Crítica: É o Fim


James Franco resolve dar uma festa na sua mansão e convida uma série de atores e cantores do momento, entre eles Seth Rogen, Jonah Hill, Jay Baruchel, Danny McBride e Craig Robinson. No meio da bebedeira e muita loucura, crateras profundas brotam do chão e luzes azuis sugam as pessoas em direção ao céu. Essa é grande ideia de “É o Fim”, filme que coloca jovens atores da comédia americana interpretando a si mesmos durante o apocalipse.

Escrito pelos roteiristas de “Superbad” e “Segurando as Pontas”, o projeto é um deboche quanto aos selos que caracterizam as celebridades. Os seis amigos, todos integrantes do time de Judd Apatow (“O Virgem de 40 Anos”, “Ligeiramente Grávidos”) praticam autoreferências o tempo todo, com piadas internas que se tornam eficazes quando se conhece os atores e seus filmes.

O grupo aproveita o fim do mundo para refletir sobre a vida e rir de si mesmo. Falam do fracasso de Seth como “O Besouro Verde”, o peso da indicação ao Oscar de Hill para “Moneyball”, os questionamentos sobre a sexualidade de Franco, o fato de Baruchel não ser famoso e outros absurdos que provocam as mais altas risadas.

Recheado de participações especiais, “É o Fim” concentra na balada apocalíptica personalidades como Jason Lee, Jason Segel, Paul Rudd e Christopher Mintz-Plasse, além de pontas hilárias de Rihanna, Emily Watson, Michael Cera e até uma boy band que é melhor não revelar. Todos entram no clima da brincadeira nonsense e divertem-se em papéis inesperados, vide Channing Tatum.

O filme é baseado no curta-metragem “Jay and Jay Versus the Apocalypse”, de 2007, produzido pelos dois atores. Com maior orçamento, o longa promove o juízo final com direito a monstros, possessão, sustos e muita violência, numa curiosa mistura de fim do mundo com piadas impagáveis. Definitivamente, é a melhor comédia do ano.

“É o Fim” encontra seu público naquele mesmo espectador que favoritou o alucinógeno “Segurando as Pontas”. É indicado para “dudes”, adolescentes do sexo masculino que vão curtir o humor politicamente incorreto e sem limites. Então, se você é um deles, prepare a cerveja e aperte o play.

Nota: 8

Crítica: O Lugar Onde Tudo Termina


“O Lugar Onde Tudo Termina” marca o reencontro do diretor Derek Cianfrance e o ator Ryan Gosling. A dupla esteve junta no drama “Namorados para sempre”, primeiro longa-metragem do cineasta. Nessa segunda incursão cinematográfica, Cianfrance manteve o tom realista e delicado, criando uma obra profunda e humana sobre pais, filhos e consequências. Uma saga familiar multigeracional da qual ninguém sai impune. 

O filme é claramente dividido em três atos. O primeiro – e o mais interessante – envolve o motociclista de globo da morte, Luke (Gosling) que, para oferecer melhores condições para seu filho, torna-se um ladrão de bancos. O segundo é sobre um  policial novato na corporação (Bradley Coooper) que vira herói do dia para a noite. A terceira parte é sobre dois jovens que carregam o peso do destino nas costas. 

Escrito por Cianfrance e Ben Coccio, o roteiro aborda momentos que definem a vida dos personagens. São decisões e  consequências que afetam, inclusive, gerações posteriores. Dessa forma, os dois primeiros atos preparam para o derradeiro capítulo, em que tudo colide, numa acentuada catarse de sentimentos proferida por um personagem que vem a ser o reflexo do passado. 

Parte da intensidade do projeto deve-se ao elenco. Gosling, no auge de sua carreira, encontra-se hipnótico em cena, conferindo a sua participação o ponto alto do filme. Cooper segue a frutífera investida em papéis sérios (“As Palavras”, “O Lado Bom da Vida”) e mostra-se mais uma vez competente. Completando o time, Eva Mendes surpreende como Romina, par romântico do motociclista e talvez a personagem que mais sofre ao longo dos três atos.  


“O Lugar Onde Tudo Termina” configura como mais um êxito do cineasta. Apesar das partes divergirem em qualidade – a central é a mais fraca -, torna-se difícil, em qualquer momento, tirar os olhos da tela. O diretor e roteirista constrói uma trama dramática e nervosa, interligada pela sensibilidade tocante com a qual apresenta as figuras que criou. Por este especial exercício, Cianfrance é um nome para ficar atento no futuro. 

Nota: 7,8

Crítica: Guerra Mundial Z


Lembra daquela cena no filme "Independence Day" em que a população está nas ruas, presa no tráfego, tentando fugir, e aparece uma nave alienígena? Na abertura de "Guerra Mundial Z", a sequência praticamente se repete, em um grau de tensão mais elevado. A ameaça é uma epidemia que transforma as pessoas em zumbis. Ao fim da rua, escuta-se uma explosão e o pânico se alastra, somado ao ataque de inúmeras criaturas sedentas por sangue. 

O início arrebatador do novo longa-metragem de Marc Foster ("Em Busca da Terra do Nunca") concentra-se em apresentar o trágico cenário que se sucede quando uma contaminação em nível mundial atinge à raça humana. Remete, em certos momentos, a produções como Contágio e 2012, conforme a gravidade apocalíptica adotada. Inclui-se ao quadro assustador, uma trilha sonora pesada que pontua a trama, aumentando a dose de adrenalina. 

Na linha de frente do projeto, Brad Pitt interpreta Gerry Lane, um ex-investigador da Organização das Nações Unidas (ONU), que havia se aposentado e estava cuidando da esposa e das duas filhas. O agente é obrigado a voltar a ativa para garantir a segurança de sua família em um navio militar. Assim, Lane viaja pelo mundo na tentiva de encontrar a cura para a pandemia. 

As habilidades insubstituíveis do protagonistas, constantemente citadas por seu superior, nunca vêm a tona. Seu diferencial é apenas alguns músculos e uma constatação que fica evidente para qualquer observador. Para chegar a essa conclusão, ele vai à Coreia do Sul e à Israel – dois momentos em que o longa-metragem perde o fôlego, investindo em situações banais. Volta a ficar interessante no último ato, passado em um laboratório clínico, com sequências de roer as unhas.

