Sinédoque, Nova York


Assistir “Sinédoque, Nova York” não é tarefa fácil. Digo isso porque fui muito bem informado a respeito do filme e, já sabia de antemão que a realidade era distorcida conforme a visão do personagem de Phillip Seymor Hoffman. Assim, tinha conhecimento prévio da casa que está em chamas eternas (e qual era sua metáfora), sabia que o personagem central iria interagir com seu alter-ego personificado na figura de um idoso chamado Sammy, sabia também da passagem brusca do tempo, das várias mulheres na vida do protagonista e de sua obsessão sem limites com a idéia da morte. Mesmo com todas essas informações e outras mais, chegou um ponto em que perdi a direção do que estava vendo na tela.

O filme começa mostrando o relacionamento familiar de Caden com sua esposa e filha. Os diálogos e o desenvolvimento das cenas são originais e de um humor negro excelente, ganhando de imediato a confiança dos fãs do roteirista consagrado (e agora diretor) Charlie Kaufman. A narrativa avança cada vez mais interessante, porém, quando beira a metade do filme o espectador “normal” começa a ter dificuldades na tentiva de acompanhar os delírios do protagonista. Quanto mais se aproxima do final, mais confusa se torna a compreensão do que está sendo exibido.

Ao embarcar na proposta de “Sinédoque, Nova York” – assim como os demais filmes do roteirista – é preciso saber que não se trata de um filme convencional. Kauffman ganhou a admiração através dos ótimos “Quero Ser John Malkovich”, “Adaptação” e de sua obra-prima “Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças”. Nenhum deles é um longa-metragem padrão. Assim como essas criações, “Sinédoque” apresenta questões muito interessantes, como a eminência da morte, as realizações pessoais e o sentido da vida. O problema é a forma densa e confusa como esse conteúdo é compartilhado, afastando gradativamente o espectador de um contato maior com a película.

É difícil acreditar que no site IMDB a produção consta com nota 7,3 através de mais de 14 mil votos. Esse dado comprova que boa parte das pessoas gostaram do projeto (mesmo se tratando de um “filme-cabeça”). Será que realmente elas entenderam alguma coisa? Não quero fazer campanha para deixarem bem mastigado tudo que é apresentado na história (até porque sou contra), mas pelo menos peço que o roteiro seja ao menos compreensível. Por isso, ao término da sessão de “Sinédoque, Nova York” fiquei com a sensação de que perdi um grande filme. Talvez assistindo uma segunda vez seja mais elucidativo.

Nota: 6,5

Zumbilândia


Os zumbis estão comumente empapados pelo sangue de suas vítimas, perambulam famintos em busca de carne fresca, são capazes de transformar qualquer pessoa em um de seus semelhantes com apenas uma mordida e, além de tudo, são mortos-vivos devoradores de miolos. Com todas essas características, eles possuem requisitos suficientes para serem considerados assustadores.

A imagem dessas criaturas mudou quando, em 2004, foi lançado o filme “Todo Mundo Quase Morto”, que ridicularizava a classe zumbi, classificando-os como seres patéticos, lerdos e tão pouco ameaçadores. Na seqüência uma série de filmes aproveitou para inserir os monstrengos em comédias, vide “Fido – O Mascote”.

“Zumbilândia” utiliza os mortos-vivos para provocar o riso e aumentar a adrenalina do espectador. No filme, o planeta foi dominado por essas aberrações e as quatro únicas pessoas que parecem não ter sido infectadas se juntam para lutar pela sobrevivência. Essa mistura de comédia com ação proporciona um filme divertido, que satiriza com os clichês e os filmes de terror que não assustam ninguém. A linguagem da produção atrai pelo estilo acelerado e explícito, que pode ser comprovado logo no início com a explicação das regras de como se prevenir de um ataque de zumbi.

Destaque para o engraçado Tallahasse, matador “profissional” das criaturas e interpretado pelo doidão Woody Harrelson. A participação de Bill Murray também rende bons momentos.

Nota: 7,6

Avatar


Fã confesso de ficção científica, o diretor James Cameron vem tentando realizar sua obra mais grandiosa desde os meados da década de 90. Após o sucesso de “Titanic” parecia que “Avatar” finalmente ganharia a vida. O que atrasou a concretização foi o aprimoramento de uma tecnologia avançada suficiente para criar um ecossistema completo de plantas e animais, no qual um povo nativo com uma rica cultura e linguagem poderia soar verdadeiro.

A responsabilidade era grande para um dos filmes mais aguardados de todos os tempos, e o veredicto foi dado na estréia mundial da superprodução no dia 18 de dezembro de 2009. “Avatar” é uma experiência fantástica, de um visual deslumbrante e jamais visto na história do cinema. A tribo dos Navi´s, criada no sistema de captura de imagens semelhante ao de Gollum do “O Senhor dos Anéis”, imprime realidade absurda aos seres extraterrestres azuis e, quando os coloca interagindo com os humanos comprova sua perfeição.

O mundo criado por James Cameron é um universo impressionante, que mescla elementos gráficos de cair o queixo, como a variedade infinita de criaturas, com a densidade filosófica de crenças de um povo poderoso. O início do filme é justamente para apresentar essa civilização e seus costumes, e aos poucos, vão sendo introduzidas pinceladas da guerra que se anuncia.A longa duração do filme pode cansar o espectador, principalmente, pelos momentos arrastados no meio da produção. De tempos em tempos, as seqüências de ação movimentam a trama e retomam o ritmo acelerado. Essas cenas mais extasiantes remetem tranquilamente a um jogo de videogame e fica fácil imaginar como será o game baseado no longa-metragem.

Por mais que tente transmitir uma mensagem ambientalista e realizar um alerta sobre o futuro da Terra (podendo até gerar releituras para os dias atuais), “Avatar” é por essência um filme de aventura e sua intenção nada mais é do que proporcionar ao público uma experiência cinematográfica envolvente e de encher os olhos. O direcionamento ficou tanto na estética que o roteiro tornou-se apenas um subsídio para poder criar este mundo fantástico. Nesse sentido, precisaria de um leve tratamento no texto para torná-lo mais enxuto, deixando a adrenalina constante e elevando o projeto a um caráter mais poético.

“Avatar” é sem sombra de dúvidas uma evolução dentro das técnicas de efeitos especiais, porém ainda é cedo para considerar o filme revolucionário. Certamente, está longe de ser um novo “2001” ou “Star Wars”, como era a intenção do diretor. O custo de toda essa perfeição é tamanho que vai demorar bons anos para assistirmos uma produção como esta novamente. Por isso, compre seu ingresso e embarque na magia de James Cameron enquanto o filme está em cartaz. É difícil se arrepender.

Nota: 8

Lua Nova


Mais inexplicável que o sucesso da saga “Crepúsculo” é a existência de um filme/romance como “Lua Nova”. A estupidez da obra é tão grande que ofende qualquer espectador que tenha um pouco de massa cinzenta. A trama consegue estabelecer como base a clássica situação: “eu te amo mas vou te deixar”. Stephenie Mayer deve ter realizado uma pesquisa dos maiores clichês de todos os tempos e escolhido o vencedor para desenvolver esse livro.

Mesmo tentando superar a banal relação entre Bella e Edward, o filme também não consegue apresentar cenas que sequer sejam interessantes. Salvam-se apenas três sequencias entre as mais de duas horas de exibição: a primeira é o sonho de Bella logo depois dos créditos iniciais quando a própria se imagina envelhecida; a próxima cena é a passagem das estações do ano através das mudanças observadas na janela do quarto da protagonista e, por fim, a transformação de Jake em um lobisomem. O restante é uma perda de tempo total – e não vá achando que essas cenas salvam o filme, porque não salvam. Nem sequer valem o ingresso.

Com Edward afastado da jogada (ele mal aparece no filme), Jake serve de consolo para a jovem Bella, que passa a enxergar mais atrativos no garoto a partir do momento que ele corta o cabelo (!). Divida entre um vampiro e um lobisomem, Bella irrita a paciência do espectador com gritos de depressão sem fim ou crises existenciais intoleráveis.

