo de Vida ou Morte


A disputa travada entre Michael Caine e Jude Law em Um Jogo de Vida ao Morte não requer nenhum outro personagem em cena. Durante os 90 minutos, são apenas os dois atores num embate inteligente e de várias surpresas. O filme é refilmagem de Jogo Mortal, de 1972, mas que pode ser encontrado igualmente em VHS como Trama Diabólica.

Os dois astros apresentam as atuações de suas vidas. Conferindo os extras do DVD, é possível observar o carinho da dupla com o projeto, no qual Law também assina como produtor. Ao assistir o longa, fica difícil identificar quem está melhor em cena, ao mesmo tempo que é difícil também identificar qual dos personagens está no comando da situação.

Os diálogos espertos e sacanas só melhoram o conteúdo deste thriller elegante ao extremo, onde o seu principal refinamento são os planos tortos e distantes do diretor Kenneth Branagh e o visual moderno que atribuiu à mansão onde se passa a história. As várias camadas do enredo dividem esse duelo em três atos, que só pecam pelo rápido e superficial desenvolvimento de cada um deles. Por incrível que pareça, o filme para ser melhor, só precisava ser mais longo.

Nota: 7,2

Sem Medo de Morrer


No momento em que o título original do filme começa a fazer sentido para o espectador, percebe-se a gigantesca reviravolta que a trama propõe. A produção passa a ser definida justamente por essa mudança de rumo na vida da professora Diana. O que aparentava ser a vida de uma mulher, já estabelecida com marido e filha, que relembra seu tempo de escola onde dividia bons momentos com sua melhor amiga é transformado e mexido de tal forma que trai o público.

Sendo vendido como drama desde sua abertura até os 10 minutos finais, Sem Medo de Morrer não convece ao se tornar um suspense em seu encerramento. A jogada supostamente surpreendente não é engolida e termina confundindo mais do que justificando. De qualquer maneira, o caminho do espectador até essa brusca mudança não é tão prazeiroso a ponto de favorecer o filme. Tanto o andamento principal como o que é proposto no final não funcionam. Nem mesmo Uma Thurman e Evan Rachel Wood salvam a platéia da frustração.

Nota: 4,5

Antes Que o Diabo Saiba Que Você Está Morto


Não existe redenção em Antes Que o Diabo Saiba Que Você Está Morto. Todos personagens pagam seus pecados. Ethan Hawke e Phillip Seymor Hoffman interpretam dois irmãos falidos que desejam dar um golpe nos pais donos de uma joalheria. Como um deles mesmos diz, “nós conhecemos o local, vai ser barbada”. A aparente simplicidade da situação desmorona quando tudo dá errado e uma série de complicações implica nas atitudes furiosas vistas mais para o final.

O veterano Sidney Lumet dirige um filme nervoso, que sufoca os protagonistas e o espectador. A transformação da vida desses irmãos em um verdadeiro caos é o reflexo das consequência de uma sociedade cada vez mais imediatista e dominada pelo capitalismo. O recurso não-linear que observa a versão do golpe por vários personagens dá ainda mais complexidade ao projeto.

Por mais que seja necessário, a utilização desses flashbacks torna-se cansativo e a repetição de algumas cenas quebram o clima Do resto, a complexidade da trama observada em vários detalhes que se fundem nas linhas narrativas elevam a qualidade da produção. Completando, temos as ótimas atuações de Phillip Seymor Hoffman e Ethan Hawke e como brinde, Marisa Tomei mais linda do nunca e em cenas bem à vontade.

Nota: 7,6

Apenas Uma Vez


Essa pérola ficou apagada entre os filmes com mega astros na última cerimônia do Oscar. Não estou cogitando sua premiação nas principais categorias, até porque a produção foi indicada naquela que merecia e foi vitoriosa. A música “Falling Slowly” venceu como Melhor Canção e é tão encantadora quanto o filme.

Apenas Uma Vez é quase um musical. As músicas são apresentadas por inteiro, sendo tocadas e cantadas por mais de 4 minutos sem interrupção. Em uma cena, a atriz Markéta Irglová caminha pela rua cantando sem vergonha nenhuma, exatamente como um filme do gênero. Essa mistura entre filme dramático e musical dá origem a um projeto independente e imperdível.

O que move a trama é a relação, totalmente por acaso, de um músico de rua com uma jovem mãe solteira. A simpática narrativa contém figuras comuns, que lutam para que seus sonhos sobrevivam e, quem sabe um dia, se tornem realidade. Essa banalidade se aproximando cai por terra quando o roteiro discuste sobre as escolhas de seus personagens e de como definimos nossas vidas. O título fala justamente sobre as experiências que optamos seguir ou esquecer pelo caminho. A cena final é tão poética e triste que parte o coração dos que vêem a vida de forma mais romântica.