Temas característicos de filmes de zumbi como epidemia, luta pela sobrevivência e mutações estão presentes em "Guerra Mundial Z", mas a produção é, essencialmente, um filme de ação. Distante do terror, resulta em um filme catástrofe que substitui o aquecimento global e a fúria da natureza pela ameaça de mortos-vivos. Outro fator que deixa evidente a fuga do gênero original é a ausência de sangue, mesmo ao decepar um braço ou esmagar uma cabeça. A violência implícita foi a alternativa para garantir a censura de apenas 12 anos, que possibilita uma diversão para quase toda família.

"Guerra Mundial Z" consagra a alta popularidade das criaturas devoradoras de miolos, que recentemente receberam animações ("Paranorman"), seriados ("The Walking Dead"), filmes românticos ("Meu Namorado é um Zumbi"), inserção em clássicos da literatura ("Orgulho e Preconceito e Zumbis") e agora um blockbuster no currículo. A produção milionária – e com claro objetivo de lucro – resulta em duas horas de pura diversão. E, ao menos, não ofende o gênero. 

Nota: 7,7

Crítica: Terapia de Risco


Considerado o melhor filme de Steven Soderbergh desde “Traffic”, “Terapia de Risco” vem para mostrar que o diretor pode fazer filmes que não sejam tão chatos como boa parte dos exemplares de sua carreira. Após o auge com “Erin Brockovich” e “Onze Homens e um Segredo”, esteve envolvido em projetos blase, como “Full Frontal”, “Bubble”, “O Desinformante”, “O Segredo de Berlim” e “Confissões de uma Garota de Programa”. Até os mais recentes sofreram desse mal. “Magic Mike” é divertido, porém vazio. E “À Toda Prova” é apenas vazio. 

“Terapia de Risco” possui um interessante ponto de partida. Emily Hawkins (Rooney Mara) é uma jovem mulher que toma diversos medicamentos para conter a ansiedade pelo fato de que seu marido (Channing Tatum) está prestes a sair da prisão. Para lidar com a depressão profunda, busca um tratamento psicológico com o doutor Jonathan Banks (Jude Law). A combinação desses remédios provoca efeitos inesperados que mudam o rumo da história. 

Como os demais projetos de Soderbergh, este também conta com um time de astros. Rooney Mara, após o sucesso de “Millennium – Os Homens que Não Amavam as Mulheres”, é a atração principal do longa-metragem. Despida de elementos góticos, ela está bem diferente da hacker Lisbeth. Um desempenho competente, mas nada extraordinário. Por outro lado, Jude Law destaca-se com o personagem mais consistente em cena e roubas as atenções para si. Enquanto isso, Catherine Zeta-Jones encontra-se novamente exagerada e caricata – vide “Rock of Ages”. 

O thriller desenvolve uma curva ascendente de tensão e inquietude em pouco mais de 90 minutos. O cineasta contribui com um produto estiloso, fundamentado em um cenário contemporâneo frio e de poucos e ternos contatos humanos. Perde um pouco o foco em sua segunda metade, quando despreza a indústria farmacêutica como vilã (leia-se o ponto alto do filme), para enveredar por uma reviravolta de cunho policial. A escolha não tão é eficaz. 

“Terapia de Risco” assume seu lado banal ao concluir a trama, sem recompensar com um grande final o espectador que acompanhou o desenrolar do mistério. É um filme bem construído, curioso e envolvente, até com jeito de produção cult. Porém, se não fosse pelos atores famosos, passaria batido nos cinemas. No fim, é mais do mesmo.

Nota: 7

Filmes para namorar

Casais de todo o país estarão reunidos nesta quarta-feira para comemorar o Dia dos Namorados. A data mais apaixonante do ano é sinônimo de troca de presentes e juras de amor. Porém, todo esse romantismo nem sempre é aproveitado em sua plenitude quando o 12 de junho cai em um dia da semana - este ano, numa quarta-feira. As tarefas diárias e profissionais não cessam para ninguém. Muitos terminam o dia cansados e ainda precisam encarar filas de espera em restaurantes, cinemas, shows e motéis. Para evitar uma noite estressante, a dica do CinemaX é preparar uma programação no conforto do lar, com jantar especial e um bom filme para acompanhar. 

Como sugestão, oferecemos uma lista formada por 12 comédias românticas lançadas recentemente no Brasil, entre 2011 e 2013, sendo que a maior parte já está disponível em DVD. A diversão com qualquer um dos títulos a seguir é garantida, ainda mais que a melhor companhia para uma sessão de cinema você já possui.


Ruby Sparks
Quem nunca imaginou como seria o seu par perfeito? Um homem ou uma mulher de seus sonhos? Em "Ruby Sparks - A Namorada Ideal", o jovem escritor Calvin apaixona-se pela personagem de seu novo livro e, como travessura do destino, a garota da ficção se materializa, saindo de sua mente para a vida real. Esta comédia romântica terna e inteligente mostra o quanto o amor pode ser mágico e que, apesar da realidade não corresponder com o que esperamos, a perfeição encontra-se justamente na imperfeição.


O Lado Bom da Vida
Uma equipe em perfeita sintonia é a fórmula do sucesso de "O lado Bom da Vida". A produção sobre dois adultos traumatizados que se apaixonam é encantadora. Apesar de não apresentar nada surpreendente em sua história, compensa pelo charme e desempenho impecável do quarteto Bradley Cooper, Jennifer Lawrence, Jacki Weaver e Robert DeNiro.


Um Divã para Dois
Ao lado de "Alguém Tem que Ceder" e "Simplesmente Complicado", "Um Divã para Dois" aborda o relacionamento na terceira idade. O filme retrata o momento em que é preciso inovação no casamento para resgatar um amor que pode não estar perdido. Destaque, como sempre, para a excepcional Meryl Streep. 


Moonrise Kingdom
"Moonrise Kingdom" é uma história de amor infantil que vai do triste ao engraçado, da aventura ao drama, do romântico ao esquisito. Entre seus inúmeros acertos, cabe salientar a aposta em uma abordagem mais doce do que a habitual preferência do diretor Wes Anderson pelo azedo. Uma obra de arte apaixonante, que resgata um espírito de aventura juvenil e a poesia do primeiro amor.


Para Sempre
Após sofrer um acidente de carro, Paige perde a memória dos últimos cinco anos, esquecendo-se de tudo que viveu com o seu marido. Leo, então, não mede esforços para que a esposa se apaixone mais uma vez por ele. O filme mescla romance e drama em uma mistura gostosa de assistir: é meloso na medida e não exagera nos clichês. Um passatempo ideal para os enamorados.