Para movimentar a trama, surgem novos vampiros e uma trupe de lobisomens sem camisa. Talvez seja por isso o sucesso entre o público feminino: dois galãs (ambos aparecem praticamente despidos o filme todo) e esse time de lobisomens. A tentativa desesperada comprova a falta de atrativos da produção e deixa a platéia masculina ainda mais distante.

Assim como em “Crepúsculo”, as cenas de ação não empolgam – apesar do dobro do orçamento do primeiro filme. A afirmativa se comprova quando temos a aparição de Laurent (o vampiro de dreadlocks) que ao invés de deixar o público tenso, acaba apenas evitando que o sono tome conta do espectador. Sem falar nas sequencias de luta nas quais os vampiros viram fumaça durante os golpes. Haja paciência. Ou então, as cenas rodadas na Itália, que deveriam ser o ápice do projeto, terminam como o exemplo perfeito de anticlímax com locações filmadas em plena tarde com a luz do sol chegando a iluminar toda a sala do cinema. Espera aí... estamos falando mesmo de um filme de vampiros? Onde está o universo sombrio e apavorante?

O segundo filme segue deixando de lado as questões sobre os seres fantásticos (vampiros e agora os lobisomens) e opta por focar no mais simplório: o amor da insuportável Bella. Com tantas questões pendentes, a produção novamente ausenta-se das presas dos sanguessugas, da sede por sangue e do caráter sexual das criaturas da noite. Assim, os vampiros de “Crepúsculo” não chegam a ser ameaças em nenhum momento, são mortos-vivos totalmente desinteressantes. Deve ser por isso que Bella e Edward combinam tanto.

No término dos sofríveis 130 minutos, chega-se a conclusão que esse segundo capítulo é completamente dispensável para a saga, já que não apresenta nada de significante. Pode-se tranquilamente pular de “Crepúsculo” para “Eclipse” sem grandes perdas. “Lua Nova” deve agradar os fãs completamente cegos de amor pela saga, porque do resto é o pior filme do ano.

Nota: 2,0

Por favor, assistam “True Blood”.

Atividade Paranormal


A tentativa é repetir o que aconteceu dez anos atrás, quando um filme modesto chamado “Bruxa de Blair” pegou todos de surpresa aparentando ser real. Depois da “pegadinha” de 1999, ninguém mais cai em lances como esse - ainda por cima quando é distribuído pela Paramont Pictures.

“Atividade Paranormal” mostra a rotina de um casal que tem um espírito do mal vivendo em sua casa. O lance dos sustos é através de sombras, barulhos estranhos, pegadas, luzes que acendem e apagam. Fica até difícil imaginar onde foram gastos os 15 mil dólares de produção. Em cena, só temos o casal protagonista e duas aparições de um especialista em entidades e os “efeitos”, como fazer uma porta abrir ou se fechar sozinha, não chegam a custar um centavo.

O “buzz” deve-se aos fãs que assistiram o longa-metragem em festivais independentes e divulgaram nas redes sociais. A campanha de promoção foi justamente através do hotsite onde era possível solicitar a exibição do filme na sua cidade. O trailer sugestivo mostrando os sustos da platéia no cinema e os argumentos críticos estampados no cartaz anunciavam um dos filmes mais apavorantes da década. Uma bela jogada de marketing. Aguçar a curiosidade do público sempre dá certo: a bilheteria nos Estados Unidos foi assustadoramente alta.

Pensando no espectador, somente aqueles que nunca assistiram um bom filme do gênero vão se empolgar com o falso documentário. Além de uma produção caseira, com imagem tremidas, é preciso acompanhar a rotina de um casal chato, que ainda por cima é interpretado por fraquíssimas atuações. “Atividade Paranormal” é uma cópia fajuta de “Bruxa de Blair” que não ganha em "cenas de ação”, clima tenso ou final chocante. Praticamente nada acontece no filme; então ao invés de não assistir sozinho (como o pôster oficial indica), o melhor é não assistir mesmo.

Nota: 4

(500) Dias com Ela


“Esta é uma história ‘garoto encontra uma garota’”. As primeiras oito palavras do narrador tentam definir o filme. O que poderia, no entanto, ser uma comédia romântica comum não atinge esse nível de obviedade porque subverte os clichês do gênero. “500 Dias com Ela” aproxima-se dos dramas realistas de Woody Allen somados ao universo pop do autor inglês Nick Hornby.

O garoto é Tom, um redator de cartões comemorativos, que se apaixona a primeira vista pela nova secretária do chefe, Summer. A moça é tudo o que ele sempre sonhou: bonita, inteligente e, ainda por cima, gosta das mesmas músicas, livros e filmes que ele. A garota Summer é uma mulher independente, livre de escolhas e com pensamentos tipicamente masculinos. Não acredita no amor, julga-o um “conto de fadas” e, por isso, possui uma facilidade tremenda em cortar as pessoas de sua vida – assim como corta seus cabelos que tanto adora.

Essa diferença de personalidade faz com que ele idealize um romance mais profundo do que a relação que está se desenvolvendo. Os 500 dias de Tom, iluminados pela presença de Summer, são contados fora de cronologia, intercalando os perfeitos e conturbados momentos do casal. Esse dinamismo torna-se essencial para o ritmo da trama, mantendo um clima agradável, que caso fosse relatado na ordem dos fatos jamais existiria.

A passagem do tempo é realizada através de uma animação introdutória, na qual os dias felizes do casal são apresentados com um céu limpo, as árvores floridas e um sol intenso. É verão para Tom! Quando o relacionamento está ruindo, vemos um dia cinzento e a falta de folhas nas árvores. Assim, já sabemos de antemão o que o personagem está sentindo e quais cenas virão a seguir. Os encontros do rapaz apaixonado com a cética garota fará com que os dois reflitam sobre o devastador sentimento do amor, colocando em xeque se é o destino que conspira ou se são as coincidências que norteiam as suas vidas.

O tema relativamente denso para um filme “adolescente” rende comparações à Woody Allen e sua visão menos poética do universo. Semelhanças com os filmes do diretor, como “Crimes e Pecados”, “Match Point” e especialmente “Igual a Tudo na Vida”, que coloca dois jovens conversando sobre o relacionamento, são muito claras. Em certo momento, a tela se divide em “realidade” e “expectativa” mostrando que nem sempre o que desejamos realmente acontece. Homenagem captada.

A menção à Nick Hornby é justificada pela presença de inúmeras referências a cultura pop, em diálogos sobre Beatles, The Smiths, Sex Pistols, o seriado televisivo “Night Rider”, o filme “A Primeira Noite de Um Homem”, Bruce Springsteen, entre tantos outros. Talvez sejam esses gostos similares que tenham aproximado o casal, porém isso definitivamente não é tudo em um relacionamento. Como diz um dos personagens para Tom: “não é só porque ela curte as mesmas bizarrices que tu que ela é a mulher da tua vida”.

Também não seria possível um filme tão completo se não fosse a presença do ótimo Joseph Gordon-Levitt e da encantadora Zooey Deschanel. A sintonia perfeita entre o casal ganha o público no primeiro instante em que é demonstrada em cena. Joseph já havia provado que pode carregar um filme nas costas com “O Vigia” e o brilhante “Mistérios da Carne”; já Zooey, que sempre demonstrou ter mais dotes físicos do que artísticos – vide a péssima atuação em “Fim dos Tempos” – tem em Summer o papel de sua carreira.

Como acréscimo nessa fantástica composição, tem-se ainda uma trilha sonora em conexão quase sobrenatural com a história. As faixas são de extrema importância para a construção das cenas e, em sua maioria, reverenciam artistas indie como Regina Spektor, Doves, Feist, Smiths e She & Him – excelente banda de Zooey Deschanel (se você nunca ouviu falar, baixe o cd imediatamente).

O responsável pela originalidade do produto é o diretor estreante Marc Webb, que tem no seu currículo uma série de videoclipes. A bagagem do cineasta é reproduzida na consecutiva utilização de mini-cenas que compõem o painel dos vários dias ao lado da amada. Após o sucesso do filme, o nome de Webb está em alta e uma nova adaptação do musical “Jesus Cristo Superstar” ganhou o seu comando.

