Desejo e Reparação


Depois de adaptar brilhantemente Orgulho e Preconceito, Joe Wright assina a direção deste drama de época impecável. Mais uma vez, Wright transporta para a linguagem cinematográfica uma obra literária, no caso, o romance Reparação, de Ian McEwan.

A musa do diretor, Keira Knightley, retoma a parceria e faz par romântico com James McAvoy (O Último Rei da Escócio). No filme, a relação dos dois é posta em risco quando uma carta é enviada por engano e com ela, uma série de fatos mal explicados terminam contribuindo para que a desgraça do casal.

O novo trabalho do diretor consegue ser superior ao de sua estréia - o que transforma Desejo e Reparação em um dos filmes obrigatórios de 2007. O longa-metragem venceu o Globo de Ouro como Melhor Filme Drama e foi indicado a 7 Oscars.

Fora a badalação em volta do projeto, a produção conduz o espectador pelo universo de McEwan numa mistura de emoções, passando por várias décadas e linhas narrativas. Conta ainda com desempenhos super-competentes da nova geração de atores (Kiera, James McAvoy e da mocinha Saoirse Ronan) e uma fotografia e direção de arte deslumbrantes, ressaltadas cores intensas.

Desejo e Reparação é um passatempo de luxo e o mérito é todo de Joe Wright! Ele consegue construir um filme de época moderno, fazendo com que a trama situada na Inglaterra de 1935 seja atemporal. O tema pesado sobre culpa e arrependimento ganha fácil identificação e aposta em um desfecho coerente ao demonstrar que a redenção nem sempre é possível.

Nota: 9

Capítulo 27


Capítulo 27 é baseado em fatos reais e revela três dias determinantes na vida de Mark Chapman, o homem que assassinou o ícone dos Beatles, John Lennon. Para viver o protagonista, Jared Leto ganhou 32 quilos e adquiriu uma fisionomia idêntica ao do assassino. A dedicação ao papel pode ser identificada nas alterações de estado de espírito, no olhar psicótico e principalmente na voz fina e ameaçadora.

O projeto desde o início foi polêmico, a começar pelo tema. Um site de fãs do cantor tentou impedir o término das filmagens, alegando que a produção procurava amenizar a culpa de Chapman. Agora, após assistir o longa, pode-se dizer que o filme não julga os personagens, apenas faz um relato dos acontecimentos.

Infelizmente a abordagem sobre o criminoso não chega a lugar nenhum. O roteiro poderia ser resumido em uma linha: o cara acreditava estar possuído por Holden Caulfield, personagem de J.D.Sallinger em seu livro O Apanhador No Campo de Centeio. A partir daí, a minúscula trama vai sendo estendida ao máximo. Nada acontece, são diálogos sofríveis, nenhum clímax e para completar, Lindsay Lohan perdida em um papel inútil. Resultado: os 80 minutos parecem 2 horas de enfado.

Nota: 4

Obs: O título do longa faz uma alusão ao livro de J.D. Salinger, que possui 26 capítulos. O vigésimo-sétimo seria a história do atormentado assassino do ex-beatle.

Na Natureza Selvagem


A história real de Chris McCandless é retratada pelo olhar sensível de Sean Penn em Na Natureza Selvagem. O jovem de 23 anos interpretado por Emile Hirsh (ótimo) abandona a família e a sua boa condição social para viver como um andarilho, desprendendo-se do materialismo e com o objetivo de chegar ao Alaska. A viagem de Chris não inclui nada além de sua mochila, e assim ele vai pedindo carona, conseguindo uns bicos de trabalho e conhecendo pessoas pelo caminho.

Essa fantástica aventura serve como um alerta para a nossa sociedade consumista. Claro que Chris entrou de cabeça nessa idéia e passou dos limites. Porém, ele era um cara inteligente e determinado. Tudo o que ele passou certamente foi uma experiência incrível e é isso o que presenciamos durante o filme.

Sean Penn, pela quarta vez assumindo a direção de um longa-metragem, dá ritmo a narrativa que tinha tudo para ser uma monotonia. A direção equilibrada, com uma edição moderna, tanto de estilo como também nas idas e vindas no tempo, deixam o projeto bem redondo. A trilha sonora de extremo bom gosto encaixa-se perfeitamente com o contexto e foi escrita especialmente para o drama pelo vocalista do Pearl Jam, Eddie Vedder. Na Natureza Selvagem é emocionante, intenso, reflexivo e, como cinema, é tão completo como a trajetória de Chris.