Amizade Colorida
Amizade colorida é a melhor comédia romântica produzida por Hollywood em anos. Os diálogos inteligentes e a química da dupla protagonista - Justin Timberlake e Mila Kunis - criam empatia imediata com o público. A trama desvia dos lugares-comuns, utiliza diversas referências pop e consegue ser atual e refrescante ao gênero.


Meia-noite em Paris
Com "Meia-noite em Paris", Woody Allen voltou ao topo ao arrecadar elogios e inúmeros prêmios, como Melhor Roteiro no Oscar e Globo de Ouro. A trama sobre um escritor fracassado que “viaja no tempo” para uma Paris dos anos 20, de encontros com grandes artistas do passado, deleitou gerações saudosistas. E, de brinde, apontou o verdadeiro sentido do amor.


Weekend
Depois de O segredo de Brokeback Mountain não houve um filme que retratasse o relacionamento gay de forma tão verdadeira como a produção inglesa Weekend. Em uma história romântica e atual, o diretor Andrew Haigh mostra que o amor pode surgir quando menos se espera - e por que não entre pessoas do mesmo sexo? O filme virou cult de forma espontânea, divulgado principalmente pela internet e, ainda, revelou o talento de Tom Cullen.


Solteiros com Filhos
Maturidade no cinema sempre é bem-vinda. "Solteiros com Filhos" distingui-se por ser um entretenimento sincero sobre os relacionamentos modernos. Discute o sexo entre recém-casados, sexo entre pais e sexo entre amigos. Três estágios diferentes que são experienciados pelos casais na faixa dos 30 e poucos anos que formam o mesmo grupo de amigos. Esta comédia dramática provoca questionamentos interessantes, com foco ainda em dúvidas quanto à paternidade.


Amor a Toda Prova
Grande sucesso nas bilheterias, "Amor a Toda Prova" veio para deixar o mundo babando por Ryan Gosling. Além desse atributo, o filme é uma divertida comédia romântica que carrega várias pequenas tramas. A principal delas é sobre um casal de meia-idade que se acomodou e perdeu o tesão, decidindo pela separação. O marido, agora solteiro, passa a receber dicas de sedução vindas de um jovem “pegador”.


O Homem do Futuro
Um dos raros exemplares de ficção científica nacional, "O Homem do Futuro" é, acima de tudo, uma comédia romântica. Utiliza a questão do tempo para mostrar que o amor é necessário para a humanidade, através de um retrato nostálgico e sentimental sobre a vida. Apesar de beber da fonte de exemplares como "De Volta para o Futuro" e "Efeito Borboleta", a produção é original a sua maneira. Ao término, "Tempo Perdido", da Legião Urbana, não será ouvida da mesma forma.


Meu Namorado é um Zumbi
Esta comédia de ação sobre o relacionamento entre uma garota e um morto-vivo é mais indicada para as plateias adolescentes. O filme provoca um estranhamento inicial ao distorcer o conceito de zumbi, mas, aos poucos, acaba conquistando o espectador. "Meu Namorado é um Zumbi" entretém bastante e mostra que os casais no cinema estão cada vez mais ecléticos. 

Crítica: As Palavras


"As Palavras" é aquele filme que não vai se tornar um sucesso de bilheteria, não virará cult e nem ao menos será reconhecido como um belo drama existencial. É o exemplar que estreia em poucos cinemas e passa batido entre as cópias na locadora. Pouca gente assiste e dá valor. Mas, a produção escrita e dirigida pela dupla Brian Klugman e Lee Sternthal possui uma das melhores histórias de 2012 e, na mão de um diretor de renome, poderia ser um blockbuster devorador de muitos prêmios.

A trama é dividida em três capítulos. Inicia com o escritor Clay Hammond (Dennis Quaid) realizando uma sessão de leitura de seu novo livro. Ele narra ao público os acontecimentos de Rory Jansen (Bradley Cooper), um jovem ambicioso que deseja assinar contrato com uma editora para lançar seus romances. Certo dia, ele encontra um manuscrito antigo e resolve mandar para um editor, como se a obra fosse sua. O texto é publicado e não demora para se tornar um sucesso. Porém, o verdadeiro autor (Jeremy Irons) surge para atormentar o tal “ladrão de palavras”.

A partir deste momento, o projeto muda o rumo e passa a revelar os fatos que motivaram o relato contido nas páginas do agora bestseller. Aborda, assim, as escolhas feitas na vida e o preço que se paga por elas. Registra momentos que transformam para sempre as pessoas. Escolhas que permanecem conosco. Irreversíveis. O filme entrega sua intensa carga dramática através de belos diálogos: “O que aconteceu com ele?”, pergunta um dos personagens, e o outro responde, tristemente, “A vida”, com um peso que dói na alma. 

Passagens de uma sensibilidade extrema marcam o dinamismo entre realidade e ficção. Em determinado instante, o escritor misterioso despeja: “Você roubou a vida de um homem e achou que não haveria um preço a pagar? A alegria e a dor deram origem àquelas palavras. Roubando as palavras, você leva a dor”. E desta figura amargurada, judiada pela vida, numa versão masculina da Ms. Dinsmoor, de "Grandes Esperanças", surge a força do sofrimento contido no filme. 

A estrutura multifacetada consegue atingir um de seus maiores desafios ao conciliar de forma coesa as três narrativas. De quebra, o elenco entrelaça os personagens com atuações competentes. Jeremy Irons (magnífico) e Quaid entregam atuações vigorosas como há tempos não apresentavam nas telas. Durante os flashbacks, Ben Barnes surpreende como um “personagem do passado”. E Cooper, antes do desempenho em O lado bom da vida, mostra seus primeiros passados como ator sério.

Por todas essas razões, "As Palavras" oferece uma grande história. Seu roteiro é tão literário que chega a ser possível imaginar a estrutura de uma versão impressa. Carece apenas de um aprimoramento, uma lapidada, retirando cenas que deixam a trama mastigada para o espectador, pois a sugestão é sempre mais elegante que a revelação explícita. Outro fator inconveniente é que, em certas ocasiões, o longa-metragem parece um filme feito para a televisão, conforme o baixo investimento no projeto. 

Ainda assim, pequenos deslizes não tiram o mérito de uma brilhante construção filosófica. Nas mãos de Almodóvar, Scorsese, Stephen Daldry ou outro diretor com experiência e notoriedade, "As Palavras" teria uma invejável carreira em festivais e premiações. Infelizmente, fica restrito a poucos que, ao acaso, o descobrem. E, para esses sortudos, a seguinte frase, proferida pelo sábio personagem de Irons, provavelmente ficará marcada na memória: “Nós todos fazemos escolhas na vida. O difícil é conviver com elas”.