Para o público que aguardou tanto por esse filme, “500 Dias com Ela” supera as expectativas e faz o retrato dessa nova geração “cult” na busca pelo amor. Mas não adianta tentar se enganar ao esperar pelo convencional. As intenções do filme estão explícitas nos primeiros minutos. Pode ser que Summer não tenha sido a mulher que Tom tanto procurou, mas os dias em sua companhia certamente foram inesquecíveis –assim como serão as quase duas horas dedicadas pelo espectador com o filme.

Nota: 9,5

Estômago


“Estômago” pode até sugerir, mas não é uma comédia romântica sobre culinária e afins. A produção nacional dirigida por Marcos Jorge está mais para um suspense dramático com clima bem pesado.

Raimundo Nonato (João Miguel) é um nordestino que chega na cidade grande sem ter o que comer e onde dormir. Consegue emprego em um boteco fritando pastéis e coxinhas de galinha. O sucesso de suas coxinhas faz o movimento do bar aumentar, e logo ele é chamado para trabalhar como chef de um restaurante italiano. Nessa transição, conhece a prostituta Iria (Fabíula Nascimento) e imediatamente se apaixona.

O desenrolar do roteiro transforma “Estômago” em um filme original, único no cinema brasileiro, permeado por um humor negro chocante e com um resultado que retrata o Brasil sem piedade. Curiosamente, a gastronomia, ao invés de despertar paixões nos personagens, é tratada como sinônimo de poder.

O diretor Marcos Jorge e sua equipe criam um filme requintado e essencialmente brasileiro, valorizado também pelas fortes referências ao cinema de Fellini. Engrossando o caldo, João Miguel cria um personagem tão real que é difícil dissociar o ator de sua representação. Na mesma linha, Fabíula Nascimento rouba todas as cenas em que aparece, transformando sua puta em um ser fascinante.

Assistir ao filme é como degustar um prato caprichado e saboroso, feito com tudo que há de melhor, mas que vai se tornando indigesto depois das primeiras garfadas. Portanto, já aviso, acompanhar a tortuosa saga de Raimundo Nonato não é para quem tem estômago fraco.

Nota: 7,5

Os Normais 2 - A Noite Mais Maluca de Todas


O propósito do seriado televisivo “Os Normais” era apresentar situações comuns do dia-a-dia que levassem as pessoas à loucura. O texto inteligente e afiado de Fernanda Young e Alexandre Machado dificilmente decepcionava e a dupla Luis Fernando Guimarrães e Fernanda Torres interpretaram os personagens de suas vidas: Rui e Vani, um casal neurótico e completamente maluco que não tinha como não cair no gosto do público.

Três temporadas depois e um filme no currículo, eis que chega um novo longa-metragem: “Os Normais 2”. Após o estrondoso sucesso da primeira incursão no cinema, a expectativa com essa seqüência era das mais altas. Inicialmente o filme ficou conhecido pela subtítulo “Ménage a trois”, e bem que poderia seguir com ele, já que a produção gira em torno da aventura do casal em busca de uma terceira para pessoa para fazer sexo.

A sensação é de que “Os Normais 2” é um episódio estendido. Seus míseros 75 minutos logo terminam e a superficialidade da trama fica evidente, ressaltando a fraca história que não merecia ser levada às telas. Também não existe uma linguagem cinematográfica eficiente, é muito semelhante à da série. Os atores principais e nem mesmo os coadjuvantes demonstram empolgação com o projeto. Apesar de toda essa carência, Rui e Vani seguem sendo personagens muito queridos do público e somente pelo retorno deles que a sessão tem seu valor.

Nota; 5,0

Era Uma Vez...


Os contos de fantasia teimam em começar com o tradicional “Era Uma Vez…”. Essa escolha tem o intuito salientar o conteúdo lúdico da história, fruto da imaginação do autor e de sua liberdade poética. A mesma expressão é utilizada como título para o novo filme de Breno Silveira (diretor de “Dois Filhos de Francisco”) justamente para demarcar que o romance do pobretão D com a patricinha Nina é um conto de fadas repetido e previsível.

Ele mora na favela do Cantagalo e trabalha diariamente em um quiosque na praia do Rio de Janeiro. De seu recanto, observa a bela Nina entrar e sair do prédio da frente, até o dia em que a salva de um assalto. A aproximação deles é inevitável e logo os dois se apaixonam, porém a relação não demora para ser abalada pelas gritantes diferenças sociais e o mascarado preconceito.

Quem já não ouviu essa história? Realmente, “Era Uma Vez…” é um filme do qual todos sabem o que vai acontecer na tela, só que ainda assim, a história acaba surpreendendo o público e revelando ser uma das melhores produções nacionais dos últimos anos. O feito está relacionado com a atualização da trama, romantizada em seus núcleos para sensibilizar o espectador, injetando gás para temas tão discutidos e desgastados no dia-a-dia, como a violência no morro, o caos urbano e a falsa moralidade.

Também não se deve tirar o mérito do entrosamento perfeito entre os atores Thiago Martins e Vítria Frate, que dão sustentação vital ao romance desafiador e quase impossível de um garoto pobre com uma menina rica. Os dois juntos emocionam e levam às mais intençãs emoções, sendo ainda mais tocante que o filme anterior do diretor.

Breno Silveira demonstra em seu segundo longa-metragem que tem domínio completo pela sua obra, criando um estilo evidente e próprio de humanização dos personagens. “Era Uma Vez….” pode ser considerado uma espécie de Romeu e Julieta à brasileira, com doses cavalares de realidade e amor. A intensidade do projeto leva o público ao total comprometimento com a trama, fazendo-o sair da sessão inchado de tanto derramar lágrimas. E talvez essa troca de sensações e cumplicidades faça com que algumas percepções de mundo sejam transformadas. Por isso, e por tudo mais que você só irá descobrir ao assistir o filme, é que “Era Uma Vez…” não pode ficar nem mais um segundo parado na estante da locadora.

Nota: 9

Duplicidade


Julia Roberts e Clive Owen voltam a contracenar juntos quatro anos depois do excelente “Closer – Perto Demais” e a sintonia permanece intacta. Neste thriller sobre agentes duplos que planejam passar a perna em todo mundo, não existe mocinhos nem bandidos. O importante é se dar bem e, para transmitir esse clima de trapaça e jogo de interesses, o diretor Tony Gilroy imprime seu estilo elegante ao dividir a tela em várias cenas, transmitindo dinamismo para a trama.

O grande mote do roteiro é brincar com a duplicidade dos agentes e abordar a relação de eterna desconfiança entre eles. Embora apaixonados, o casal não consegue por um único instante relaxar e, assim, seguem maquinando estratégias para o funcionamento perfeito do plano - sempre com um pé atrás quanto a fidelidade de seu parceiro.

O filme foi considerado bastante complicado, conforme sua narrativa não linear e a linguagem específica a respeito dos trâmites entre os serviços secretos. “Duplicidade” exige mesmo a atenção do espectador (nada fora do normal), e termina por revelar-se um entretenimento esperto e charmoso, assim como seus protagonistas. Destaque também para a interessante trilha sonora de James Newton Howard com muitos batuques e swing.

Nota: 8

Shortbus


“Hedwig – Rock, Amor e Traição” foi um marco na carreira de John Cameron Mitchell, tanto como diretor quanto ator. A produção hiper cultuada é uma falsa biografia sobre um popstar do glamrock e conta com deliciosas músicas próprias. Depois de ser catapultado para o sucesso, o astro repentino levou cinco anos para lançar este “Shorbus”, um filme sem pudores sobre a vida sexual de um grupo de jovens.

Para realizar o projeto, o diretor buscou suporte nas relações sexuais para falar sobre aceitação pessoal – em todos os sentidos. A polêmica dessa vez foi com o conjunto de cenas de sexo explícito hetero e homossexual. Embora nada gratuitas, as sequencias não impedem a imediata repulsa dos espectadores mais puritanos.

