Crítica: O Lugar Onde Tudo Termina


“O Lugar Onde Tudo Termina” marca o reencontro do diretor Derek Cianfrance e o ator Ryan Gosling. A dupla esteve junta no drama “Namorados para sempre”, primeiro longa-metragem do cineasta. Nessa segunda incursão cinematográfica, Cianfrance manteve o tom realista e delicado, criando uma obra profunda e humana sobre pais, filhos e consequências. Uma saga familiar multigeracional da qual ninguém sai impune. 

O filme é claramente dividido em três atos. O primeiro – e o mais interessante – envolve o motociclista de globo da morte, Luke (Gosling) que, para oferecer melhores condições para seu filho, torna-se um ladrão de bancos. O segundo é sobre um  policial novato na corporação (Bradley Coooper) que vira herói do dia para a noite. A terceira parte é sobre dois jovens que carregam o peso do destino nas costas. 

Escrito por Cianfrance e Ben Coccio, o roteiro aborda momentos que definem a vida dos personagens. São decisões e  consequências que afetam, inclusive, gerações posteriores. Dessa forma, os dois primeiros atos preparam para o derradeiro capítulo, em que tudo colide, numa acentuada catarse de sentimentos proferida por um personagem que vem a ser o reflexo do passado. 

Parte da intensidade do projeto deve-se ao elenco. Gosling, no auge de sua carreira, encontra-se hipnótico em cena, conferindo a sua participação o ponto alto do filme. Cooper segue a frutífera investida em papéis sérios (“As Palavras”, “O Lado Bom da Vida”) e mostra-se mais uma vez competente. Completando o time, Eva Mendes surpreende como Romina, par romântico do motociclista e talvez a personagem que mais sofre ao longo dos três atos.  


“O Lugar Onde Tudo Termina” configura como mais um êxito do cineasta. Apesar das partes divergirem em qualidade – a central é a mais fraca -, torna-se difícil, em qualquer momento, tirar os olhos da tela. O diretor e roteirista constrói uma trama dramática e nervosa, interligada pela sensibilidade tocante com a qual apresenta as figuras que criou. Por este especial exercício, Cianfrance é um nome para ficar atento no futuro. 

Nota: 7,8

Crítica: Guerra Mundial Z


Lembra daquela cena no filme "Independence Day" em que a população está nas ruas, presa no tráfego, tentando fugir, e aparece uma nave alienígena? Na abertura de "Guerra Mundial Z", a sequência praticamente se repete, em um grau de tensão mais elevado. A ameaça é uma epidemia que transforma as pessoas em zumbis. Ao fim da rua, escuta-se uma explosão e o pânico se alastra, somado ao ataque de inúmeras criaturas sedentas por sangue. 

O início arrebatador do novo longa-metragem de Marc Foster ("Em Busca da Terra do Nunca") concentra-se em apresentar o trágico cenário que se sucede quando uma contaminação em nível mundial atinge à raça humana. Remete, em certos momentos, a produções como Contágio e 2012, conforme a gravidade apocalíptica adotada. Inclui-se ao quadro assustador, uma trilha sonora pesada que pontua a trama, aumentando a dose de adrenalina. 

Na linha de frente do projeto, Brad Pitt interpreta Gerry Lane, um ex-investigador da Organização das Nações Unidas (ONU), que havia se aposentado e estava cuidando da esposa e das duas filhas. O agente é obrigado a voltar a ativa para garantir a segurança de sua família em um navio militar. Assim, Lane viaja pelo mundo na tentiva de encontrar a cura para a pandemia. 

As habilidades insubstituíveis do protagonistas, constantemente citadas por seu superior, nunca vêm a tona. Seu diferencial é apenas alguns músculos e uma constatação que fica evidente para qualquer observador. Para chegar a essa conclusão, ele vai à Coreia do Sul e à Israel – dois momentos em que o longa-metragem perde o fôlego, investindo em situações banais. Volta a ficar interessante no último ato, passado em um laboratório clínico, com sequências de roer as unhas.

Temas característicos de filmes de zumbi como epidemia, luta pela sobrevivência e mutações estão presentes em "Guerra Mundial Z", mas a produção é, essencialmente, um filme de ação. Distante do terror, resulta em um filme catástrofe que substitui o aquecimento global e a fúria da natureza pela ameaça de mortos-vivos. Outro fator que deixa evidente a fuga do gênero original é a ausência de sangue, mesmo ao decepar um braço ou esmagar uma cabeça. A violência implícita foi a alternativa para garantir a censura de apenas 12 anos, que possibilita uma diversão para quase toda família.

"Guerra Mundial Z" consagra a alta popularidade das criaturas devoradoras de miolos, que recentemente receberam animações ("Paranorman"), seriados ("The Walking Dead"), filmes românticos ("Meu Namorado é um Zumbi"), inserção em clássicos da literatura ("Orgulho e Preconceito e Zumbis") e agora um blockbuster no currículo. A produção milionária – e com claro objetivo de lucro – resulta em duas horas de pura diversão. E, ao menos, não ofende o gênero. 

Nota: 7,7