Nota: 8,7

Crítica: Sem Segurança Nenhuma




A cada ano diversos projetos independentes são chamados de “a sensação do Festival de Sundance”. O encontro que ocorre anualmente em janeiro em Park City, Utha, é a premiação alternativa mais badalada do cinema e, recentemente, consagrou diversos projetos, como “Pequena Miss Sunshine”, “Ruby Sparks”, “Loucamente Apaixonados”, “Indomável Sonhadora” e “As Sessões”. Este ano, a comédia dramática “Sem Segurança Nenhuma” tornou-se o queridinho indie do evento ao ter seu roteiro agraciado com o Waldo Salt Screenwriting Award para Derek Connolly. 

Na trama, homem publica nos classificados de um jornal que precisa de um companheiro para viajar no tempo. Nas poucas linhas escritas, ele conta que já realizou o experimento uma única vez e pede para que o passageiro leve suas próprias armas, pois a “segurança não é garantida” (referência ao título original). O caso curioso desperta o interesse de um jornalista, que parte uma cidade do interior com dois estagiários para investigar o caso. 

Entre os quatro personagens, quem rouba a cena é Darius, a estagiária escalada para interagir com o “maluco”, interpretada por Audrey Plaza (do seriado Parks & recreation). A relação desenvolvida entre a dupla é a tônica do filme. Darius encontra em sua fonte jornalística alguém parecido com ela e isso faz com que deixe ser triste e antisocial, como define seu pai em uma das cenas do início. Ela finalmente se sente parte de algo e até começa a acreditar que pode voltar no tempo. 

A narrativa esperta mistura drama, romance e ficção científica de forma simples e inteligente. Tiradas de humor também são sabiamente pontuadas durante a exibição, além de uma trilha sonora bacana, com direito a Brick by brick do Arctic Monkeys. Esse conjunto de atribuições define com excelência o resultado de uma produção independente despretenciosa e cativante. Um feito concretizado com êxito neste projeto.

Boa parcela desse mérito deve-se também ao carisma dos personagens desajustados. E o mais interessante é que cada um deles fará descobertas ao longo do filme. Apenas o enredo do jornalista Jeff (Jake Johnson) que, apesar de ser bem interessante, torna-se inconclusivo. Já a dúvida quanto a veracidade do anúncio, mantida até o último instante, deixa para o clímax a revelação se a tal máquina do tempo realmente existe ou é apenas fruto da imaginação do sujeito. 

Com apenas uma hora e 25 minutos, “Sem Segurança Nenhuma” revela-se um filme eficiente e terno sobre as relações humanas. O primeiro longa-metragem de Colin Trevorrow, oriundo do Sundance, é uma surpresa extremamente agradável. Por isso, é mais que merecido ser chamado de “a mais nova sensação do cinema independente”.   

Nota: 7,9

Crítica: O Voo



Os acontecimentos de “O Voo” são tão passíveis de ocorrer fora da tela que o filme poderia receber o selo de “baseado em uma história real”. Na trama do novo filme de Robert Zemeckis (“Forrest Gump”, “Náufrago”), o piloto de avião Whip Withaker, interpretado por Denzel Washington, depara-se com uma falha mecânica que provoca o mergulho em queda livre da aeronave. Withaker consegue, através de uma manobra surpreendente, salvar boa parte dos passageiros. O feito louvável o transforma em herói americano. Entretanto, um exame de sangue posterior ao acidente comprova a existência elevada de álcool no organismo do piloto. Withaker dirigiu o avião embriagado. 

A partir desse ponto, o filme desenvolve questionamentos éticos sobre a possível culpa do comandante quanto à morte de quatro passageiros e dois tripulantes, decorrentes da aterrissagem forçada. A problemática, que poderia facilmente ser um acontecimento verídico, é mais complexa do que se pode julgar de imediato. Assim, o roteiro explora dualidades essenciais, como por exemplo: ao mesmo tempo que demonstrou ser um excelente piloto, evitando o provável desastre aéreo, Withaker também recebe repreensões por sua conduta, que, caso não estivesse alcoolizado, poderia ter salvo mais pessoas. Será?

Em uma de suas melhores atuações, Washington assume o personagem com um desempenho irretocável, apresentando-o de forma humana, na oscilação entre as faces de farrista, ameaçador, arrependido e bêbado. O ponto máximo é o seu depoimento durante o tribunal de acusação. Completam o elenco, os competentes Don Cheadle, Tamara Tunie, Melissa Leo e James Badge Dale, em ponta marcante como um paciente terminal. 

A narrativa de “O Voo” desenvolve-se em dois períodos. O início é de ação, com as cenas sufocantes do acidente - este que é peça fundamental para os futuros acontecimentos. O restante do filme avança pelo drama, com direito a uma subtrama desnecessária, que envolve Kelly Reilly como uma drogada. De tão descartável, a atriz nem aparece no trailer do projeto. Porém, o roteiro insiste em torná-la importante, colocando seus momentos intercalados, inclusive, com o que ocorre no interior do avião. Essa tentativa de par romântico serve apenas para aumentar a duração do filme.  

Zemeckis comanda o espetáculo com a experiência de veterano no cinema, valorizando o que seu projeto tem de melhor: a atuação do protagonista, a tensão do acidente, o questionamento ético e a aceitação do alcoolismo. Mesmo com os últimos minutos tendendo a uma lição de moral e frases de efeito/clichê, “O Voo” consegue um resultado excepcional ao apresentar um caso polêmico que, ao invés de dividir opiniões, deixa o espectador com dificuldade de escolher um lado. 

Curiosidade
O longa-metragem inspirou-se no fato verídico ocorrido em 2000, em que um avião rumo a Chicago, repentinamente, mergulhou em direção ao solo. O piloto precisou colocar a aeronave de “cabeça para baixo” a fim de estabilizá-la. Ao contrário do filme, o pouso não foi bem-sucedido. Nenhum passageiro sobreviveu.

Nota: 7,8

Crítica: Os Miseráveis



"Os Miseráveis" é um sucesso desde que foi lançado em 1962. Vendeu mais de sete mil exemplares nas primeiras 24 horas na capital francesa. Durante as décadas seguintes, a história de Jean Valjean foi assistida por mais de 60 milhões de espectadores no teatro e adaptada 46 vezes para o cinema e a televisão. Este ano, Hugh Jackman interpreta o coitado que roubou um pão, tornou-se prisioneiro e acabou perseguido para sempre pelo inspetor Javert (Russel Crowe). Então, a pergunta é: o que esta recente versão apresenta de novo?