“Shortbus” é um filme pesado e muito longe de um cinema adolescente pipoca. As cenas são perfeitas de forma independente, quando somadas ao contexto podem não justificar a sua importância. Por isso, a fita não deve ser avaliada como um roteiro linear, a graça está nas sensações que transmite, nos temas que aborda e na experiência total proporcionada. É um grande exercício de linguagem cinematográfica sobre a sexualidade sem ser de mau gosto ou grosseiro.

Nota: 7,7

Arraste-me para o Inferno


Antes de comandar a franquia “Homem Aranha”, o diretor Sam Raimi ficou conhecido por um de seus primeiros filmes, uma produção de horror chamada “Evil Dead” que ganhou continuação e se tornou cultuada com o passar dos anos. Agora, famoso e com três blockbusters no currículo, ele decidiu relembrar o período em que trabalhou com o gênero prestando uma esperta homenagem aos clássicos do terror.

Na interessante trama, atendente de um banco é amaldiçoada após negar empréstimo para uma senhora. Sentindo-se humilhada, a velha invoca o demônio chamado Lâmia, que durante três dias diverte-se torturando sua vítima para depois levar a alma da pessoa diretamente para o inferno. O roteiro de Raimi e seu irmão Ivan faz uma salada com os mais conhecidos clichês: demônios, videntes, sacrifícios de animais, pragas, pesadelos, espíritos, larvas, vômitos e muito mais.


A proposta é ser trash, com direito a cenas muito escrachadas e até cômicas, mas o que dá maior força ao projeto é a forma como a história é levada a sério, envolvendo o público e tornando-o cúmplice dos absurdos. A homenagem pode ser conferida já nos créditos iniciais, quando o título salta na tela - bem como os primeiros longas de horror.


O filme de orçamento modesto para padrões hollywoodianos foi bastante elogiado pela crítica e bem recebido pelo público. Mais um ponto para Sam Raimi. Se dá sustos? Sim, alguns bons sustos estão no conjunto.

Nota: 8


Inimigos Públicos


Era de John Dillenger o primeiro lugar na lista dos mais procurados pela polícia dos Estados Unidos em 1930. O ladrão de bancos conseguia realizar cada operação em menos de dois minutos e, por estes incríveis roubos despertou uma aura de fascinação ao seu redor. Contrariando a entusiástica população, o detetive Charles Makley trabalhava obsessivamente para capturá-lo.

O thriller lotado de sequências de tiroteios não nega que é dirigido por Michael Mann. Sua concepção de cenas de ação segue com o inconfundível formato: câmera nervosa + barulheira de pistolas e/ou metralhadoras + som ambiente sem trilha sonora. A extrema valorização dessas tomadas tirou o foco da construção do personagem icônico e deixou o retrato de Dillenger enfraquecido.

Com muitos tiros e poucas falas, Johnny Deep alia o lado durão do personagem com sua face mais sensível e romântica, personificada pela bela Marion Cottilard. Embora a trama histórica não seja bem desenvolvida, o filme rende um entretenimento de boas atuações, ótimas cenas de ação e muito jazz.

Nota: 8,0

O Visitante


“O Visitante” é mais um filme sobre imigrantes clandestinos que disputou algumas categorias no Oscar 2009 e figurou na lista de indicações com Richard Jenkins ao prêmio de Melhor Ator. A estatueta acabou nas mãos de Sean Penn por “Milk” – por sinal, mais merecido.

O filme escrito e dirigido por Thomas McCartney é sobre um professor universitário que retorna a Nova York para apresentar um artigo científico em um congresso e decide passar esses dias no apartamento do qual dono. Chegando lá, descobre que está sendo habitado ilegalmente por um casal de imigrantes da Síria e do Senegal. Sua primeira atitude é esperar que os “invasores” deixem o local – e eles o fazem. Mas, o professor fica mobilizado com a situação do casal e dá abrigo para ambos.

A convivência com os dois (e futuramente com a mãe de um deles) fará o protagonista rever a forma patética como estava levando sua vida, anulada por uma rotina tediosa e sem objetivos. Essa nova relação se torna benéfica tanto para “o visitante” do título como também para os mais recentes amigos. O “twist” do roteiro acontece quando a polícia descobre a ilegalidade dos imigrantes.

Além da atuação bastante elogiada de Jenkins, o desconhecido Haaz Sleiman mostra-se muito competente e carismático na pele do músico sírio Tarek. Tristemente belo e nada clichê, “O Visitante” é um drama envolvente e terno sobre a vontade de viver (embora que em uma injusta realidade).

Nota: 8

A Mulher Invisível


Um dos filmes mais lucrativos do cinema nacional em 2009 foi “A Mulher Invisível”, do diretor Cláudio Torres. Nele, Selton Mello vive um cara extremamente romântico que de tanto mimar acaba sufocando suas namoradas. Após sofrer diversas desilusões amorosas, ele passa a acreditar que a vizinha gostosona (Luana Piovanni) está a fim dele. O grande senão é que ele não sabe que a sua nova amada é fruto de sua imaginação.

O principal objetivo de um filme como esse é levar o público as risadas – proporcionando também entretenimento de qualidade. “A Mulher Invisível” pode até gerar alguma graça com suas situações cômicas, mas apresenta no desenvolver vários obstáculos. O primeiro, certamente, é a atuação forçadíssima de Selton Mello – um dos melhores atores brasileiros que dessa vez exagera nos trejeitos do personagem e faz uma voz fina (irritante e inverossímel) que mal dá para entender.

Ainda no conjunto de defeitos, temos o ritmo quebrado da produção, que intercala a levemente interessante trama da mulher invisível com a história chata da outra vizinha (a morena). O filme extende-se demais justamente por isso e, sem a menor necessidade. Com 75 minutos, poderia ser mais objetivo, concentraria melhor seus momentos engraçados e terminaria como um entretenimento bobo, porém funcional. No final, quem sai ganhando mesmo é Luana, que brilha em todas as cenas (até mesmo como atriz).

Nota: 4,5

Os Informantes


Os livros de Bret Easton Ellis apresentam como temas centrais drogas, sexo, violência, rock e muita grana. Adaptação de um livro de contos do autor, “Os Informantes” aborda justamente esses tópicos para retratar o hedonismo dos anos 80 em Hollywood, que até hoje ainda vigora mas de forma disfarçada. Esse culto ao lazer é destrinchado pelas diversas narrativas, demonstrando que essa vida deslumbrada leva a auto-destruição.

O pacote inclui uma equipe de atores totalmente empenhados em convencer na pele de seus personagens e muitos realizam uma de suas melhores interpretações. Os novatos Jon Foster e Amber Heard representam perfeitamente os jovens perdidos na cidade do pecado – o que pode ser analisado em diferentes esferas.

Ao compará-la com o livro, a versão cinematográfica ganha pontos por conseguir unir as histórias e transformá-las em uma única. Os encaixes desse quebra-cabeça proporcionam uma adaptação justa – embora que não consiga transpor toda a acidez da escrita de Ellis, que só será inteiramente compreendida ao ter o livro em mãos. O longa-metragem cria desfechos novos para alguns personagens e torna o filme mais completo, deixando às claras a discussão sobre aproveitar o brilho efêmero desta vida de luxo ou reduzir-se a mediocridade e pequenez dos demais. O lance é a futilidade de quem está no topo, que só vai perceber o que está realmente fazendo quando as luzes que ofuscam a sua visão forem embora, deixando a realidade exposta.

“Os Informantes” é um filme para poucos – assim como os livros do autor – e a crítica a esse mundo vazio fica para quem conseguir captar a essência por trás das tortuosas tramas. Se você acabar odiando a produção, pelo menos terá assistido Amber em cenas deliciosas na qual comprova toda sua estúpida beleza e só por isso o filme já terá valido a pena.

Nota: 8,5

Trabalho Sujo


Os produtores de “Pequena Miss Sunshine” chegam com uma nova comédia dramática, só que desta vez é sobre duas irmãs “fracassadas” que resolvem ter um negócio próprio para subir na vida. A empresa até que se torna bem lucrativa, porém é algo fora do comum e nada agradável. Elas trabalham com o serviço de remoção de indícios após as cenas de crime, ou seja, limpam todo o sangue e derivados dos locais.

