Crítica: O Vingador do Futuro


Na onda de refilmagens (remake), prelúdios (prequels), reinícios (reboots) e sequências (sequels), Hollywood lança mais uma produção que se baseia numa obra lançada no passado. O conto de Phillip K. Dick que rendeu o clássico da ficção científica, “O Vingador do Futuro”, com Arnold Schwarzenegger, ganha nova versão pelo olhar do diretor Len Wiseman (“Anjos da Noite”/“Duro de Matar 4.0”). Com um show de efeitos especiais, algumas mudanças na trama e um novo astro à frente do projeto, a refilmagem pretende agradar a nova geração sedenta por deslumbrantes cenas de ação.

Ao invés de centralizar a história no planeta Marte, como no original, esta refilmagem se passa em uma Terra arrasada, cujas imagens são uma mistura de “Blade Runner” com “Minority Report”. O protagonista, Douglas Quaid (Colin Farrell), é um operário que começa a questionar o sistema opressor e, a fim de fugir da realidade, procura a empresa Rekall para participar de um experimento que transforma sonhos em uma simulação quase verdadeira. Algo dá errado e ele descobre ser um espião procurado pela polícia.

O filme coloca em dúvida se a nova identidade de Quaid é ou não uma consequência do procedimento pelo qual foi submetido. A provável reativação dessa parte da memória que havia sido apagada possibilita incessantes cenas de aventura. Duas delas se destacam: a sequência em que ele luta pela primeira vez com sua esposa (Kate Beckinsale), com início dentro no apartamento e depois por todo bairro; e, também, a tensa perseguição entre caixas de metal que servem como elevadores. Fora esses dois momentos, faltam emoção e adrenalina na caçada ao protagonista.

O que surpreende no novo projeto é a rica concepção do futuro, com uma fantástica direção de arte e os efeitos mais deslumbrantes e convincentes dos últimos anos no cinema. Em comparação com o filme de 1990, a refilmagem dá um nocaute em tecnologia. As imagens do primeiro longa-metragem envelheceram bastante nesses 12 anos e hoje podem ser consideradas trash. O investimento de 125 milhões de dólares na produção de 2012 é justificável.

Na substituição do protagonista, Colin Farrell cumpre seu papel como herói - apesar de certas vezes parecer no piloto automático - e se sai melhor que suas colegas de cena: Kate Beckinsale está canastrona demais como a vilã e Jessica Biel permanece apática ao meio das correrias e explosões. Mas, ainda assim, o principal problema do projeto é a história que acaba sendo um total clichê, uma desculpa para reproduzir muitas cenas de ação. Sem conseguir torcer pelo personagem, “O Vingador do Futuro” pode ser um passatempo facilmente esquecível logo após a sessão.

Nota: 6,8

O Ditador


Sacha Baron Cohen é daqueles atores que realmente vivem o personagem. Suas crias mais famosas, Borat e Bruno, são figuras semelhantes ao real esculpidas à base de estereótipos e preconceitos. Essa dupla enganou muitas pessoas em 2006 e 2009, respectivamente, através de falsos documentários (mockumentary) promovidos por Cohen. Em seu quarto projeto autoral (já que assina também como produtor e roteirista), ele utiliza a representação de um tirano para criticar regimes totalitários, guerras nucleares, técnicas de tortura e o medo de terroristas por parte dos norte-americanos. O contexto político tem uma missão específica: fazer rir.

Diferente dos anteriores, "O Ditador" é um filme de ficção. Não há nenhuma linguagem cinematográfica que remeta ao estilo de documentário ou que transmita a sensação de que as cenas são verdadeiras. Na trama, Cohen interpreta o almirante Aladeen, governante da República de Wadiya, que arrisca a própria vida para que a democracia nunca chegue ao país que ele amorosamente oprime. Em visita aos Estados Unidos, Aladeen é sequestrado e tem sua marcante barba cortada. Ele consegue fugir, mas, com o visual diferente, ninguém o reconhece como líder de Wadiya. Acaba recebendo a ajuda da militante Zoey (Anna Faris) e passa a trabalhar de atendente em uma cooperativa ecológica, sem deixar de planejar sua volta ao trono.