Após a consagração de "O Discurso do Rei" com cinco Oscars, Tom Hooper poderia escolher o projeto que quisesse. A decisão foi recontar a obra de Vitor Hugo, igualmente famosa por sua versão musical na Broadway. O visual primoroso é o maior mérito da atualização do clássico. Um trabalho magnífico de direção de arte, fotografia, figurino e maquiagem – requisitos merecidamente indicados aos Oscar. 

Além da atmosfera histórica, recriando o período da Revolução Francesa de forma impressionante, o cineasta foi bem sucedido ao desafiar os atores a cantarem ao vivo durante as filmagens, sem a gravação em estúdio e posterior dublagem. Por um lado, o canto perde um pouco em qualidade, mas, por outro, a atuação é potencializada na sua carga dramática. A técnica valorizou as interpretações de Hugh Jackman – em sua melhor performance - e Anne Hawthaway, que levou o Oscar como Atriz Coadjuvante. 

O núcleo da trama que envolve Jackman e Hawthaway é o mais interessante do projeto. Nos 40 minutos iniciais, em que os dois contracenam juntos, "Os Miseráveis" é um musical perfeito, envolvente e vigoroso desde as cenas em que o pobretão Jean Valjean é humilhado por Javert até ele receber a ajuda de um bondoso padre e dar a volta por cima. Nesse contexto, surge Fantine, funcionária da fábrica gerenciada por Valjean, que perde o emprego e sucumbe à prostituição para ajudar a filha.    

Após essa primeira parte inspirada, o longa-metragem vai perdendo o ritmo com uma série de tramas tediosas, como os insuportáveis tutores de Cosette (Helena Bonham Carter e Sacha Baron Cohen), o romance morno entre a jovem (Amanda Seyfried) e Marius (Eddie Redmayne) e, por fim, o cenário de luta armada, ápice da revolução, que, infelizmente, carece de emoção. Até mesmo as músicas perdem a graça ao longo da narrativa, com exceção daquelas cantadas pela trágica personagem Éponine (Samantha Barks) e o hino absoluto do projeto, "One More Day".

Mesmo sendo cansativo, "Os Miseráveis" mantém-se grandioso, somando cenas icônicas que ficarão para a história do cinema. A principal marca do filme é a ausência de diálogos. Cantado do início ao fim, pode provocar repulsa em alguns avessos ao gênero. O sucesso comercial – e também em premiações -, provavelmente, deve-se ao fato da história ser muio familiar aos americanos. Ao restante do mundo, não tão apaixonado pela obra, o resultado é um bom filme, irregular ao longo de seus 157 minutos, mas que vale a sessão pela pompa e pelo capricho visual como conta sua história. 

Nota: 7,5

Oscar 2013: O ano de Argo



A noite em homenagem aos musicais colocou os atores para cantar e dançar, tirou sarro de cenas de nudez e reproduziu momentos marcantes de diversos filmes no palco do Dolby Theatre, durante a 85ª cerimônia do Academy Awards, ocorrida no último dia 24 de fevereiro. Com essa temática, a celebração ao gênero das danças e cantorias tentou induzir que o grande vencedor seria o seu único exemplar na disputa, "Os Miseráveis". Entretanto, a consagração terminou nas mãos de Ben Affleck, protagonista, diretor e produtor de “Argo”, thriller de ação que venceu nas principais categorias: Edição, Roteiro Adaptado e Filme. 


O comediante Seth McFarlane, criador de “Family Guy” e diretor da comédia sensação de 2012, “Ted”, estreou como apresentador do Oscar. Simpático e com bom timing, revigorou a premiação com seu humor  politicamente incorreto, além de demonstrar que sabe cantar muito bem, tanto em números solo quanto acompanhado de Daniel Radcliffe e Joseph Gordon-Levitt. Seu ápice foi logo nas boas-vindas, com uma série de comentários inspirados, como: “a história de ‘Argo’ é tão secreta que o diretor é desconhecido da Academia. Eles sabem que estragaram tudo. Ben, não é a sua culpa”, falando sobre a ausência de indicações para Affleck como Ator e Diretor.


Um dos melhores momentos da cerimônia foi a trinca de apresentações formada por Catherine Zeta-Jones cantando “All that jazz” ("Chicago"), Jennifer Hudson com “And I Am Telling You I’m Not Going” ("Dreamgirls") e o elenco de “Os Miseráveis” na interpretação de várias músicas do musical. Performances sensacionais, principalmente a última, de maneira tão grandiosa como o filme. Ainda na linha musical, Shirley Bassey deu voz ao clássico “Goldfinger” em homenagem aos 50 anos da série James Bond; Barbara Streisand subiu ao palco para um tributo, ao som de “The Way We Were”, em memória aos artistas que morreram no ano passado; Norah Jones não empolgou com “Everybody Needs a Best Friend” (Ted); e uma Adele apática cantou “Skyfall”, vencedora de Canção Original. 


Os filmes da edição
Com uma grande seleção fílmica concorrendo esse ano, o volume de estatuetas acabou se diluindo entre tantas produções indicadas. “As Aventuras de Pi” foi aclamado nas categorias técnicas, levando o maior número de prêmios: quatro. A surpresa da noite veio quando Ang Lee passou a perna em Steven Spielberg e levou como Diretor. O filme ainda arrecadou Fotografia, Efeitos Visuais e Trilha Sonora.


O vencedor da noite, “Argo”, totalizou três Oscars. Emocionado, Affleck falou sobre superação em seu discurso, lembrou que era apenas um garoto quando ganhou pelo roteiro de “Gênio Indomável” e não esperava reviver aquele momento. Em oposição, “Lincoln”, que era o favorito com 12 indicações, perdeu força e faturou apenas em Direção de Arte (imprudente perto do trabalho fantástico de “Os Miseráveis”) e Ator para Daniel Day Lewis.


Enquanto o astro inglês proferiu um dos melhores discursos da cerimônia, mostrando uma veia cômica inesperada, a colega Jennifer Lawrence (“O Lado Bom da Vida”), eleita Melhor Atriz, fez os agradecimentos sem o seu carisma habitual – o que deixou mais evidente a precipitada estatueta. A atual namoradinha da América é uma excelente atriz, levou o Oscar certamente por sua presença hipnótica no filme, mas frente ao desempenho assombroso de Emmanuelle Riva (“Amor”) ou a ora enérgica ora sensível performance de Jessica Chastain (“A Hora Mais Escura”), ela fica devendo. Riva perder resulta em mais uma das injustiças históricas do Academy Awards. 


