Like Crazy


Qualquer encanto que “Like Crazy” possa provocar deve-se consideravelmente a Felicity Jones. A atriz de 28 anos está hipnotizante como Anna, uma estudante britânica de passagem pelos Estados Unidos que se apaixona por seu colega de faculdade. É ela que traz emoção e autenticidade a um amor que, em um segundo momento, deverá sobreviver à distância: Anna é banida do país porque não renovou seu visto.

“Like Crazy” explora o relacionamento de um jovem casal com um olhar romântico e intenso, valorizando momentos íntimos que são essenciais para desenvolver a intimidade dessas duas pessoas que acabaram de se conhecer e, seja pelo destino ou não, terminam se apaixonando. Enquanto Feliciy confere toda essa paixão ao projeto, o seu par, Anton Yelchin, em alta por filmes como “Star Trek”, “Um Novo Despertar” e “A Hora do Espanto”, não demonstra tanto envolvimento com o personagem e fica no campo da apatia.

Contornando esse detalhe, o diretor Drake Doremus confere um ponto de vista quase documental para a história, como se uma câmera estivesse escondida gravando um acontecimento real. Porém, se por vezes o cineasta investe na simplicidade, o que deixa o ritmo lento, por outras, utiliza truques para não deixar o interesse diminuir, como passagens de tempo em cortes acelerados. É o caso da bela sequencia dos vários dias em que o casal não sai da cama.

Essa jogada com a trama de certa maneira funciona e até confere uma personalidade ao projeto. “Like Crazy” torna-se uma mistura de romance adolescente com drama alternativo. O ponto negativo disso tudo é que seu desenrolar vem a ser cansativo e não atinge com tanta força a mensagem final que busca transmitir. O fôlego apresentado no início fica mais escasso quando aproxima-se do encerramento. Mas, isso não chega a ser um problema para o trabalho de Doremus e, principalmente, de sua musa Felicity Jones, que, mesmo com essa suposta decaída, consegue até o último segundo deixar o espectador vidrado na tela. Like crazy.

Nota: 7,5

Ganhar ou Ganhar - A Vida é Um Jogo

Paul Giamatti é o cara mais chato do planeta. Disso não há dúvidas. Salvo “Anti Herói Americano” e “Sideways”, em que ele ainda era “fresh” no mercado, os seus filmes são tão apáticos como ele. Basta assistir “A Dama da Água”, “Almas à Venda”, “A Minha Versão do Amor” e este “Ganhar ou Ganhar – A Vida é Um Jogo”.

Para não variar nem um pouco, Giamatti interpreta o mesmo personagem de sempre: um homem fracassado e sem esperanças. Dessa vez, ele é Mike Flaherty, um advogado que vê seus clientes diminuírem semanalmente e, para não entrar no vermelho, solicita ser tutor de um vizinho com problemas mentais. Ao invés de deixar o velho em sua própria casa, despacha- o para um asilo. Em seguida, o neto, um rapaz de uns 15 anos, vem procurar auxílio com o avó depois que sua mãe é internada em uma clínica de reabilitação.

A partir desse momento, o filme ganha fôlego. O garoto é amparado pelo advogado e sua esposa Jackie (Amy Ryan) e revela-se um promissor lutador de wrestling, motivando a equipe do colégio onde Mike tira um ganho extra como treinador. E, assim, quando a narrativa parece estar tomando um rumo interessante, surge a mãe do jovem para complicar a situação e tornar tudo banal.

“Ganhar ou Ganhar” encerra sem chegar a lugar algum. Fica bem longe desenvolver uma mensagem válida sobre o jogo da vida. Pior que isso, não apresenta nada de novo para o gênero drama/indie/alternativo. O que o filme tem de bom é a presença de Amy Ryan, que, apesar de ter sido indicada ao Oscar por “Medo da Verdade, ainda não ganhou um papel à sua altura. As melhores cenas são dela com o garoto.

Nota: 5,5

30 Minutos ou Menos

Depois de “Zumbilândia” emplacar como uma comédia divertida e inteligente no universo dos filmes de zumbi, o novato diretor Ruben Fleischer apostou em uma trama curiosa para o seu próximo projeto: filhinho de papai e seu amigo seqüestram um entregador de pizza, colocam na vítima um colete explosivo e mandam o garoto roubar um banco. Se ele não conseguir a grana em dez horas, a dupla aciona a bomba.

O “pizza boy” é Jesse Eisenberg, que trabalhou com o cineasta em “Zumbilândia” e recentemente foi indicado ao Oscar por “A Rede Social”. Ele tem como melhor amigo Chet, interpretado por Aziz Ansari, que segue no automático tal qual seu hilariante Tom Haverford de “Parks and Recreation”. Os dois até possuem certa química como parceiros, mas os personagens são unidimensionais e não despertam a esperada torcida do público.