Uma novidade bem-vinda do projeto é a participação de astros como Ben Kingsley, Megan Fox, John C. Reilly e Anna Faris. Mais que oferecer seu trabalho artístico, esse time demonstra que apóia a mensagem do filme. A figura de um ditador opressivo, racista e ofensivo torna-se válida para qualquer líder mundial que queira acabar com os direitos dos cidadãos. E, o bom, é que o roteiro defende essa conduta até o final, sem promover uma transformação de caráter do vilão.

O filme tem momentos realmente engraçados. Possui diálogos absurdos que invariavelmente provocam o riso, mas esse humor inteligente não é constante. Estão no conjunto cenas completamente sem graça, escatológicas e ridículas; porém, ainda bem longe das piadas de mau gosto de Bruno, por exemplo. Se não fosse por sequências alongadas e grotescas, como a do parto, da descoberta da masturbação e da luta com peitos superpoderosos, "O Ditador" poderia ter um resultado mais consistente e satisfatório.

Por outro lado, é preciso creditar a Sacha Baron Cohen a ousadia em produzir um longa-metragem politicamente incorreto, repleto de humor negro e que critica ferozmente os Estados Unidos. Nesse quesito assemelha-se a "Borat – O Segundo Melhor Repórter do Glorioso País Cazaquistão Viaja à América". Em comparação aos outros projetos, "O Ditador" ainda é o mais comercial em fórmula, com uma história redondinha, e com maiores chances de agradar o grande público.

Nota: 7

Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge


Cercado de expectativas, a conclusão da trilogia do Batman, O Cavaleiro das Trevas ressurge, consegue dar fim à história do Homem-Morcego com uma brilhante jogada: conectar os dois filmes anteriores e formar uma trinca perfeitamente ajustada sobre o herói mais sombrio das HQs. O último capítulo da saga adota o tom épico e despede-se dos personagens de Gothan City com um quebra-cabeças típico do diretor Christopher Nolan.

O principal conselho antes de conferir esta nova aventura é reassistir a Batman begins e O Cavaleiro das Trevas. Estando atualizado com os dois filmes, o espectador certamente não irá perder as diversas relações que o terceiro longa-metragem promove com os capítulos iniciais. Figuras marcantes como a de Espantalho e Ra's Al Ghul retornam em importantes momentos da produção.

O ponto de partida da trama ocorre oito anos depois do herói ter assumido a culpa pelo assassinato de Harvey Dent. Com a criminalidade quase zero, a cidade não precisa mais de Batman. O aparecimento do brutamontes Bane (Tom Hardy), a fim de promover um ajuste de contas com Gothan City, faz o Homem-Morcego deixar o seu exílio e lidar com uma real e destruidora ameaça.

Mais uma vez, o roteiro introduz novos personagens à história: o policial Blake (Joseph Gordon Levitt), a ladra Selina Kyle (Anne Hathaway) e a executiva Miranda Tate (Marion Cotillard). E o resultado não poderia ser diferente. A intrincada teia de personagens funciona tão bem que a reivenção da Mulher Gato é plenamente satisfatória (superar a imagem fetichista de Michelle Pfeifer em Batman - O retorno seria impossível). Além disso, o destino conferido a Blake é uma das escolhas mais acertadas da produção. Somente a presença de Miranda que não se encaixa - e até compromete - a história.

O vilão Bane também merece alguns apontamentos. Se por um lado, ele é imponente e imbatível, como demonstra na sensacional sequência de invasão a um estádio de futebol ou quando luta ferozmente contra o herói do filme, por outro, ele é extremamente fraco, já que a risível revelação de suas motivações acaba enfraquecendo e desprezando o personagem. Além do mais, Bane não é tão assustador e impactante como deveria ser o último adversário do Batman.