Mesmo não sendo o melhor de Tarantino (até longe disso), “Django Livre” garantiu Melhor Roteiro Original e o segundo – e merecido – prêmio para Christoph Waltz. “Os Miseráveis” consagrou Anne Hawthaway como Atriz Coadjuvante e levou ainda Maquiagem e Mixagem de Som. Na lanterna, “A Hora Mais Escura”, o novo de Kathryn Bigelow e infinitamente superior ao oscarizado “Guerra ao Terror”, empatou com “007 – Operação Skyfall” em Edição de Som. O austríaco “Amor”, como previsto, venceu por Filme Estrangeiro. E, o mais fraco entre os concorrentes, “Indomável Sonhadora”, saiu de mãos vazias.  


O resultado dos selecionados ao Oscar 2013 é uma safra mediana, dividida entre ótimos filmes (“Argo”, “As Aventuras de Pi”, “A Hora Mais Escura”, “O Lado Bom da Vida” e “Amor”), e produções apenas interessantes (“Lincoln” e “Django Livre”) ou irregulares (“Os Miseráveis” e “Indomável Sonhadora”). Segundo a primeira-dama, Michelle Obama, que anunciou o prêmio máximo, são projetos inspiradores para os jovens e o que essas futuras gerações irão representar. Colocação que se faz verdadeira em alguns dos indicados. O melhor é que esses filmes, apesar de tratarem de temas tipicamente americanos, não apresentam-se patriotas. 


Soma satisfatória
A cerimônia deste ano, mais longa que a anterior, finalizou com um saldo extremamente positivo. O começo promissor de Seth McFarlane, repleto de piadas infames, deu o tom da noite - o que não o deixou imune a inúmeras críticas dos conservadores. No decorrer da premiação acabou reduzido a apenas a chamar os apresentadores de cada prêmio (censura?), mas, mesmo assim, revelou-se o melhor anfitrião dos últimos anos. Pode retornar em 2014! 


Se no ano passado, as homenagens à sétima arte e à era de ouro de Hollywood consagraram “O Artista”, desta vez, a cerimônia do Academy Awards elegeu “Argo”, que, mesmo com uma intensa trama política, comprova a força da indústria cinematográfica quando introduz em seu roteiro um plano mirabolante de resgate, executado com sucesso devido às possíveis gravações de um longa-metragem no Irã. 


“Argo” concretizou as expectativas de ser o filme do ano, até porque venceu todas as demais premiações, provando a incoerência de excluir Affleck ao menos como Diretor. O restante da lista dos agraciados também foi previsível, repetindo praticamente os nomes do Globo de Ouro. Porém, ainda assim, a confirmação de um Oscar no currículo redefine o curso dos profissionais do cinema e do que o público assistirá nas telas pelos próximos anos. Este é o poder da Academia. 

Vencedores
Filme: “Argo”
Direção: Ang Lee, por "As Aventuras de Pi" 
Ator: Daniel Day-Lewis, "Lincoln" 
Atriz: Jennifer Lawrence, "O Lado Bom da Vida"
Ator coadjuvante: Christoph Waltz, “Django Livre”
Atriz coadjuvante: Anne Hathaway, "Os Miseráveis"
Roteiro original: “Django Livre”
Roteiro adaptado: “Argo” 
Animação: "Valente"
Filme estrangeiro: "Amor" (Áustria) 
Trilha sonora: "As Aventuras de Pi"
Canção original: "Skyfall", de Adele,"007 - Operação Skyfall"
Fotografia: "As Aventuras de Pi"
Figurino: "Anna Karenina"
Documentário: "Searching for Sugar Man"
Curta de documentário: "Inocente"
Edição: “Argo”
Maquiagem: "Os Miseráveis"
Direção de arte: "Lincoln"
Curta de animação: "Paperman" 
Curta-metragem: "Curfew" 
Edição de som: "A Hora Mais Escura" e "007 - Operação Skyfall"
Mixagem de som: "Os Miseráveis"

Apostas para o Oscar 2013



Desde que o Oscar passou a escolher até dez filmes como os melhores do ano, a seleção de indicados abriu espaço para gêneros que pouco figuravam em premiações. Na cerimônia realizada no dia 24 de fevereiro, a partir das 21h30min, no Kodak Theatre, em Los Angeles, e transmitida pela Rede Globo e TNT, temmos concorrendo nas principais categorias um violento faroeste, uma fábula filosófica, um thriller de pura tensão, um grandioso musical, uma produção austríaca densa, uma biografia política, um filme de ação sobre terrorismo, um drama independente e uma sedutora comédia romântica.

O pluralismo dessa edição deve acabar disseminando as estatuetas entre os nove indicados, sem gerar um grande vencedor da noite. A expectativa é de que o resultado seja semelhante ao do Globo de Ouro, repetindo os vitoriosos nas categorias Filme (Argo), Ator (Daniel Day-Lewis), Atriz (Jennifer Lawrence), Ator Coadjuvante (Christopher Waltz), Atriz Coadjuvante (Anne Hathaway), Animação (Valente) e Filme Estrangeiro (Amor). A seguir, o CinemaX elenca as chances de cada um dos projetos que disputam o maior prêmio do cinema.


LINCOLN
Favorito na disputa com 12 indicações, Lincoln apresenta o episódio histórico em que o 16º presidente dos Estados Unidos aprova emenda constitucional para acabar com a escravidão. O principal atrativo do projeto é a personificação de Daniel Day-Lewis, fisicamente idêntico. Deve levar como Melhor Ator. Steven Spielberg também possui grande possibilide de ser consagrado como Diretor. Apesar do alto número de indicações, vencer a categoria principal é o seu maior desafio.
Deve ganhar: Diretor, Ator
Altas chances: Filme


ARGO
A história real apresentada por Argo é realmente fantástica. E pode lhe render o tão cobiçado prêmio de Melhor Filme. Na trama, um especialista da CIA executa plano mirabolante para resgatar seis americanos do Irã. O thriller de ação é habilmente conduzido por Ben Affleck, que assume como protagonista e diretor. A produção surpreendeu vencendo o Globo de Ouro de Melhor Filme – Drama e Melhor Diretor, disparando na lista de apostas do Oscar. Seu ponto fraco é a ausência de indicação para Affleck nas duas funções que exerce.
Deve levar: Filme, Roteiro Adaptado, Edição