O argumento interessante que chama a atenção no início não sustenta o filme por completo. As piadas raramente funcionam e o emaranhado da trama (à todo momento alguém está em vantagem) torna-se cansativo já nos 50 minutos de duração – e olha que são apenas 83 minutos ao todo. Sem risos e uma ação capenga, “30 Minutos ou Menos” não engrena como deveria e termina como um filme apenas “ok”.

Nota: 6,5

Sucker Punch - Mundo Surreal


Reunir uma porção de referências à cultura pop, às vezes, pode dar certo, vide os filmes de Quentin Tarantino e Robert Rodrigues, porém, em outros casos o resultado pode repercutir de forma insatisfatória, como uma junção bagunçada e sem sentido, conforme o que aconteceu com o ambicioso projeto de Richard Kelly, “Southland Tales – O Fim do Mundo”. Em “Sucker Punch – Mundo Surreal”, o diretor Zack Snyder consegue ficar no meio termo. Mistura samurais, dançarinas de cabaré, robôs e um dragão medieval com destreza, mas, por outro lado, peca em um terceiro ato cansativo e com encerramento simplório.

O caldeirão pop de Snyder tem um motivo. “Sucker Punch” é um projeto pessoal. Depois de remakes (“Madrugada dos Mortos”) e adaptações de quadrinhos (“300”,“Watchmen”) e livros (“A Lenda dos Guardiões”), o cineasta optou por embarcar em uma história integralmente de sua autoria. Essa viagem inicia com a jovem Babydoll, que após a morte da mãe, passa a ser assediada pelo padrasto e, em uma das investidas dele, termina acidentalmente matando a irmã. O padrasto convence a polícia de que a menina enlouqueceu e a mandam para um hospício fazer uma lobotomia. Até a chegada do médico responsável pelo procedimento, que deve ser em cinco dias, ela cria um universo fantasioso para sobreviver aos horrores do local.

Nesta nova realidade, Baby Doll se junta as demais paciente para bolar um plano de fuga: precisam conseguir cinco elementos (uma chave, uma faca, um isqueiro, um mapa e um item não revelado). A partir de então ocorrem cinco cenas de ação na tentativa de obter tais “objetos”, cada batalha em um cenário diferente: Japão feudal, Primeira Guerra Mundial, castelos medievais e um futuro tecnológico. Todas com tomadas surpreendentes e repletas de efeitos especiais fantásticos, em um estilo semelhante ao videogame. Dá vontade de pegar um controle e sair jogando.

O problema é que, apesar de serem sequencias visualmente deslumbrantes, não são tão interessantes quanto o restante da narrativa, ambientada no hospício (mundo real)/cabaré (surreal). As cenas de batalha não possuem adrenalina e emoção suficientes para provocar torcida e envolvimento do público, o que acarreta em um terceiro ato cansativo. Se no início a ação era impactante, passa a ser tediosa (e até previsível).

Ao contrário, tem-se afinidade com o que acontece fora das batalhas, nas aulas de dança de Madame Gorski (Carla Gugino), nas ameaças do vilão Blue Jones (Oscar Isaac) e nas discussões sobre como escapar do centro psicológico. Uma das cenas mais belas da produção acontece logo no início, quando o trágico caminho que leva Baby Doll à internação é mostrado sem diálogos, apenas ao som de uma versão alternativa de “Sweet Dreams”. Quase como em um videoclipe. São nesses detalhes que Snyder acerta.

O pacote de referências certamente é melhor apreciado pelos viciados em cultura pop, mas o longa também contempla os fãs de filmes de ação e ficção científica. Além do mais, mostra as beldades de seu elenco (Abbie Conish, Jenna Malone, Vanessa Hudgens e Jamie Chung) como guerreiras duronas, vestindo roupas curtas e lutando de salto alto. É com esse girl power que elas enfrentam os orcs, robôs, dragões e monstros. E convencem. Com exceção da protagonista, Emily Browning, que no papel de Baby Doll está tão expressiva que um pires.

Mesmo com o frágil terceiro ato, arrematado ainda com a revelação de auto-ajuda do quinto item, “Sucker Punch” é um filme que explora a linguagem visual, utilizando paletas inspiradas no soturno de “Edward Mãos de Tessoura” ao colorido futurístico de “AI – Inteligência Artificial”, e assim, demonstra uma pluralidade de conteúdo bastante interessante. E, apesar de leves tropeços, também é muito divertido.

