Crítica: Grace de Mônaco



O reinado de uma das maiores atrizes da história do cinema foi interrompido quando esta casou-se com o príncipe-soberano de Mônaco. Grace Kelly, privilegiada por sua beleza e talento, deixou os Estados Unidos e abandonou a carreira para viver um conto de fadas. Deu início, então, a um outro reinado: o de princesa num castelo no sul da França.

Apesar de fazer parte da realeza, Grace não viveu a esperada "vida perfeita". Atormentada pelas consequências de sua decisão, a jovem de apenas 26 anos enfrentou conflitos familiares, políticos e pessoais. O filme "Grace de Mônaco" concentra-se nesse período de crise da biografada, de dezembro de 1961 à novembro de 1962, quando ela percebe que não poderá mais ser uma atriz e viverá à sombra de seu importante marido.

Na essência, Grace era uma mulher destemida, de opiniões polêmicas e independente. Características abomináveis para uma nobre esposa. Sem apoio do marido e também dos pais opressores, a princesa vê-se perdida nos corredores do palácio. Ainda mais quando é proibida de aceitar o convite do mestre do suspense para protagonizar seu mais novo projeto "Marnie - Confissões de uma Ladra".

A ex-atriz, então, passa a ter aulas de etiqueta e de francês, a fim de aprimorar sua performance como princesa. Sua imagem perante o povo de Mônaco é de uma estrangeira que não merece representar o país. No meio das adversidades, Grace precisa enfrentar a crise em seu casamento e a provável guerra entre França e Mônaco, ela encontra motivação com os trabalhos humanitários. Assim, soma-se os conflitos (internos e externos) em cena, inclusive com diversos momentos de negociação política. Porém, a sensação é de frieza, falta emoção na tela.

A culpa é do roteiro superficial que pouco explora a sua homenageada. O longa-metragem de Olivier Dahan é um filme bom, porém morno, algo semelhante ao resultado visto recentemente em Hitchcock e Diana, ou seja, muito distante do êxito que o cineasta obteve com "Piaf - Um Hino ao Amor". A ideia transmitida em sua produção é de que Grace Kelly utilizava a beleza e a inteligência para resolver seus problemas, como demonstra o inspirado discurso na baile da Cruz Vermelha. Um dos pontos altos da produção.

Nicole Kidman, que foi dura e injustamente criticada no Festival de Cannes, segura o filme. Mesmo que sua atuação não seja arrebatadora, é competente o bastante e não faria milagre frente a um texto ruim. Soma-se ao elenco, boas interpretações de Tim Roth e Frank Langella, além de participações quase imperceptíveis de Paz Vega e Parker Posey.

Para completar a mediocridade da adaptação, o filme insinua um final feliz para Grace Kelly. Qualquer espectador disposto a refletir um pouco sobre a história precisará de dois segundos para perceber que ela dificilmente viveu um conto de fadas. Grace rejeitou sua bem-sucedida carreira para cuidar dos filhos e de um marido autoritário, distante de amigos e família. Escolhas da princesa de Mônaco e da atriz de cinema que mereciam um melhor acabamento do que o oferecido nesta cinebiografia.

Nota: 6,5

Crítica: Sin City: A Dama Fatal



Quase dez anos separam os dois filmes sobre Sin City. O hiato deu-se, principalmente, por problemas legais, visto que o primeiro projeto foi um sucesso de público e crítica. Com o lançamento de "A Dama Fatal", as comparações são inevitáveis. Se ambos relatam histórias de personagens marginalizados como prostitutas, bêbados e criminosos, diferem no teor e na qualidade dos contos.

Enquanto a estreia de "Sin City", em 2005, apresentava um conjunto coeso de histórias, sendo as três excelentes tramas sobre as figuras mais icônicas da graphic novel, "A Dama Fatal" oscila com tramas mais e menos interessantes, sem manter um ritmo crescente. A abertura com uma fantástica apresentação de Marv oferece todo o impacto proposto pela produção que imita os quadrinhos. Porém, essa prévia logo é esquecida, deixando o brutamontes como um coadjuvante nos enredos protagonizados por outros personagens.

Assim, ele junta-se à narrativa que envolve Dwight (Josh Brolin, substituindo Clive Owen) e sua femme fatale Ava Lord, interpretada por Eva Green, no trecho que ocupa a maior parte da exibição. O ponto alto é a beleza nua da atriz francesa, que se despe praticamente a cada cena, o que faz sentido para uma personagem que a todo momento utiliza a sua principal arma de sedução. Infelizmente o conto que dá nome ao filme não é o melhor em tela. Cai facilmente em clichês estúpidos e numa previsibilidade banal.