A personagem de Amy Adams não quer mais trabalhar como faxineira em casas de pessoas bem sucedidas que foram suas colegas no tempo de escola. Quando decide mudar de situação econômica, ela dá a cara para bater e chama sua irmã na realização da primeira limpeza. Essa purificação reverte-se também na alma dos personagens, que aos poucos vão ganhando mais confiança e passam a se livrar de pesos que os prendem ao passado.

“Trabalho Sujo” é um filme modesto, que ganha a simpatia do público logo nos créditos iniciais quando exprime toda a angústia vivida pelas duas irmãs - em poucos segundos já conhecemos quem são aquelas pessoas. O trio Adams, Emily Blunt e Alan Arkin ajudam (e muito) para a consistência desses seres transgressores, que representam a vida ordinária a qual os norte-americanos não querem levar de jeito nenhum.

Os míseros 80 minutos de duração tornam-se o maior empecilho do projeto, já que poderiam ter abordado mais assuntos e com maior profundidade do que encerrar de forma abrupta. Como curiosidade, o filme ainda demonstra a facilidade de subir na vida na “América”, bastante diferente do que acontece no terceiro mundo onde o fator pobreza possui uma conotação totalmente díspar.

Nota: 7,4

Rio Congelado


O filme da estreante Courtney Hunt não é apenas sobre duas mulheres que se unem para introduzir imigrantes ilegais a partir da fronteira canadense. “Rio Congelado” aborda, principalmente, os motivos pelos quais estas personagens são levadas a esse tipo de atitude. No foco central temos Ray Eddie, uma mãe que vive em um trailer com os dois filhos e foi abandona pelo marido. A situação financeira chega a um nível insustentável e a chance de mudar de vida, comprando uma casa nova e pré-moldada, é mais tentadora que os argumentos contra a prática do crime. Assim, ela e uma contrabandista realizam o esquema ilegal através de uma reserva indígena Mohawk, tida como território neutro.

Melissa Leo transborda sensibilidade e emoção como uma mulher judiada pela vida e que não consegue um futuro melhor para sua família. Mais do que merecido, a atriz foi lembrada (ao menos em indicações) em diversas premiações do ano passado. Também tremendamente elogiada foi a diretora e roteirista Hunt, que dá um enfoque humano – e tenso - para a história, privilegiando essencialmente suas crias.

Nota: 7,8

Amantes


Faz quatro meses que Leonard voltou a morar com os pais. Apesar de ter mais de trinta anos, estes ainda o tratam como criança - isso porque ele recentemente foi abandonado por sua noiva, tentou se suicidar duas vezes e ainda descobriu que possui transtorno bi-polar, precisando de medicação constante. Durante o processo de recuperação ele conhece a filha do sócio de seu pai, Sandra, que revela estar interessada em um futuro amoroso com Leonard. Ao mesmo tempo, ele também passa a se relacionar com a vizinha do andar de cima, Michelle, e imediatamente se apaixona por ela. Sem poder firmar essa paixão, já que ela está envolvida com um homem casado, ele começa a namorar Sandra.

“Amantes” dialoga com o público sobre essas barreiras que impossibilitam o teste da felicidade idealizada, frustrando ou levando a atitudes extremas. A dor do personagem de Joaquim Phoenix contagia de forma crescente e a medida que seu personagem “sangra” na tela é possível sentir com maior intensidade as suas angústias. O clima pesado presente desde o início anuncia um final trágico, como em “Match Point” – aliás, ambos apresentam diversas semelhanças – mas é não bem o que acontece. O desfecho realista conclui a obra com maestria, provando ser uma história de amor adulta e que provavelmente deixará um gosto bastante amargo no espectador.

Nota: 8,0

O Segurança Fora de Controle


No cartaz original do filme está escrito: “Right now, the world needs a hero (agora mesmo, o mundo precisa de um herói)”. É chocante constatar que o suposto herói proposto é Ronnie Barnhardt, um segurança de shopping completamente maluco – digno de cadeia. O cara é um ser desprezível: racista ao extremo, utiliza drogas em pleno trabalho, bate em crianças e toma as atitudes mais estúpidas. A frase do pôster pode estar brincando com a situação, sendo até mesmo irônica, mas a narrativa abraça essa figura e enaltece o personagem revoltante.

O ponto de partida é bastante interessante e seu desenvolvimento inicial comprova isso. O dia-a-dia mesquinho de Ronnie muda quando um pervertido passa a atacar no shopping expondo para os clientes suas partes íntimas. O segurança enxerga nessa ação a chance de mostrar que é capaz de prender um criminoso, conquistar o amor da sua vida, a atendente na de uma loja feminina, e ainda ingressar na polícia. Seus sonhos encontram um obstáculo na figura do detetive Harrison que assume o caso e tira Ronnie da jogada.

O filme começa divertido, por vezes, soando grosseiro – mas algo ainda esperado numa comédia. Porém, aos poucos as situações tornam-se cada vez mais ofensivas, de um humor negro desconfortável e o personagem que deveria gerar no mínimo um pouco de simpatia torna-se detestável. A salvação do projeto são os bons atores: Seth Rogen é convincente até demais no papel principal e Anna Faris e Ray Liotta são ótimos coadjuvantes.

Ao término do filme é normal questionar o estado mental de uma criatura que escreve um roteiro desses, que só pode ser alguém doente da cabeça. Mesmo assim, apesar das brincadeiras de mau gosto, “Observe and Report” tem seus momentos engraçados.

Nota: 5,0

The Young Victoria


De forma rápida e objetiva esta cinebiografia sobre a Rainha Vitória origina uma espécie de esboço sobre uma das figuras mais importantes que governaram a Inglaterra. Com baixa duração, o filme transcorre pela vida da personagem com certo pique e retrata melhor o seu lado humano, desnundado o ícone real ao mostrá-la como uma jovem influenciada por vários conselheiros. Apesar dessa questionável característica, a rainha é determinada, rebelde e preocupada com o seu povo.

Felizmente, “The Young Victoria” não é um filme essencialmente político. O casal Emily Blunt e Rupert Friend encontra química como protagonista da trama e o seu romance toma conta da tela. Também é interessante o jeito que apresentam a importância do Príncipe Albert na histórial – altamente relevante. Vale muito a pena assistir o filme para conhecer a história da Rainha Victória, e o melhor é que não causa bocejos em nenhum instante.

Nota: 7,9

What Goes Up


Repórter obcecado por heróis locais viaja para cidade do interior em busca de mais um desses casos. Ao invés de investigar o episódio que lhe foi destinado, fica fascinado pela história de um professor suicida que deixou um grupo de alunos inconformados. Aos poucos o repórter se envolve com os estudantes e passa a servir como um nada convencional modelo para os jovens.

“What Goes Up” possui aquele estilo de filme alternativo típico dos Estados Unidos – explicando melhor, possui como característica principal uma galeria de personagens que são por natureza bizarros (comprovando isso temos como destaque a dupla de “gêmeas” que só realiza ações estranhas). O projeto ainda apresenta um Steve Coogan extremamente confiante à frente do elenco e a bela e simpática Hillary Duff em um papel mais sério e dramático. Desprezando a curiosidade inicial com o longa, temos por fim um filme chato, que engatinha durante duas horas para não significar muita coisa. Que azar!

Nota: 4,9

Férias Frustradas de Verão


Após “Superbad”, o mega hit do verão norte-americano em 2008, o diretor Greg Motolla lança com altas expectativas sua mais nova comédia. “Adventureland” foi vendido como um mais um exemplar do riso – algo semelhante ao filme anterior de Motolla. O que vemos aqui é um drama simpático sobre inseguranças e relacionamentos na adolescência.

