Nine


Rob Marshall retornou ao gênero que lhe consagrou em 2002 com o filme “Chicago”, vencedor de cinco Oscar. “Nine”, na verdade, é um musical da Broadway encenado desde 1982 e baseado no filme “8 ½” de Fellini. A missão do diretor era transpor para as telas a versão dos palcos com muito mais glamour, cortes, coreografias e astros do cinema.

Assim como na obra original, a trama gira em torno de Guido Contini, cineasta famoso que cometeu dois fracassos retumbantes nos últimos anos. O próximo filme é um épico sobre o seu país de origem, a Itália, e é com esse projeto que vem a chance de voltar aos holofotes. Conforme a produção técnica vai definindo os cenários, figurinos, casting e outros detalhes, o diretor que ainda não apresentou o roteiro a ninguém sofre com dificuldades de desenvolver a primeira linha do texto.

A crise de Guido reflete na sua carreira, nas mulheres de sua vida e, conseqüentemente, no roteiro do seu novo filme. Para realizar a obra cinematográfica, primeiro ele terá que lidar com as desconfianças da sua esposa (Marion Cotillard), o fogo incontrolável da amante (Penélope Cruz) e a sedução das fãs (Kate Hudson). Tentando sobreviver em meio ao caos, o personagem volta e meia conversa com o fantasma da mãe (Sophia Loren), relembra fatos determinantes para o seu crescimento, como a primeira experiência com a sensualidade feminina (Fergie) e escuta atentamente os conselhos de uma amiga de anos (Judi Dench).

Guido é estereótipo do homem italiano: másculo, sedutor, bem sucedido e de muitas mulheres. Seria essa a mensagem da música mais marcante do longa: “Be Italian” representada pela cantora do Black Eyed Peas. Tentando ser algo além de sua capacidade, o Guido de Rob Marshall vai mergulhando em um abismo, passando de mulher para mulher, e assim as perdendo. A redenção vai depender do que ele absorver dessa jornada.

Os números musicais pontuam a narrativa para que possamos compreender melhor a angústia de Guido e os desejos das representantes femininas. Na maior parte das vezes essas intervenções chegam através de sonhos, fantasias e alucinações, acrescentando ao desenrolar da história. As músicas enriquecem o drama dos personagens e completam as emoções de cada, sem apelar para transições bruscas entre o real e o fantasioso.

A quantidade elevada de personagens, em certos momentos, prejudica o andamento da trama, já que não encontra soluções para todos eles. Apesar de o foco ser em Guido, as figuras que passam por sua vida tornam-se mais interessantes que o próprio protagonista. O ritmo da produção também é enfraquecido com as mudanças de tramas, justamente porque umas são de presença vital e outras nem tanto assim.

Em contrapartida, o time de estrelas encanta a platéia: Daniel Day-Lewis incorpora o cineasta em crise com perfeição; Nicole Kidman está radiante como a estrela de “Itália”; Kate Hudson requebra e seduz tanto Guido como o espectador; Sophia Loren esbanja a elegância e o charme da mulher italiana; Judi Dench mostra que sabe encarar um número musical com muito esplendor; Penélope Cruz tem verve de sobra para ser o caso picante de Guido; Marion Cotillard emprega emoção e delicadeza à personagem mais bem construída e Fergie completa o time com uma interpretação intensa e extremamente sensual.

Acompanhando o poder hipnótico desse time de beldades, o figurino e os cenários deslumbrantes encaixam-se primorosamente com as seqüências musicais. A fotografia do filme também é um destaque à parte, abusando de tons de rosa e roxo, alterando colorido com preto e branco e realizando jogos de luz e sombras para dar um visual refinado e condizente ao glamour do mundo do cinema. O trabalho de edição, com muitos cortes e em sintonia com as batidas das músicas, merece ser salientado.

A direção de Rob Marshall e o estilo que conferiu ao projeto são semelhantes ao de “Chicago”. A nova produção, infelizmente, peca com o seu desenvolvimento irregular, mas possui atributos inegáveis – como todos aqueles já citados – que o tornam igualmente fascinante. Encarando assim, “Nine” pode ser sexy, contagiante, belo e emocionante. Um espetáculo do início ao fim. Basta deixar-se levar pelo ritmo da música.

Nota: 9

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