OS MISERÁVEIS
Após a consagração de O discurso do rei com cinco Oscars, Tom Hooper poderia escolher o projeto que quissesse. A decisão foi adaptar o clássico de Vitor Hugo, Os miseráveis, que também ganhou versão musical na Broadway. As oito indicações podem converter em estatuetas principalmente nas categorias técnicas. Anne Hathaway é a aposta certeira como Atriz Coadjuvante e Hugh Jackman é o único capaz de ameaçar o favoritismo de Daniel Day-Lewis na categoria de Melhor Ator.
Deve ganhar: Atriz Coadjuvante, Direção de Arte, Mixagem de Som, Maquiagem
Altas chances: Ator


AMOR
O estranho no ninho desta vez é Amor, produção austríaca de Michael Haneke que figura como o único exemplar não americano entre os indicados a Melhor Filme. Este drama sobre um casal de idosos frente as fragilidades da morte arrecadou diversos prêmios, incluindo a Palma de Ouro em Cannes. A consagração como Melhor Filme Estrangeiro é óbvia. Em contrapartida, ainda resta a dúvida se Emmanuelle Riva ganha como Atriz. Se não acontecer, será mais uma das grandes injustiças da história da premiação.
Deve ganhar: Filme Estrangeiro
Altas chances: Atriz e Roteiro Original


INDOMÁVEL SONHADORA
Indomável sonhadora está longe de ser uma obra-prima, mas tem seu mérito ao revelar dois talentos: o do competente cineasta Benh Zeitlin, que explora uma triste realidade pouco vista no cinema americano, e da expressiva menina de nove anos, Quvenzhané Wallis. Ambos estão concorrendo, respectativamente, nas categorias Diretor e Atriz. Com poucas chances de vencer, este drama independente deve se contentar apenas em ser indicado.


DJANGO LIVRE
O faroeste de Quentin Tarantino aproveitou o hype provocado por Bastardos inglórios e conquistou cinco indicações da Academia. Sem a nomeação para Melhor Diretor, Django livre perdeu sua força na disputa. Configura ameaça nas categorias Roteiro Original e Ator Coadjuvante, esta última com a poderosa atuação de Christopher Waltz.
Deve ganhar: Ator Coadjuvante, Edição de Som e Roteiro Original


O LADO BOM DA VIDA
Uma equipe em perfeita sintonia é a fórmula do sucesso de O lado bom da vida. A comédia romântica sobre dois adultos traumatizados que se apaixonam não apresenta nada surpreendente em sua história, mas compensa pelo desempenho impecável do quarteto Bradley Cooper, Jennifer Lawrence, Jacki Weaver e Robert DeNiro – todos merecidamente indicados. O resultado é fruto do trabalho do diretor e roteirista David O. Russel, que também está no páreo. Jennifer Lawrence é a preferida como Atriz.
Deve ganhar: Atriz
Altas chances: Ator Coadjuvante (Robert DeNiro)


A HORA MAIS ESCURA
Kathryn Bigelow foi catapultada para o primeiro time de Hollywood depois que levou o Oscar de Melhor Diretora por Guerra ao terror. A ex-esposa de James Cameron preferiu seguir filmando no Oriente Médio em seu próximo projeto, A hora mais escura, que relata a caçada ao terrorista Osama Bin Laden. Dessa vez, o filme de Bigelow deve sair de mãos vazias.


AS AVENTURAS DE PI
Adaptação do livro homônimo de Yann Martel, As aventuras de Pi conquistou notoridade entre os lançamentos de 2012 não apenas por sua parcela de entretenimento, mas também por ser uma bela fábula que discute a sobrevivência e a filosofia. O resultado primoroso de Ang Lee no comando da narrativa e os quesitos técnicos, como a exeburante fotografia, podem render alguma estatueta.
Deve ganhar: Fotografia, Trilha Sonora, Efeitos visuais
Altas chances: Diretor


Fora dos nove principais:
Animação: Valente
Canção Original: 007 – Skyfall
Figurino: Anna Karenina

Crítica: O Lado Bom da Vida



Exemplares de comédia, terror e ação não costumam figurar em listas de premiações. O drama, geralmente, é o gênero favorito às láureas. Portanto, quando uma comédia romântica conquista oito indicações ao Oscar, é preciso ficar atento a esse campeão. “O Lado Bom da Vida” deve boa parte de seu mérito ao elenco inspirado e, também, ao comando competente do diretor. Além disso, um elemento-chave: personagens fora do controle, atípicos à cartilha tradicional do gênero. O filme de David O. Russel é uma história que você provavelmente já assistiu, porém, apresentada de forma madura, verdadeira e detentora de um charme irresistível.

A trama, baseada no livro homônimo de Matthew Quick, gira em torno de Pat  (Bradley Cooper), um professor de História que surta após flagrar a esposa o traindo com um colega do trabalho. Ele é diagnosticado bipolar, internado em um hospital psiquiátrico por oito meses e, após receber alta, volta a morar com o pai (Robert DeNiro) e a mãe (Jacki Weaver). Pat pretende recomeçar sua vida, mas encontra-se obcecado em ter de volta o amor da esposa. É perdido nessa missão de reconquista que ele conhece Tiffany (Jennifer Lawrence), uma garota de sua vizinhança que recentemente ficou viúva e também passou por um período sombrio. A afinidade entre eles surge justamente a partir dos traumas compartilhados.

Pat e Tiffany são dois adultos que perderam o equilíbrio frente a situações estressantes. Tornam-se amigos ao dividir suas experiências. E, aos poucos, percebem que são feitos um para o outro. São essas figuras complexas e reais que salvam o filme do trivial, personagens valorizados pela surpreendente atuação de Bradley Cooper (“Se Beber, Não Case”) como o maníaco depressivo e a perfomance sexy e hipnótica de Jennifer Lawrence (“Jogos Mortais”), vencedora do Globo de Ouro 2013 como Melhor Atriz.


Para unir esse casal disfuncional, nada melhor que divertidas (e reveladoras) aulas de dança. Alguma dúvida de que o filme terminará em uma competição esportiva? Esse é apenas um dos clichês presentes no roteiro. “O Lado Bom da Vida” não se importa que muitas cenas clássicas do gênero estejam no pacote. Seu ponto forte é tornar esses momentos verdadeiros. Escolhas acertadas de David O. Russell, um cineasta que se reinventou nos últimos anos, e que repete o feito de seu projeto anterior, “O Vencedor”, em que transformou uma história tradicional num potente e prazeroso entretenimento.