Nota: 8

O Vencedor


“O Vencedor” veio para David O. Russel conquistar o respeito na indústria cinematográfica. O diretor de comédias como “Procurando Encrenca” e “Três Reis” estava parado desde 2004, quando lançou divertidíssimo “Huckabees – A Vida É Uma Comédia”. O hiato de seis anos serviu para produzir o filme que iria colocá-lo entre os diretores do primeiro time. Após o lançamento de “O Vencedor”, indicado a sete Oscars, o cineasta adquire maior confiança para seus próximos projetos e contribui a fortalecer o poder de astros como Mark Walhberg, Christian Bale, Amy Adams e Melissa Leo.


O desenrolar deste drama é centrado na disfuncional família do boxeador Micky Ward (Wahlberg). Para chegar à consagração com o título mundial de peso levo, ele terá que passar por inúmeras lutas sob o controle do irmão drogado (Bale), da mãe interesseira (Leo) e da namorada pulso firme (Adams). Mais que um filme sobre o esporte, “O Vencedor” aborda os conflitos dos personagens e as aspirações de cada um deles sob o aspirante lutador.


A trajetória de Ward é real e muito curiosa, mas ganha força graças as assombrosas interpretações do quarteto. Christian Bale e Melissa Leo, principalmente, estão possuídos pelas figuras controversas de seus papéis. Os dois utilizam o boxeador como um trampolim para se autopromover e lucrar em cima das lutas. Amy Adams como a namorada é quem vai contra essa “exploração” e provoca a fúria da matriarca. O protagonista, Wahlberg, é o mais prejudicado, com um personagem linear e sem tantas nuanças – deve ser por isso sua lamentável ausência na disputa pelo Oscar.


Nota: 7,8

Reencontrando a Felicidade

Um trágico acidente tira a vida do filho de quatro anos do casal Becca (Nicole Kidman) e Howie Corbett (Aaaron Eckhart). O sofrimento da morte é sentido de diferentes formas pelos pais: enquanto ele permanece assistindo vídeos do garoto e decide integrar um grupo de ajuda para pessoas que perderam seus familiares, ela prefere doar o cachorro do filho e mudar de casa, desfazendo-se de tudo que lembre a existência do pequeno. No desenrolar deste drama, o roteiro busca ir a fundo nas dores dos personagens, definindo como fio condutor um tom de veracidade e melancolia impressionantes.

O diretor John Cameron Mitchell opta por iniciar sua narrativa após o incidente, desprezando a “vida feliz” da família antes da tragédia. Assim, abre-se as cortinas e o espectador é arremessado diretamente no olho do furacão, imerso em um turbilhão de sentimentos - todos altamente expressados em desempenhos viscerais do casal protagonista. O destaque é para Kidman, que mais uma vez encara uma personagem de maneira intensa, expondo gradativamente a complexidade de Becca.

No mais, “Reencontrando a Felicidade” (tradução desprezível) é uma história linear, sem surpresas, com uma abordagem sensível que dá razão para as atitudes de quem foi abalado por uma perda. O impacto da trama vem ao final, quando percebe-se que o tom de tristeza sem fim realmente não irá acabar.

O inusitado do projeto é o envolvimento de um diretor tão irreverente como Mitchell (“Hedwig”, “Shortbus”) realizando um drama convencional. O cara se saiu bem.

Nota: 7,9

Um Lugar Qualquer


Um carro andando em círculos. O novo filme de Sofia Coppola abre com esta cena simples para definir a atual etapa da vida de seu protagonista: Johnny Marco (Stephen Dorff), um astro de cinema cuja rotina é sexo casual, cigarro e bebida. Os três elementos de solidão são acompanhados durante a exibição de “Um Lugar Qualquer” até o momento que surge a encantadora filha de 11 anos do bem sucedido ator (Elle Fanning), exercendo na trama a força motivadora para a transformação do jovem e perdido milionário.

O pequeno conto, como pode ser reconhecido este projeto de Coppola, vem depois do pretensioso “Maria Antonieta” justamente para mostrar o retorno às raízes da diretora. “Um Lugar Qualquer” é um filme lento, de poucas falas, com fotografia sutil e uma filmagem certas vezes amadora. Aqui, o transcorrer da narrativa não tem pressa, concentrado em explicitar como a vida de Johnny é vazia, apesar de possuir tudo ao seu alcance. O caminho é conhecer o personagem até ele realmente se enxergar como aquela figura sem forma, vista na cena em que utiliza maquiagem para ficar envelhecido.

O filme é indicado para os apreciadores da filmografia da diretora. Caso contrário, provavelmente não passarão dos dez minutos iniciais da projeção. Em meio às críticas controversas, a produção vem recebendo alguns elogios e foi melhor no 67° Festival de Cinema de Veneza, onde levou o Leão de Ouro de Melhor Filme. O quarto filme de Sofia Coppola também tem sido acusado por ser praticamente uma releitura de “Encontros e Desencontros”, a obra-prima da cineasta. Algumas semelhanças são inegáveis.

Nota: 7,4