Nota: 8,0

Os Indomáveis


Quem diria que em plenos anos 2000 o diretor de Garota, Interrompida iria surpreender o mundo com um faroeste digno dos áureos tempos do gênero. Tudo bem o projeto é uma refilmagem de Galente e Sanguinário, de 1957, mas a produção é tão fiel a construção desses clássicos que consegue funcionar hoje como poucos filmes de aventura possuem competência.

Ben Wade, um perigoso líder de gangue (Crowe), é capturado e levado por um grupo a uma cidade distante, onde será embarcado em um trem rumo ao seu enforcamento. O trajeto aparetemente simples revela-se cheio de obstáculos e o cerco vai se fechando até o combate final na estação ferroviária.

Apesar da alegoria de ação, a trama revela-se um drama emocionante em que as figuras tão opostas do mocinho e do bandido misturam-se, e cada um encontra em seu oponente admiração. É impossível desgrudar da tela quando os dois astros dividem a cena em um poderoso duelo de personalidades. O resultado é um filme enérgico intercalado com um bangue-bangue de primeira.

Nota: 8,0

Kung Fu Panda


Promovendo há mais de um ano a animação Kung Fu Panda, a Dreamworks atingiu o seu objetivo nas bilheterias. A produção rendeu mais de 200 milhões de dólares somente em território norte-americano e, claro, caiu no gosto da criançada. Isso mesmo, da criançada, porque o público mais velho, que está voltando a assistir desenhos animados após os filmes nada infantis da Pixar, acaba se decepcionando.

O melhor de Kung Fu Panda é a sua inquestionável qualidade técnica. A animação bebe na fonte do desenho mais clássico, não tão aparentemente computadorizado, onde ganha ares modernos quando utiliza “movimentos de câmera” impressionantes, como nas seqüências de luta extremamente rápidas, e ainda assim, fáceis de acompanhar. Por se passar na China, a cultura oriental é explorada do início ao fim, porém, sempre evidenciando o cuidado com os perfeitos detalhes de recriação - um trabalho deslumbrante.

O único pecado do longa-metragem é ser mais direcionado as crianças – o que pode ser comprovado no roteiro previsível que lembra um conto de fadas. Pecado para nós, adultos, apreciadores de cinema e que estamos mal acostumados com os excelentes filmes do estúdio concorrente. De qualquer forma, Kung Fu Panda é divertido, possui poucas, mas ótimas tiradas e se você mantém aquele espírito de criança, não vai se arrepender.

Nota: 6,5

A Família Savage


Indicado ao Oscar de Melhor Roteiro, A Família Savage é bastante original porque aborda um tema até então pouco visto no cinemão de Hollywood. Sendo um drama bem intimista, encabeçado por dois ótimos atores (Laura Linney e Phillip Seymor Hoffman), a produção foge do comum ao relatar de forma bastante real a experiência de dois irmãos com o pai sofrendo de demência.

Quando o velho escreve na parede com o seu próprio cocô, percebe-se que a situação é agravante. Wendy Savage (Linney) fica extremamente culpada por deixá-lo em um asilo e torna-se obcecada em procurar casas de reabilitação cada vez melhores. Enquanto isso, seu irmão Jon (Hoffman) quer livrar-se o mais rápido das obrigações com o pai e seguir sua rotina de trabalho e lazer.

O drama cutuca o público ao mostrar que os pais acabam se tornando um fardo no final de suas vidas. O peso de largá-los em uma clínica ou de vê-los em estados deploráveis são questões trabalhadas no roteiro. A Família Savege é um filme triste, bonito e seus maiores simpatizantes devem ser aqueles que estão passando por situações parecidas.

Nota: 7,4

Efeito Dominó


A história real desse impressionante caso de assalto na década de 70 é o conteúdo perfeito para render um filme de ação acima da média, e é exatamente isso que Efeito Dominó consegue.

O grande roubo é planejado por um grupo de ladrões trambiqueiros que pretende saquear o banco Baker Street, em Londres, no final de semana da troca do sistema de alarme. A grande surpresa da trama aparece quando os policias e a mídia descobrem o assalto e acabam acobertando o golpe porque fotos incriminadoras da família real estavam no cofre e ameaçam vir à tona. O episódio também ficou conhecido como “o caso do walk talk”, algo que somente vendo o filme para entender.