Outros tropeços do projeto são as cenas de luta, que certas vezes não convencem. Em um momento, Batman precisa lutar contra vários capangas do vilão e, ao contrário do natural, os homens armados preferem esperar que o herói bata em cada um deles e, quando partem para o ataque, optam por proferir coronhadas ao invés de tiros. Extramemente artificial. Falso também é a forma como as participações de Miranda e Bane são finalizadas no longa-metragem.

Apesar desses (pequenos) pontos falhos, o derradeiro capítulo possui alta carga dramática, destaque para as cenas com Michael Caine, abusa de tecnologia, como exemplo o batmóvel à la nave espacial, conecta as aventuras anteriores de maneira precisa, tornando a trilogia redondinha e empolga com em seu combate final, no qual Gothan é levada sem piedade à destruição. Apesar de um pouco cansativo - o filme tem nada menos que 164 minutos - o ritmo calculadamente tenso só é afetado por um instante, quando o herói é capturado e preso. Fora isso, a sessão desenrola-se de forma concisa.

O diretor encerra uma série que ultrapassou a barreira do puro entretenimento das aventuras de super-herói e apostou na profundidade psicológica dos habitantes deste fantástico universo. Próximo da realidade, a reivenção do Batman no cinema conquistou até mesmo quem não era fã dos gibis. E, apesar dos últimos minutos deixarem a dúvida sobre a continuidade da lenda do Homem-Morcego, o retorno de Bruce Wayne e sua Gothan City só será devidamente descoberto nos próximos anos. Enquanto isso, sua saga fica muito bem representada pelos três filmes de Nolan.

Nota: 7,9

Solteiros com Filhos


Maturidade no cinema sempre é bem-vinda. “Solteiros com Filhos” destaca-se por ser um entretenimento sincero sobre os relacionamentos modernos. Discute o sexo entre recém-casados, sexo entre pais e sexo entre amigos. Três estágios diferentes da vida que são experienciados pelos casais que formam o mesmo grupo de amigos. Na faixa dos 30 e poucos anos, esses homens e mulheres servem de espelho para o que significa a vida adulta e como a presença de um filho pode interferir na felicidade e no amor que sentem um pelo outro.

Um time de astros em ascensão - a maioria oriunda do sucesso “Missão Madrinha de Casamento” -, compõem esse quadro de pura análise comportamental. O casal Leslie (Maya Rudolph) e Alex (Chris O´Dowd) deixaram os filhos tomarem conta e estão sempre esgotados. Já Missy (Kristen Wiig) e Ben (Jon Hamm) substituem o desejo sexual pelas provocações mútuas quando o primeiro filho surge no pedaço. Ao observar esses dois relacionamentos, os amigos Julie (Jennifer Westfeldt) e Jason (Adam Scott) decidem burlar as chatices advindas do casamento e ter uma criança, mesmo sem formarem um casal.

Apesar de possuir boas cenas cômicas, o que nutre “Solteiros com Filhos” é o drama. O roteiro formado por diálogos afiados e o elenco extremamente carismático contribuem para formar um filme agradável e comovente. O ápice é a tensa sequência de discussão entre Jason e Ben durante as férias em grupo. Verdades são ditas sem pudores e mostram as reais intenções do projeto. Quem se sobressai praticamente todo tempo é Jennifer Westfeldt (“Beijando Jessica Stein”), encatadora como a protagonista, que ainda assina como roteirista e diretora do filme.

O excelente longa-metragem tem apenas um deslize: os 20 minutos finais. O encerramento aposta em clichês típicos de comédia romântica e estraga o que poderia ser um projeto mais verdadeiro e ousado. Ao mudar de rumo, transmite um recado que desde o início parece ser contra. Se investisse mais na linha dramática, poderia arrancar algumas indicações a prêmios, como foi o caso de “Minhas Mães e Meus Pais”, que concorreu ao Globo de Ouro e ao Oscar.

Ainda assim, “Solteiros com Filhos” não perde sua força. É uma deliciosa e inteligente comédia dramática que provoca questionamentos interessantes para além das dúvidas sobre paternidade. Vale também por trazer bons (e novos) atores da comédia americana em papéis mais humanos.

Nota: 7,9