O Escafandro e a Borboleta


Jean-Dominique Bauby, apelidado de Jean-Do, foi editor da revista Elle e transitava pelo badalado mundo das celebridades francesas. Repentinamente, aos 43 anos, sofreu um derrame que o deixou em coma durante três semanas. Ao despertar, descobriu-se incapaz de mexer qualquer parte do corpo – exceto o olho esquerdo. Na tentativa de comunicar-se com os médicos e familiares mais próximos, ele pisca uma vez para significar “sim” e duas vezes para “não”.

O diretor Julian Schnabel retrata em “O Escafandro e a Borboleta” o processo de adaptação de um homem ativo e saudável a um estado de vida vegetativo e sem muitas perspectivas de melhora. Em uma das passagens do longa, o protagonista afirma em narração que além do olho, duas coisas não estão paralisadas: a sua imaginação e a sua memória. Embora esteja preso nessas limitadas condições, o cérebro funciona perfeitamente e não pára um segundo de maquinar.

Até os quarenta minutos iniciais o espectador enxerga somente através dos olhos do protagonista e a experiência é reproduzida de forma perfeita, trazendo o apreciador da película para o interior do personagem. Também presente no roteiro estão metáforas para exemplificar a situação dramática de Jean-Do, como quando o compara com uma borboleta presa nas garras de uma planta carnívora, ou ainda, quando faz o paralelo sutil entre o desmoronamento de falésias com o desmoronamento de sua vida.

O homem por trás do projeto, Julian Schnabel, foi premiado em Cannes como Melhor Diretor e o seu trabalho é realmente um primor. A obra é tão fantástica que supera com larga margem outra produção cuja temática é semelhante e além de tudo faturou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, “Mar Adentro”.

Em “O Escafandro e a Borboleta”, a irretocável edição alia-se com imagens explêndidas, principalmente quando os devaneios de Jean-Do são externados visualmente, como em sonhos ou lembranças – esta aí a imaginação e a memória novamente. Porém, tudo não faria sentido se não estivesse um brilhante ator no comando desta difícil transposição para as telas. Mathieu Amalric divide os méritos do projeto. É difícil mensurar o envolvimento e a dedicação com esta peça por parte de toda equipe, mas é fácil afirmar que o resultado obtido é um verdadeiro encanto, do início ao fim.

Nota: 9

2 comentários:

pirs disse...

Esqueceu de mencionar que o filme é baseado em fatos reais! E que, pouco tempo depois de finalizar o livro que deu origem ao filme, o Jean-Do de verdade acabou falecendo, com uma cara de "missão cumprida."

Excelente filme mesmo.

pirs aqui.

Guilherme Kaster disse...

Filmaço! Muito bom mesmo... Crônica excelente Max!

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