James recém se formou no colégio e seu plano imediato é cursar jornalismo em uma faculdade de Nova York. Logo de cara recebe a notícia que seu pai foi rebaixado de cargo na empresa, e a situação financeira não está das melhores. Para ajudar nas despesas e realizar seu sonho, ele decide procurar um emprego temporário durante o verão. Acaba sendo admitido apenas no parque de diversões como instrutor de jogos. Dessa forma ele conhece boa parte dos personagens do filme: seu interesse amoroso, a garoto gostosona, o mal-caráter, o amigo nerd, o proprietário psicopata e outras figuras estereotipadas.

As aventuras amorosas de James integram o principal direcionamento da produção, deixando de lado a “clássica” comédia. Essa escolha não repercute de forma negativa, até pelo contrário. Raramente se assiste um drama honesto (e descontraído) sobre adolescentes dentro da indústria hollywoodiana. “Adventureland” poderia ter alçado voos maiores em sua narrativa, explorando melhor o ótimo cenário do parque de diversões para introduzir elementos diferentes na estrutura. Já que não o faz, torna-se um filme agradável, porém inofensivo.

Nota: 7,0

Nossa Vida Não Cabe Num Opala


Decididamente não entendo como produzem filmes como este aqui. “Nossa Vida Não Cabe Num Opala” me chamou a atenção inicialmente pelo curioso título e pelo cartaz em forma de animação. Ao assistí-lo constatei estar frente a frente a um dos piores filmes nacionais dos últimos anos.

O longa-metragem inicia com a morte do patriarca de uma família humilde, que deixa desemparados quatro filhos. Estas criaturas são deprimentes, consideradas vítimas da sociedade por um roteiro grosseiro que não encontra justificavas para as cenas grotestas que revela. A crítica social que julga fazer não chega a ter força suficiente, e convenhamos, poderia ser realizada de outras formas muito mais eficazes.

Me admira bons atores como Leonardo Medeiros, Maria Luisa Mendonça e Marília Pera estarem envolvidos nesta produção – também fiquei surpreso ao descobrir que é baseado em uma peça teatral. Tenho convicção que o público não possui intenções de assistir um espetáculo como este, já que em nenhum momento chega a ser um entretenimento de qualidade. A nota que consta ao final desta crítica só vai para os créditos iniciais e alguns momentos interessantes nas interpretações, como a figura do fantasma do pai dos quatro irmãos.

Nota: 2,0

Tinha Que Ser Você


O encontro de dois atores prestigiados, Emma Thompson e Dustin Hoffman, são o principal atrativo deste delicado filme adulto. De um lado temos Kate, uma desiludida quarentona que só pensa no seu trabalho e nos cuidados com a mãe. No outra ponta, Harvey é também quarentão e viaja de Nova York para Londres somente para prestigiar o casamento da filha. Ele é um sujeito amargurado, que sofre pela influência cada vez mais intensa do novo marido da ex-esposa, agindo agora como se fosse o verdadeiro pai de sua filha. A situação piora quando recebe a notícia de que não precisa voltar tão cedo para os Estados Unidos porque seu emprego foi pelos ares. Esses dois seres insatisfeitos se conhecem por acaso em um dia comum na cidade grande e a oportunidade de mudança mexe com o cotidiano habitual que antes compartilhavam.

“Tinha Que Ser Você” leva tempo para desenvolver seus personagens e quando os coloca cara a cara transforma-se em uma espécie de “Antes do Amanhecer” em que os dois conversam como velhos conhecidos sobre diversos temas. A dupla não só encontra afinidade, como também serve de ajuda um para o outro. A chance do título original acaba servindo não só para Harvey como também para Kate, e juntos eles ganham um novo incentivo para suas vidas desistimulantes.

O romance adulto é um tema que vem sendo explorado com certa frequencia no cinema atual e encontrando bom público para o mesmo. Este exemplar é bastante simplista, sem diferenciais perante as demais histórias já vistas. O que o qualifica são pequenos tons na narrativa que elevam o tradicional enfoque e, somado a isso estão as impecáveis atuações dos protagonistas.

Nota: 7,0

Eu Te Amo, Cara


Às vésperas de seu casamento, Peter Klaven percebe que não possui amigos homens para convidar como padrinho. Inicia então uma busca por um cara que seja verdadeiramente seu amigo, nem que para isso tenha que desenvolver uma amizade às pressas. Após algumas investidas mal sucedidas ele bate um papo sem pretensão alguma com o excêntrico Sydney Fife. Surge entre ambos uma amizade honesta que colocará Peter em algumas enrascadas.

O roteiro de Larry Levin e do diretor John Hamburg deixa escapar a grande oportunidade de explorar o universo da amizade masculina e desvia o curso para situações sem a menor graça, apoiando-se em cenas escatológicas e de pouca empatia. A premissa de alto potencial revela-se um texto raso e típico das demais comédias americanas.

Ao menos, espera-se mais de Paul Rudd que andava destacando-se em projetos anteriores, como o divertidíssimo “Modelos Nada Corretos (ou “Faça o que eu digo, não faça o que eu faço”). Jason Segel, do seriado “How I Met Your Mother”, apresenta o mesmo personagem de estilo desleixado e repugnante já visto em filmes como “Ressaca de Amor”. A combinação de todos elementos de “Eu Te Amo, Cara” não formam uma junção digna de divertimento. O filme possui raros momentos interessantes, mas não justificam o valor total do ingresso.

Nota: 5,0

17 Outra Vez


A velha história de um adulto voltar a ser adolescente já foi vista em inúmeras produções, mas parece que a indústria cinematográfica hollywoodiana não cansa de repetir fórmulas do passado. Mike O´Donnell, aos seus 30 e poucos anos, ganha a chance de voltar a sua época de glória no colégio. Ao invés de usufruir dos benefícios da juventude e reescrever sua vida de forma totalmente diferente, ele opta por aproximar-se dos filhos e da ex-mulher.

Apesar de não ser desta produtora, “17 Outra Vez” é um típico filme da Disney. Justamente por ter esta atmosfera de fábula que ninguém percebe a gigantesca mudança do personagem. Ou seja, os filhos não chegam a perceber que o novo garoto é idêntico ao pai deles quando jovem ou que este é conhecedor de todos os detalhes da família. Aliás, Mike na versão colegial dá furos demais dando sermões ridículos em adolescentes ou agindo como se fosse mesmo o pai de seus filhos.

Se não levarmos em consideração essas características inconvenientes e alguns personagens extremamente estúpidos, como o amigo Ned e a diretora da escola, podemos assistir um divertido filme. O clima de Sessão da Tarde é óbvio, então desconte também a trama previsível. Caso você não assista agora nos cinemas e nem depois em DVD, não se preocupe: o filme repetirá incansavelmente nas tardes da Globo.

Nota: 7,0

O Solista


Em menos de cinco anos, o diretor Joe Wright se tornou referência de bom cinema. O principal motivo foi a bela adaptação do clássico de Jane Austen “Orgulho e Preconceito”, em 2005, e logo após, o também de época “Desejo e Reparação”. Se alguém esperava que Wright ficaria preso entre os clássicos romances de outrora, se enganou feio. O filme seguinte, lançado este ano, foi “O Solista”, uma história verídica atual sobre a relação de um jornalista com sua fonte.

Na trama, Steve Lopez possui uma coluna própria no LA Times e precisa entreter seu leitor com novidades a cada semana. Buscando inspirações, ele depara-se com Nathaniel Ayers, um violinista que estudou na famosa escola de música Jillard School e agora está vivendo nas ruas de Los Angeles. O que seria apenas uma nova pauta para Lopez transforma-se em uma parceria muito além dos limites profissionais.

A amizade entre os dois é natural e a forma como a relação é desenvolvida não cai em artifícios baratos. O envolvimento do jornalista procurando ajudar Nathaniel é emocionante. Em certo diálogo, o personagem de Robert Downey Jr diz que nunca chegou a amar algo na mesma intensidade como Nathaniel ama a música. Ele completa afirmando que está muito satisfeito em fazer algo útil na sua vida. A ex-esposa de Lopez rebate dizendo que este é um momento de graça e é preciso dar valor para estas passagens. A troca mútua entre o jornalista e o músico transforma ambos e gera lentamente mudanças em suas atitudes.