Nota: 8

O Sobrevivente


O diretor alemão das obras-primas “Fitzcarraldo” e “O Enigma de Kaspar Hauser”, Werner Herzog, realiza seu primeiro filme hollywoodiano. O Sobrevivente é a história real sobre um piloto de guerra que em seu primeiro vôo cai em Laos durante a Guerra do Vietnã. Ele é capturado pelos inimigos, torturado e enviado para um campo de priosioneiros. Junto com os companheiros de “cela”, ele passa a planejar a sua fuga.

Christian Bale mais uma vez mergulha de cabeça ao interpretar um personagem. A entrega do ator chegou ao limite: ficou exposto à sanguessugas, comeu vermes e perdeu vários quilos. O cineasta não poupou Bale das piores cenas e, assim apresenta uma visão bastante real sobre o fato. As chocantes cenas de violência aumentam a tensão e proporcionam um thriller de guerra visceral.

Ironicamente, as duas horas que relatam meses de sofrimento do protagonista passam num instante e o filme faz seu registro sobre a luta pela sobrevivência com muita habilidade e força.

Nota: 8,0

Medo da Verdade


Ben Affleck não aparece na frente das câmeras em Medo da Verdade. O ator estréia na direção com essa adapatação do romance de Dennis Lehane, o mesmo que escreveu Sobre Meninos e Lobos. O trabalho de Aflleck é de um profissionalismo impecável, muito semelhante a direção segura de Clint Eastwood na outra adpatação do autor.

O protagonista do projeto é o irmão de Ben, o caçula Cassey Affleck, que já havia se destacado em O Assassinato de Jesse James Pelo Covarde Robert Ford. Aqui, Cassey é um detetive particular que está investigando, junto com sua parceira e amante, o desaparecimento de uma criança.

O jovem ator não decepciona e mostra-se competente para segurar o projeto, mas quem se sobressai é Ed Harris. Com um estilo parecido com o de Viggo Mortensen em Senhores do Crime, o veterano esculpe um personagem singular, favorecido pela interpretação pontual. Outra atuação também vale o destaque: Amy Ryan apesar de aparecer pouco em cena, está realmente excelente como a mãe drogada da menina desaparecida e sua indicação ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante é mais do que merecida. Para completar o elenco, Morgan Freeman em uma ponta de luxo.

Quanto ao mistério do sumiço da garotinha, o roteiro não perde o fôlego até a última cena quando é revelada a verdade. Consegue ainda aplicar reviravoltas e mudanças de percepção sem ofender o espectador. A trama interessante garante a atenção do público o tempo inteiro e Medo da Verdade revela-se um bom filme policial contemporrêneo.

Nota: 7,4

No Vale das Sombras


Após vencer o Oscar por Crash – No Limite, o diretor Paul Haggis decidiu tocar em um dos pontos fracos dos norte-americanos: a guerra no Iraque. Apesar de ser baseado em fatos reais, o roteiro de sua autoria valoriza os personagens, dando a amplidão adequada para cada um dos envolvidos no desaparecimento de um soldado que recém retornou aos Estados Unidos.

Tommy Lee Jones, indicado ao prêmio da Acadêmia esse ano, realiza um exercício de atuação com profundidade, equilibrando a amargura e a determinação incessante de esclarecer o caso. Dividindo a tela com ele, Charlize Theron surge um pouco apagada, mas ainda assim competente. O elenco de apoio conta com Susan Sarandon, James Franco e Josh Brolin.

O andamento calmo não cansa o espectador, só faz com que a produção adquira a densidade que a trama precisa, uma vez que o realismo e a honestidade são presentes durante toda investigação. A crítica fica por conta de uma cena com a bandeira dos Estados Unidos, onde cabe assistir o filme para descobrir. Bom entretenimento, bem realizado e com conteúdo.


(spoiler) O roteiro acaba indo além de apenas julgar o papel dos EUA na guerra, o projeto mostra como os soldados que voltaram do conflito chegam em seu país. O exército transforma as criaturas em monstros, destruindo seu psicológico através da crueldade e frieza pelo qual passam. Esse é um ponto muito interessante abordado em No Vale das Sombras. As feridas ficam abertas por mais tempo do que se imagina.