A linguagem acelerada cai como uma luva, entrelaçando as muitas tramas paralelas e nunca deixando o interesse do espectador diminuir. O estilão lembra Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes, só que mais comercial – o que não impede de ser elegante e muito divertido. A produção é um entretenimento adulto, com o típico charme inglês e tensão no ponto. Efeito Dominó é um dos melhores filmes de assalto a banco já feitos.

Nota: 8,0

Batman - O Cavaleiro das Trevas


O Cavaleiro das Trevas é para Batman Begins(2005) o que Batman – O Retorno(1992) é para Batman (1989). A evolução do primeiro para o segundo filme nas duas séries do herói é impressionante.

Tim Burton dá nova cara para as aventuras do personagem com a inclusão de vilões perfeitos, como a Mulher Gato e o Pingüim, e ainda traz um visual fantástico. Christopher Nolan eleva os filmes baseados em histórias em quadrinhos para produções complexas, no nível de Seven, cuja raiz do mal é um serial killer esperto e implacável.

Se não fosse a presença do Homem Morcego, certamente, O Cavaleiro das Trevas estaria na prateleira como um filme policial bastante realista. A tese defendida pelo Coringa é atual e bem elaborada. O roteiro consegue valorizar os vários personagens, tornando-os úteis para esse quebra-cabeça minuciosamente arquitetado.

Falando no grande astro do projeto, Heath Ledger literalmente na pele do Coringa, toma conta da produção e ofusca o protagonista do título. Sua versão insana de um dos maiores vilões das HQs é brilhantemente interpretada e fortificada pela construção de um personagem rico em conteúdo. Como é de conhecimento geral, Ledger faleceu em janeiro desse ano, no auge de sua carreira, sendo considerado um novo mito do cinema. A mobilização dos fãs do filme e do ator pode garantir uma indicação na próxima festa do Oscar. Bem provável, e merecido.

O outro vilão do projeto, Aaron Eckhart como Duas Caras, mostra-se competente na figura trágica do promotor Harvey Dent. A trama envolvendo seu personagem poderia atrapalhar a história, já que o antagonista do Batman nesse filme é o Coringa. Em vez disso, ele acrescenta densidade importantíssima para a narrativa, comprovando que não importa o número linhas de desenvolvimento em uma produção, porque o que vale mesmo é saber trabalhar com todos esses elementos de forma harmoniosa no roteiro.

Uma diferença visível logo na primeira cena de O Cavaleiro das Trevas, é o início “adrenalinesco”, com aventura de entrada seguindo até o término no mesmo ritmo. Não há cuidado em mostrar um prólogo (vide Batman Begins) e nem o que aconteceu com os personagens do primeiro para o segundo filme, já que isso, na verdade, não precisa. Uma escolha pouco comum e muito bem acertada.

Com mais de duas horas e meia, o espectador não sente o peso da extensa duração. É, no mínimo, inusitado perceber que um dos melhores filmes do ano é uma aventura de super herói. O tom realista do projeto esconde esse personagem cartunesco e procura descartar o que Batman Begins tinha de absurdo, deixando em cena somente fatos que sejam realmente possíveis. O único momento em que a trama destoa da realidade é quando Bruce Wayne utiliza celulares com uma tecnologia avançada para poder enxergar imagens de lugares onde não está. O ato incomoda imensamente porque destoa do andamento excepcional visto até ali.

Quanto ao resto, o filme não poderia ser melhor. Christian Bale e o estelar elenco de apoio, como Gary Oldman, Maggie Gyllenhaal, Morgan Freeman e Michael Caine, sentem-se em casa. Em um nível superior, o diretor orquestra com um domínio invejável essa peça fascinante sobre a maldade humana, comprovando definitivamente que o Homem Morcego não é sinônimo de filme de super herói, é muito mais que isso.

Nota: 8,0

O Nevoeiro


Após ser adiado diversas vezes, O Nevoeiro chega ao Brasil no final de agosto – quase um ano depois de seu lançamento oficial nos Estados Unidos. Tido como mais um filme de terror, o longa-metragem deve acabar tomando o mesmo caminho do primeiro Jogos Mortais, que sofreu imenso atraso, teve mínima divulgação, ganhou poucas cópias no país e conseguiu dentro dessas limitações um ótimo público nas salas de cinema.

Talvez O Nevoeiro não seja tão influente para originar uma série de filmes como o terror pornográfico de 2004, mas sem dúvida, é revolucionário no gênero. São filmes como esse que elevam o conceito de entretenimento do medo a verdadeiras obras-primas.