“O Solista” não é um filme basicamente sobre superação como muitos outros. Ao todo é uma história sobre aprendizado e amizade. O inusitado é que o personagem mais interessante acaba sendo o próprio jornalista ao tornar seu conflito mais real e digno de questionamentos. O músico cheio de problemas fica para o segundo plano porque sua figura tornou-se clichê através de diversos filmes que utilizaram de personagens semelhantes. Ainda assim, o duelo de atuações é intenso. O trabalho de Robert Downey Jr destaca-se ao comprovar mais uma vez que está em sua melhor fase na carreira, superando o belo desempenho do colega Jammie Foxx.

O filme aparentemente pode parecer chato, mas “O Solista” após seus segundos iniciais não decepciona o público. Talvez uma de suas melhores qualidades seja a forma humana como lida com os personagens e situações, resolvendo seus impasses do mesmo jeito que acontece na vida real. Chegamos a esperar cenas básicas de filmes nesse estilo, mas elas nunca ocorrem. “O Solista” é um projeto cuidadoso, bonito e nada artificial. Esta é a sua glória.

Nota: 8,5

Sete Vidas


Sabe aquele filme que não se entende o que está acontecendo durante todo o tempo e nos cinco minutos finais o segredo é revelado e tudo deve fazer sentido? Você já deve ter assistido vários nesse estilo, e “Sete Vidas” é mais deles. Seu grande mérito é despertar a curiosidade no espectador para que ele permaneça até o último segundo grudado na trama. Falando nela, Will Smith interpreta um agente da Receita Federal que após um trauma recente decide ajudar pessoas desconhecidas. “Sete Vidas” é feito para emocionar, mas a sua resolução força um pouco a barra. Ainda assim, é um bom passatempo. Ah, e só para constar, Will Smith se amargurou tanto para o papel que não atinge o carisma esperado.


Nota: 7,5

A Troca


A luta de uma mãe para encontrar seu filho desaparecido é o cerne deste drama noir dirigido por Clint Eastwood. Christine Collins é uma personagem forte, incansável em sua busca e que enfrentará a polícia de Los Angeles para obter qualquer pista sobre o seu menino Walter. A história de “A Troca” é baseada em fatos reais, mas se não fosse a mão segura do diretor poderíamos assistir um novelão chatíssimo.

Eastwood dá charme para a produção e nos apresenta um filme contemplativo sobre um escândalo do início do século XX. O brucutu dos filmes de ação mostra que é muito sensível e aborda o caso de Christine com todos os cuidados necessários. Angelina Jolie completa com uma atuação irretocável.

Nota: 7,8

Noivas em Guerra


Emma e Liev cresceram juntas como melhores amigas e desde pequenas sonham em realizar seus respectivos casamentos no mês de junho no luxuoso Hotel Plaza. Por ironia do destino, as duas são pedidas em casamento na mesma semana. A confusão inicia quando a secretária da planejadora de casamentos confunde as datas e marca as duas festas para o mesmo dia. Sem querer desistir e perder a chance de concretizar o sonho de casar no badalado salão, as “amigas” passam a competir pela melhor cerimônia numa guerra em que a baixaria não possui limites.

Transvestida de comédia, “Noivas em Guerra” tenta despertar as risadas no público através das sacanagens que uma apronta para a outra. Essa jogada não é bem sucedida porque em cada ação maldosa das jovens permanece um sentimento de arrependimento e a sensação de desconforto ao constatar que a amizade está sendo destruída. Justamente por isso que quando este sentimento é resgatado no final existe nele uma veracidade importante.

Este é um filme exclusivamente feminino, desde o tema casamento até as cenas de despedida de solteiro em clube das mulheres e brigas pelo melhor sabor de bolo. Qual homem possui paciência para discussões como estas? O único fator que talvez chame a atenção da platéia masculina são as presenças (histéricas) de Kate Hudson e Anne Hathway. O diretor Gary Winick sabe que sua história é extremamente superficial e para amenizar o enfraquecido conteúdo procura dar maior destaque para a poderosa amizade das garotas. Ele também acerta ao promover agilidade e certa graça para a óbvia narrativa, finalizando seu projeto com menos de uma hora e meia. “Noivas em Guerra” não é inteiramente sofrível, longe disso, é apenas banal.

Nota: 6,0

Garoto Nota 10


Ao assistir “O Último Rei da Escócia” não fiquei apenas encantado com a história verídica e a fantástica performance de Forrest Withaker. O que mais me chamou a atenção foi o ator que encarnava o protagonista da história: um tal de James McAvoy. Nunca tinha sequer ouvido falar nesse nome (depois descobri que já havia assistido alguns filmes em que o cara fez algumas participações).

Na sequência vieram outros trabalhos como “Penélope”, “Desejo e Repação”e “O Procurado”. A partir desse momento não me restaram dúvidas de que McAvoy era realmente um ótimo ator (e que se envolvia em projetos interessantes). Foi com esta expectativa que esperei três anos para presenciar o lançamento de “Garoto Nota 10” em circuito nacional. O filme de 2006 é um comédia estudantil que se passa na década de 80 e conta a história de um nerd que tem “fome” pelo conhecimento. Ele mesmo confessa saber que não é uma pessoa inteligente, e por isso seu caminho para o “hall dos intelectuais” será tortuoso.

A parte inicial evidencia esse sujeito inseguro, que estuda 24 horas por dia para ser aceito na faculdade e cujo sonho é participar do programa televisivo Desafio Universitário. Quando este vira calouro, o filme parece abandonar a figura do CDF e o transforma em um conquistador atrapalhado, que não sabe lidar com duas gostosas correndo atrás dele. As patetices envolvendo o triângulo amoroso seguem até o final. De forma estúpida, o roteiro descarta as origens e os anseios do personagem inicial.

A aparente evolução do protagonista faz com que o filme perca tudo que tinha de bacana, e seu andamento daí para frente é previsível, onde nem mesmo a atuação de McAvoy apresenta algum brilho. Depois de conferir o fraco “Amor e Inocência” e este filme aqui, fico com a impressão de que quando existe um texto bom, o ator esmera-se para corresponder à altura. Caso contrário, o navio naufraga mesmo. “Garoto Nota 10” perdeu sua chance.

Nota: 4,0

Crepúsculo


Baseado no fenômeno de vendas escrito por Stephenie Meyer, esta adaptação para o cinema rende um filme de vampiros tipicamente adolescente. Talvez seja por isso que “Crepúsculo” não chega a se enquadar no gênero de suspense ou terror, na verdade é um romance ou até mesmo um drama. Aqui os vampiros não possuem dentes pontiagudos e nem saem matando humanos inocentes para saciar sua sede de sangue. Aliás, sangue é o que menos se vê na tela.

Esta é a história de Isabela Swan, uma jovem que vai morar com o pai numa cidade onde os dias são basicamente nublados ou chuvosos. Na escola, ela fica fascinada por Edward Cullen, um garoto misterioso que revela ser um vampiro. Isabela não demonstra surpresa com o fato e decide levar o namoro adiante. A família de Robert é vegatariana, ou seja, se alimenta apenas de animais – poupando assim os “pobres” humanos. A presença de Isabela no clã vai despertar os mais primitivos desejos e ainda chamar a atenção do grupo de vampiros do mal.

Pouco focado no quesito ação, as cenas de confronto entre a família do bem contra o grupo do mal não chegam a empolgar. A trama tem seu forte na decoberta de Isabela e no romance que desenvolve com alguém que a qualquer momento pode morder seu pescoço. O casal protagonista deixa um pouco a desejar com interpretações blasé, mas a força dos personagens de Meyer suaviza a perda.

Apesar de faltar a malícia da classe dos sanguessugas, “Crepúsculo” consegue ser entretenimento divertido e passageiro. E não há mal algum nisso.

Nota: 7,5

Ele Não Está Tão A Fim de Você


Ken Kwapis dirigiu “Licença para Casar “ e “Quatro Amigas e Um Jeans Viajante”. Bom, por aí já dá para se ter uma ideia do que vamos assistir em “Ele Não Está Tão a Fim de Você”. A trama açucarada não é nenhuma novidade, mas o que surpreende nesta carismática comédia romântica é o seu tema principal: exatamente o que título diz.