Nota: 7,5

Antes Só Do Que Mal Casado


Os diretores de Quem Vai Ficar com Mary? retomam a parceria com Ben Stiler nessa comédiia cujo próposito é apenas render boas risadas. Para variar um pouco, o astro interpreta um coitado azarado que não se dá bem com mulheres após o rompimento com sua noiva. Justamente no dia dos namorados, o cara encontra a garota perfeita e estando apaixonados, casam em seguida. Na lua-de-mel, Stiler descobre que a moça é bem diferente daquilo que ele imaginava.

Até aí, os irmãos Farrelly sabem desenvolver o filme de forma engraçada e com bom humor. Mesmo quando as piadas não tem graça, passam sem comprometer. Porém, na metade da sessão, com o personagem principal ainda na viagem de núpicias, ele acha aquela que seria a garota de seus sonhos. Então, a mulher infernal a qual ele se casou é deixada de lado, e com ela toda diversão. Começa outra parte, um romance bobinho que só é interessante nas cenas com a família da nova garota.

Antes Só Do Que Mal Casado diverte a platéia e esse é o seu objetivo. Quem mais aproveita o projeto é Ben Stiller que comprova seu carisma e talento. Assim, o filme garante algumas risadas e apesar de inconstante, é válido.


Nota: 7,0

O Orfanato


Assim como em A Espinha do Diabo e O Labirinto de Fauno, O Orfanato é uma espécie de conto de fadas para adultos, onde crianças inocentes são protagonistas de uma história de terror. Coincidência ou não, Guillermo del Toro produziu esse último filme e foi diretor dos dois inicialmente citados.

Para não estragar as surpresas, o que dá para saber da história é que Laura, junto com o marido, mudou-se para um casarão onde antigamente funcionava um orfanato - lugar este em que ela passou parte de sua infância, até ser adotada. Na nova casa, o filho do casal faz amigos imaginários, que estranhamente possuem os mesmos nomes dos amigos de Laura da época em que ela era criança e viveu na mansão.

Começa aí esse longa-metragem poderoso, no qual J.A Bayona estréia na direção com uma estrutura narrativa rara. O filme é um suspense à moda antiga, cujo ritmo lento ajuda a envolver o espectador e o deixa cada vez mais angustiado com o enredo.

Parecidíssimo com Os Outros tanto na forma em que é conduzido como também no roteiro centrado em uma figura feminina, a produção certamente vai agradar os fãs de mistério. O Orfanto é um conto macabro de trama inteligente e fascinante. Tomara que ele revitalize o gênero através da valorização das boas histórias de terror, sem apelar para mutilações e sustos fáceis.

Nota: 8,4

Jogos do Poder


Nas mãos de Mike Nichols (Closer), essa produção que poderia ser uma chatice torna-se um longa-metragem bem amarrado e interessante. Tom Hanks é um congressista “boa vida”, que só se mexe para estar acompanhado de mulheres bonitas e de um bom uísque. Junto com sua amante, uma socialite de Houston, e mais um agente da CIA, ele vai contribuir para a queda da União Soviética e o fim da Guerra Fria.

Esse não é um filme de heróis. Até porque a produção não julga os personagens, apenas tenta provar que não é tão difícil mudar o curso da História. O feito das três figuras centrais vai determinar, futuramente, a criação de grupos como o Taliban e Al-Qaeda, gerando o arrasador movimento terrorista.

Inspirado em uma história real, Jogos do Poder é bem contado, prende a atenção e discute fatos políticos que aconteceram e agora parecem esquecidos. É um resgate na história para entender como originou a guerra que hoje é praticada. As boas atuações do invejável elenco só tornam o projeto ainda melhor.

Nota: 8,0

Um Plano Brilhante

Essa produção modesta de suspense traz como atrativo os nomes de Michel Caine e Demi Moore no elenco. No filme, os dois são responsáveis por um engenhoso roubo de diamantes, que pretende não deixar pistas. Será que isso é possível?

A história passada em Londres, na década de 60, inicia quando um zelador e uma executiva injustiçada decidem “fazer a limpa” no cofre da empresa em que trabalham, a London Diamond Corporation. O plano simples reserva surpresas e envolve o público com uma trama curiosa.

O filme se assemelha à produções clássicas do gênero policial, principalmente pela reconstituição da época, que impossibilita o uso da avançada tecnologia atual. O roteiro é livremente inspirado em uma história real. Demi Moore sabe criar uma funcionária amargurada, contida e muito elegante, ao passo que Michael Caine discretamente valoriza seu personagem nos detalhes.

Um Plano Brilhante é entretenimento garantido que não requer reviravoltas e truques para torná-lo melhor.

Nota: 7,8