Era Uma Vez...


Os contos de fantasia teimam em começar com o tradicional “Era Uma Vez…”. Essa escolha tem o intuito salientar o conteúdo lúdico da história, fruto da imaginação do autor e de sua liberdade poética. A mesma expressão é utilizada como título para o novo filme de Breno Silveira (diretor de “Dois Filhos de Francisco”) justamente para demarcar que o romance do pobretão D com a patricinha Nina é um conto de fadas repetido e previsível.

Ele mora na favela do Cantagalo e trabalha diariamente em um quiosque na praia do Rio de Janeiro. De seu recanto, observa a bela Nina entrar e sair do prédio da frente, até o dia em que a salva de um assalto. A aproximação deles é inevitável e logo os dois se apaixonam, porém a relação não demora para ser abalada pelas gritantes diferenças sociais e o mascarado preconceito.

Quem já não ouviu essa história? Realmente, “Era Uma Vez…” é um filme do qual todos sabem o que vai acontecer na tela, só que ainda assim, a história acaba surpreendendo o público e revelando ser uma das melhores produções nacionais dos últimos anos. O feito está relacionado com a atualização da trama, romantizada em seus núcleos para sensibilizar o espectador, injetando gás para temas tão discutidos e desgastados no dia-a-dia, como a violência no morro, o caos urbano e a falsa moralidade.

Também não se deve tirar o mérito do entrosamento perfeito entre os atores Thiago Martins e Vítria Frate, que dão sustentação vital ao romance desafiador e quase impossível de um garoto pobre com uma menina rica. Os dois juntos emocionam e levam às mais intençãs emoções, sendo ainda mais tocante que o filme anterior do diretor.

Breno Silveira demonstra em seu segundo longa-metragem que tem domínio completo pela sua obra, criando um estilo evidente e próprio de humanização dos personagens. “Era Uma Vez….” pode ser considerado uma espécie de Romeu e Julieta à brasileira, com doses cavalares de realidade e amor. A intensidade do projeto leva o público ao total comprometimento com a trama, fazendo-o sair da sessão inchado de tanto derramar lágrimas. E talvez essa troca de sensações e cumplicidades faça com que algumas percepções de mundo sejam transformadas. Por isso, e por tudo mais que você só irá descobrir ao assistir o filme, é que “Era Uma Vez…” não pode ficar nem mais um segundo parado na estante da locadora.

Nota: 9

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