Em uma cidade do interior dos EUA, um grupo de moradores fica ilhado no supermercado quando um forte nevoeiro trás consigo criaturas sanguinárias. Foi justamente essa história de Stephen King que o diretor Frank Darabont, de Um Sonho de Liberdade e À Espera de Um Milagre, decidiu adaptar após seus sucessos anteriores.

O longa-metragem é um brilhante exercício de como contar uma história. Mesmo com a trama de monstros, são trabalhadas questões relevantes como a luta pela sobrevivência e o fanatismo religioso, este último personificado pela ótima atuação de Márcia Gay Harden. Outro mérito do projeto é o clima sufocante de tensão. O Nevoeiro é, como poucos filmes conseguem, de deixar o espectador roendo as unhas do início ao fim.

As criaturas surgem em forma de insetos, aranhas, monstros voadores e outros repletos de tentáculos. Por vezes os efeitos são perfeitos, já em alguns momentos parecem um pouco computadorizados – ainda assim, não é nada que interfira no andamento do filme. Vale lembrar que existe outra produção com nome parecedo: o terrível A Névoa, de 2005. Não confunda!

Os fãs de suspense e terror podem respirar aliviados! Frank Darabont trouxe um filme que mistura essas características de forma crível e inteligente, fazendo juz ao conto do mestre Stephen King. Feito raro no cinema! A ameaça de lidar com o desconhecido não é só sentida pelas pessoas acuadas no supermercado, o espectador do outro lado da tela sente o mesmo desespero daqueles que estão frente a frente com a morte.

Nota: 9

Fim dos Tempos


O indiano que já dominou as bilheterias do mundo inteiro erra a mão em seu mais novo projeto. Se em Dama da Água, M. Night Shyamalan já não tinha se saído tão bem, em Fim dos Tempos o fracasso só não é retumbante devido ao roteiro. No longa de 2006, a história não convenceu o público e os críticos, porém era amenizada com o estilo elegante e a direção segura do cineasta. Dessa vez, inverte-se a situação: os quesitos técnicos deixam muito a desejar enquanto a trama mostra-se interessante.

Para evitar os tradicionais spoilers que sempre vazam quando o nome do diretor está envolvido, vale a pena apenas saber que uma onda de suicídios inicia na costa leste dos Estados Unidos e espalha-se pelo país. A busca pelas explicações seguram o espectador até o último segundo antes dos créditos finais.

O suspense não é tão chocante quanto é sugerido no trailer, mas as seqüências com mortes causam certo impacto. Aliás, as melhores tomadas são reveladas no trailer do filme, estragando muitas das surpresas. A trilha sonora prejudica demais a ambientação dessas cenas e o clima de tensão que poderia ser sufocante não é levado a clímax nenhum. As músicas insossas parecem que desandaram e não provocam sustos ou nervosismo.

Chama muito a atenção a péssima atuação dos atores, especialmente Zoey Deschanel. Apesar de linda, suas expressões soam forçadas, nem um pouco naturais, até mesmo sua cara de medo é apática. O ótimo Mark Walhberg é o único que se salva, e mesmo assim é uma de suas piores interpretações.

A culpa vai toda para o diretor. O argumento original perde força com o aparente cansaço do “dono” do filme. Classificado por Shymalan, como um “filme B assumido”, Fim dos Tempos possui caráter amador, mas é de seu relaxamento. Para curtir ao máximo, pode-se tentar deixar de lado essa lista de fatores e embarcar na idéia do filme. Sem avaliar o potencial da epidemia realmente acontecer, ainda assim dá para se divertir.


Nota: 7,0

Três Vezes Amor


Ryan Reynalds aos poucos mostra-se mais seguro em suas atuações. Em Três Vezes Amor, ele convence como o pai de Abigail Breslin e ainda apresenta o amadurecimento de seu personagem em vários flahsbacks.

O resumo dessa mistura de drama com comédia romântica é apresentado sobre a perspectativa de Will Hayes, um homem de 30 e poucos anos que está se divorciando da esposa e tem uma filha pequena. Ele relata para a menina suas aventuras amorosas e ela tenta descobrir qual das três mulheres que Will se envolveu é a sua mãe.

Entra em cena a loira, a ruiva e a morena: todas são uma delícia. O time é composto por Elizabeth Banks, Isla Ficher e Rachel Weisz. Rapaz de sorte hein! Quanto ao resto, o filme é até interessante, mas estende-se demais. Sem grandes ousadias, é mais uma dramédia que tenta ser simpática. Dá para assistir, mas não entusiasma.