A análise é feita em cima de situações em que as pessoas não estão tão a fim das outras – algo muito comum e pouco explorado pela mídia. Mesmo mantendo um relacionamento ou “ficando” continuamente com alguém pode ser que não se esteja gostando tanto ou tão envolvido a ponto de querer namorar ou casar. Observamos durante o filme diversas situações em que um parceiro ama demais o outro e não é correspondido com a mesma intensidade. É uma barbada se identificar com as pequenas tramas do enredo: você já gostou de alguém que não queria nada com você? E se queria, foi um caso excepcional? Você já esteve na situação oposta? Quando alguém está apaixonado por você e você não quer nada com essa pessoa?

Identificações à parte, o filme é baseado no livro de Greg Behrendt/Liz Tuccillo e passeia pelos diversos capítulos do original. Dá para perceber que o livro deve ser de auto-ajuda, porém o filme não chega a tanto. O charme está em trabalhar um tema tão corriqueiro de forma leve e descontraída – óbvio que descontando o fato de apresentar alguns clichês e de ser uma comédia romântica.

Outro ponto inevitável na discussão é o elenco de estrelas, que inclui Drew Barrymore, Scarlett Johansson, Kevin Connoly, Jennifer Aniston, Ben Affleck e Jennifer Connely. O time representa um colírio para os olhos, mas em qualidade de interpretações não acrescentam muito. As pequenas tramas também impedem atuações de destaque.

“Ele Não Está Tão A Fim de Você” é essencialmente feminino, mas isso não impede que o público masculino também encontre graça no projeto. Dando enfoque maior para as versões segundo as mulheres, o filme também se dispõe a mostrar o lado dos homens e por tudo isso, querendo ou não, você acabará se identificando com algum dos casos e, então a simpatia com a produção vai ser imediata.

Nota: 7,6

Franklyn


São três os personagens de “Franklyn”: Ryan Phillipe interpreta um anti-herói mascarado que vive numa sociedade futurística dominada pela religião; Eva Green é uma estudante obcecada em arriscar a vida em seus projetos de arte para a faculdade e Sam Riley é um jovem que recém foi largado pela noiva e começa a reviver a inocência de seu primeiro amor.

As três figuras só irão conviver no mesmo plano ao final da projeção, quando o sentido de cada história deveria vir à tona. As respostas estão ali, mas ainda assim é meio complicado elaborar a linha do tempo e de suas interferências. Para completar, o fechamento não tem força suficiente para encerrar (e unir) as tramas com “chave de ouro”.

Independente disto, o decorrer do filme é bastante interessante e cada história possui seus pontos altos. A primeira delas é a mais fascinante, principalmente pelo universo gótico de uma direção de arte brilhante que encanta o espectador. Até mesmo as motivações dos personagens são mais justificáveis. Logo em seguida, a trama da estudante suicida também merece atenção – seus vídeos são mórbidos mas incrivelmente belos. Por último e com menor graça é o drama do rejeitado que redescobre uma paixão de criança.

Assim, “Franklyn” é um projeto dividido em partes, facilmente identificáveis. Não rende um filme por completo, porém cada experiência apresenta seu valor. Só assistindo para entender.

Nota: 7,0

Feliz Natal


Que Selton Mello abandonou a televisão para se dedicar ao cinema todo mundo sabe. Para comprovar isto, vale relembrar a sua última aparição no seriado “O Sistema” (2007), e antes disto em “Os Aspones” (2004). Já nas telas da sétima arte o astro não cansa de trabalhar: em 2008 protagonizou o maior sucesso nacional do ano, “Meu Nome Não é Johnny”, e ainda lançou seu primeiro filme como diretor, este “Feliz Natal”.

Apesar das ótimas críticas e diversos prêmios, o que muita gente não sabe é que “Feliz Natal” é uma tremenda bomba. Aquele tipo de filme que só os críticos gostam. Ao tomar conhecimento do projeto, esperava-se algo mais profundo quando a sinopse é de um cara que depois de anos longe de casa visita sua família desajustada em plena noite de Natal. Ou então, supunha-se que seria algo mais complexo/intelectual vindo dos olhares de Selton Mello.

O resultado é o deslumbramento de um diretor estreante, que opta por planos inusitados, próximos demais dos atores, e a presença de uma câmera inquieta, atordoante. A edição picoteada utiliza imagens entrecortadas que incomodam e quebram o ritmo das cenas. Desconsiderando o péssimo trabalho na direção, o roteiro também não ajuda com um texto fraco, grosseiro e sem atrativos. “Feliz Natal” é um teste de paciência, um filme que cura qualquer insônia. E falo isso com enorme pesar, já que admiro por demais o trabalho de Selton.

Nota: 2,0

Gran Torino


Clint Eastwood é um rabugesto veterano da Guerra da Coréia que vive em um bairro dominado por imigrantes asiáticos. Após a morte da esposa, ele passa a alimentar uma revolta contra a própria família, o padre que tenta ajudá-lo e os “bárbaros” que moram nas casas vizinhas.

O astro de 79 anos mostra-se completamente à vontade tanto na frente como atrás das câmeras. A direção precisa dá o tom certo para a narrativa tipicamente masculina e sabe trabalhar pouco a pouco com as rachaduras emotivas. O intransigente personagem de Eastwood acaba salvando sem querer a vida de Thao, um garoto oriental que em outra ocasião tentou roubar seu Gran Torino 1972. Surge entre o velho e o moço uma delicada relação.

O projeto foi injustamente esquecido nas principais premiações, e merecia no mínimo algumas indicações – principalmente para a atuação de Clint e sua obra como um todo. “Gran Torino” satisfaz alguns conflitos da trama com certa rapidez (algo inverossímel) e apresenta um bom número de clichês, mas ainda assim é um belo filme. Certamente está entre os melhores de 2008.

Nota: 8,5

A Verdade e Só a Verdade


Jornalista escreve um artigo para o jornal Sun-Times revelando a identidade de uma agente secreta da CIA e sua mais recente missão na Venezuela. Mesmo sofrendo duras pressões para confessar quem é a sua fonte, ela recusa-se a falar e é presa. O transcorrer do caso é o que acompanhamos nas quase duas horas de “A Verdade e Só a Verdade”, um drama inspirado livremente em uma história real.

O filme suscita muitos questionamentos éticos considerando as atitudes por parte da jornalista, do juri e da CIA. O processo é polêmico por natureza e a produção tenta não julgar as partes envolvidas – por mais que deixe claro ser à favor da mocinha. O pulso firme do diretor Rod Lurie gera um bom andamento para a história mantendo-a sempre interessante. Porém, o brilho é de Kate Benckinsale que na pele da protagonista apresenta uma de suas melhores atuações. “A Verdade e Só a Verdade” não possui intenções de fazer muito alarde entre os lançamentos, mas é uma fita que pode surpreender.

Nota: 7,8

O Efeito da Fúria


O ponto de partida deste drama é um tiroteio dentro de uma lanchonete. Na sequência, acompanhos por meio de histórias paralelas o que mudou na rotina dos sobreviventes ao trágico acontecimento. O estranho é que algumas das histórias não possuem ligações entre si, outras não apresentam o mínimo propósito e as demais nem chegar a ser abaladas pelo incidente na lanchonete. Ao assistir “O Efeito da Fúria”, sente-se que o roteiro procura filosofar sobre a sociedade americana, mas nunca chega a fazê-lo.

Me pergunto qual foi o interesse de tantos atores conhecidos (Kate Beckinsale, Dakota Fanning, Guy Pearce, Jackie Earle Haley e Josh Hutcherson) e mais alguns recentemente oscarizados (Forest Witaker e Jennifer Hudson) por esta produção. Boa parte dos personagens não necessitava de figuras renomadas para interpretá-los, chega a ser um desperdício de talentos - ainda mais em um filme que não leva a lugar nenhum.

Nota: 4,0