Em contrapartida, a trama protagonizada pelo jovem apostador Johnny (Joseph Gordon Levitt, estreando na série) revela-se a mais completa e semelhante à primeira experiência em Sin City. Sua jornada trágica e violenta apresenta, mesmo que em dois momentos, no início e no fim da exibição, a verdadeira face de uma brutal cidade que não poupa ninguém.

Completando a trinca, Nancy (Jessica Alba, em danças ainda mais sensuais) encerra o longa-metragem com uma breve tentativa de vingança ao senador Roark, culpado pela morte de sua paixão John Hartigan (Bruce Willis, em pequenas aparições como fantasma). Os rápidos minutos oferecem a adrenalina necessária, mas a agilidade em conduzir a tão esperada revanche soa simplista demais.

Apesar de deixar a desejar em roteiro, o visual deslumbrante desta suposta continuação recompensa, principalmente quando exibido no cinema. A tecnologia 3D, como em raras vezes, surpreende, não tanto pelos elementos saírem da tela mas pela profundidade e dinâmica no quadro. Logo no início do filme, sequências incríveis como de um desfiladeiro, carros girando em torno de Marv ou a neve caindo sob os prédios são de arregalar os olhos.

"Sin City: A Dama Fatal" pode não ser tão incrível e original como o primeiro projeto, mas a cidade e os soturnos moradores ainda seguem fascinantes. Suas histórias marginais, motivadas principalmente pela sede de vingança, ainda são um presente para os fãs da graphic novel e, também, do cinema noir, gênero esquecido na produção cinematográfica mais recente. Embora o passeio não apresente o mesmo frescor de antes, ainda é muito bom visitar a cidade do pecado.

Nota: 7,8

Crítica: O Protetor



Antes mesmo do lançamento de "O Protetor" nos cinemas, o estúdio da Sony já havia encomendado uma sequência do filme para 2015. A notícia comprova a clara intenção de transformar o projeto em uma franquia, seguindo o estilo do seriado dos anos 1980 "The Equalizer", o qual o filme é baseado. Como esse primeiro capítulo estreou em primeiro lugar nas bilheterias dos Estados Unidos,  do Canadá e do Brasil, a decisão foi acertada.

"O Protetor" acompanha a vida de Robert Call (Denzel Washington), que durante o dia trabalha como atendente em uma loja de ferramentas e à noite lê livros na lanchonete da esquina de casa. Lá, ele conhece uma prostituta russa (Chloë Grace Moretz) sob esquema de tráfico de pessoas. Assistindo aos abusos que a jovem sofre diariamente, Robert decide agir. 

O homem pacato revela ser uma máquina de matar, enfrentando todo o eixo leste da máfia russa em sequências cada vez mais violentas. Tem-se mortes com abridores de garrafas, peso de papel, arames farpados e até furadeiras. E, além da defesa da sua protegida, o veterano passa a ajudar aqueles a sua volta, como os colegas de trabalho. 

Robert, na verdade, é um ex-agente da CIA que trabalha no comércio para disfarçar a sua perigosa personalidade. Provocado pelas injustiças sociais, ele sai das sombras e se torna um justiceiro, praticamente um herói urbano. O que intriga é se esse rastro de sangue terá consequências, pois pouco mostra-se sobre o aval de seus superiores quanto ao método sem freios do Protetor. 

No auge da carreira, com um salário de 20 milhões de dólares, Denzel Washington protagoniza a suposta série de títulos e convence como um sujeito ameaçador, hábil em inúmeros golpes - mesmo estando prestes a completar 60 anos. Na outra ponta da balança, Marton Csokas equilibra o duelo como um vilão igualmente sombrio. 

Porém, o embate entre eles somente ocorre nos últimos minutos da projeção. O diretor Antoine Fuqua aposta em um ritmo lento no início, que desenvolve a relação do policial aposentado com a garota - o que seria a motivação para revelar sua verdadeira identidade. Somente na segunda metade que a produção ganha ares de filme de ação.

"O Protetor", a nova parceria entre Washington e o cineasta (os dois haviam trabalhado juntos em "Dia de Treinamento", que rendeu um Oscar para o ator), é um bom entretenimento. O sucesso nos cinemas só torna ainda mais garantido o futuro da franquia. Não por menos os produtores deixaram uma pista ao final do filme, quando o herói atende um pedido de ajuda pela internet. Exatamente como ocorre a cada novo caso do seriado.

Nota: 7