Nota: 5,8

O Banheiro do Papa


A chegada do Papa João Paulo II promete movimentar a pequena cidade de Melo, no Uruguai. As famílias mais necessitadas enxergam nesse evento o potencial de sair da amargura, e assim, gastam suas economias para montar bancas de comidas para os visitantes. Beto é um deles, mas diferencia-se ao construir um banheiro no quintal de sua casa para atender os turistas.

A esperança de melhorar de vida é elemento fundamental dessa co-produção entre Uruguai e Brasil. As cenas gravadas nos pampas de Bagé não tornam o filme um produto nacional, o projeto é estrangeiro, difundindo a cultura daquele povo sofrido vivendo na fronteira entre os dois países.

Mesmo com dificuldades, o cinema uruguaio vem ganhando destaque, principalmente, após o longa-metragem Whisky. Este aqui é um filme modesto e bastante realista, onde a plasticidade da fotografia cinematográfica não é fortemente explorada porque opta-se por imagens cruas de maior significado.

Baseado em um episódio real, O Banheiro do Papa é dirigido por César Charlone e Enrique Fernández, que souberam valorizar a trama com planos cinematográficos simples e belos. Uma história triste sobre um povo esquecido.

Nota: 7,0

A Ilha da Imaginação


Nim´s Island tem lugar garantido para reprisar várias vezes na tradicional Sessão da Tarde. Com classificação livre, o filme é destinado as crianças. A garotinha Nim (Abigail Breslin, de Pequena Miss Sunshine) mora em uma ilha secreta do Pacífico junto com o seu pai Jack, interpretado por Gerard Butler. Em uma de suas viagens de pesquisa, Jack, um biológo de renome, desaparece e deixa Nim sozinha na ilha. Sua única comunicação é com a autora de seus livros favoritos (Jodie Foster), que decide enfrentar seu medo de sair de casa para ajudar a menina na ilha.

Os elementos fantásticos são predominantes no roteiro: Nim se comunica com os animais e a escritora conversa com o personagem dos livros. O clima de fantasia é constante, como por exemplo, a garota escala um vulcão sem equipamento de segurança. Até mesmo os turistas são representados de forma caricata. É importante que o espectador encare o filme sem esperar que tudo seja verdadeiro e possível.

O título nacional, A Ilha da Imaginação, não encontra sentido já que nada é imaginado. Os ótimos atores tentam dar maior credibilidade ao projeto, mas a história é bem infantil e não há nada de extraórdinário. Senti a necessidade de uma mensagem, algum tema interessante a ser desenvolvido no roteiro. A produção é bem escapista, só contém “aventura” e uma trama simplista. O filme é bonitinho, mas não chega a lugar nenhum. O melhor dele é o simpático lagarto.

Nota: 4,5

Wall-E


Os críticos não pouparam elogios para essa nova animação da Pixar em parceria com a Disney. É praticamente garantido o prêmio na devida categoria no Oscar, sendo até mesmo cogitado para concorrer nas demais. Tanta paixão conferida à Wall-E só pode ser explicada porque esse é o “desenho” mais adulto lançado nos últimos anos.

Má notícia para a criançada! Com poucos diálogos, narrativa lenta com tom poético e ainda trazendo uma crítica à sociedade americana, o filme não será tão apreciado pelos baixinhos. A atenção deles será voltada somente no personagem título, onde suas características prometem encantar o público. O caso de amor do personagem é outro fator que desperta o interesse infantil.

Ao contrário do planejado pelos estúdios, Wall-E revela-se um robô mais que atrapalhado, ele é idiota mesmo. As atitudes e o jeito pateta incomodam, não despertando o carisma irresistível pretendido. O personagem ainda repete milhares de vezes seu nome, ao ponto de tornar a palavra insuportável. Essa repetição constante desse e de outros elementos massacram a inteligência do público.

Um fato curioso é que no início da produção os humanos são apresentados com atores reais e quando chega ao meio do projeto, tornam-se animados. Escolha sem explicação! Como é uma animação, poderia ser inteiramente nesse formato ao invés de trocar no decorrer do filme.

Quando ameaça entregar um final ousado e condizente com o roteiro e lógica universal, o filme não vai fundo na idéia e termina com o clássico final feliz. Claro, não estamos assistindo um filme para adultos! Esse é o seu principal problema. A falta de um público alvo torna-o tão abrangente que não é uma experiência completa nem para as crianças nem para os mais velhos. Wall-E renderia mais como um curta ou média-metragem, dessa vez, direcionado para quem saberia apreciá-lo melhor.

Nota: 6,0