Nota: 7,9

Crítica: Lincoln



Depois das críticas ao exagero e didatismo de “Cavalo de Guerra”, Steven Spielberg avançou por um caminho mais seguro no drama histórico “Lincoln”. Ao enveredar pela vida do 16º presidente dos Estados Unidos, preferiu dar destaque à principal causa defendida pelo republicano: a abolição da escravatura. O filme não é necessariamente uma cinebiografia do personagem, revela-se um episódio altamente político da aprovação da 13ª emenda à Constituição e o fim da guerra civil, momentos marcantes para a transformação da América.

Entre jogos de poder e burocracias políticas, Abraham Lincoln negocia e utiliza até da corrupção para dar fim aos seus objetivos. São necessárias duas horas e 30 minutos para a produção concretizar na tela o feito tão importante que o presidente almeja. O conteúdo político torna a exibição em diversos momentos cansativa, mas o peso não interfere na construção desse belo exemplar de um registro histórico. A direção de arte retrata o período com perfeição, assim como o primoroso trabalho de maquiagem em Daniel Day-Lewis para torná-lo idêntico à figura pública que representa.

Como já não é novidade, o ator brilha em cena, principalmente, quando relata histórias e casos particulares como analogias para reafirmar seu ponto de vista em discussões. O esforço do ator mais uma vez impressiona. Porém, o que não encontra equilíbrio durante a sessão é como o roteiro trata a imagem do presidente, resumindo-o como um senhor bonzinho, fraco, cansado e com uma causa que o deixa inquieto. A fala lenta de Lincoln impede um rompante com verve de Day-Lewis, o que deixa a representação do personagem distante de uma demonstração poderosa da responsabilidade que está nas suas mãos.

Spielberg, que já havia trabalhado com o tema da escravidão em “Amistad”, comanda o projeto com pulso firme. Não há sentimentalismos e ode à nação. Uma oportunidade para conhecer o homem que promoveu o progresso humano em uma época de preconceitos. “Lincoln” aborda em essência a luta pela liberdade e o sentido de democracia, dentro de sua abordagem verídica.   

Nota: 7,2

Crítica: Marcados para Morrer



Diretor de “Tempos de Violência” e “Os Reis das Ruas”, além de roteirista em “Dia de Treinamento”, David Ayer demonstra em sua filmografia uma forte ligação com a luta contra o crime. Em seu novo projeto, “Marcados para Morrer”, o cineasta segue com a temática e exalta a classe policial, começando pela narração que abre o filme e apresenta os profissionais como heróis do dia a dia, limpando as ruas dos maus elementos. 

A história é, mais uma vez, o retrato das atividades diárias da polícia. Os colegas Brian (Jake Gyllenhaal) e Zavala (Michael Peña) personificam a organização. Sua tarefa é patrulhar uma das áreas mais perigosas de Los Angeles. Entre uma ocorrência e outra, atendendo incêndios, casos de crianças desaparecidas e caçadas a criminosos, a dupla irá se envolver com uma perigosa quadrilha organizada. Apesar do filme caminhar para uma trama específica de ação, a veracidade do projeto fica com a demonstração de companheirismo entre os personagens. 

Gyllenhaal e Peña (ambos ótimos) demonstram naturalidade na pele dos agentes, confirmando uma irmandade autêntica entre eles. São profissionais quando se faz necessário, os inimigos do tráfico, corajosos e destemidos, mas também mostram-se brincalhões e confidentes no contato diário, dentro da viatura. O filme apresenta ainda a vida além da farda, com os dois amigos interagindo fora do trabalho, com a esposa de Zavala e a namorada de Brian.

Uma escolha duvidosa da produção foi utilizar câmera em primeira pessoa. A justificativa é que Brian está filmando um documentário para a faculdade, porém, a gravação é inquieta, mesclando o treme-treme dessa perspectiva com as imagens do cinegrafista. O que não faz sentido. Não acrescenta ao filme, porque a sensação de realidade não é tão poderosa que não pudesse ser feita de maneira convencional.

Mais uma consideração importante é a falta de originalidade no núcleo de ação. Carece de uma motivação maior que torne essa subtrama mais relevante e envolvente ao restante da história. O capítulo acaba se desenvolvendo nos minutos finais e deixa uma sensação de vazio. Por este motivo, a potência de “Marcados para morrer” (péssimo título nacional) resulta da intensa relação da dupla de policiais. O diretor oferece um bom filme do gênero, amparado na sintonia dos protagonistas, e, apesar da escassez em novidades, permanece como um clichê gostoso de assistir.

Nota: 7,3

Crítica: Amor



O fim da vida não abre exceções. E "Amor", novo filme do diretor austríaco Michael Haneke, apresenta esse término através do penoso envelhecimento de um casal. Desenvolvido inteiramente dentro de um apartamento, a história acompanha Anne (Emmanuelle Riva) e Georges (Jean-Louis Trintignant), ambos pianistas e intelectuais, que parecem não se abalar com os problemas da idade. Isso até precisarem encarar a degradante realidade quando Anne sofre um AVC e tem seu lado direito paralisado.

O laço que une o casal é tão forte que Georges não demonstra incomodar-se com os novos cuidados à esposa. Ele descarta a possibilidade de levá-la a um hospital ou interná-la em um asilo. Quer Anne ao seu lado, sob sua supervisão. Essa dedicação apresenta-se como prova do companherismo e do afeto que sentem um pelo outro. Um amor alheio ao restante do mundo, o qual não parece existir além das janelas daquele cenário comum à dupla.

O espectador observa atenta e lentamente a transformação da charmosa e elegante artista em uma pessoa doente, incapaz de ter sua independência e até mesmo a racionalidade. O humilhante estado da velhice é mostrado por meio de cenas do cotidiano, como tomar banho e se alimentar. O incansável marido tem ciência de qual será o destino de sua amada – e o seu próprio. E não luta contra isso. Aceita.

As poucas visitas que circulam pelo soturno apartamento são da filha, de um aluno de música e duas enfermeiras, além de uma pomba que persiste em entrar no recinto. Seria uma analogia para dizer que o que se encontra ali está morto, abandonado ou próximo do fim? A resistência à vida não tarda a enfraquecer e o desfecho, assim como o restante da exibição, é desesperador.

Premiado com a Palma de Ouro em Cannes e indicado a cinco categorias no Oscar 2013, incluindo Melhor Filme e Melhor Filme Estrangeiro, "Amor" destaca-se pelo fiel retrato das fragilidades diante da morte, com um olhar poético e triste sobre a relação desses personagens. O ponto alto, sem dúvidas, vai para as atuações impecáveis dos dois ícones do cinema francês. A fantástica performance de Emmanuelle Riva é de uma entrega tão verdadeira que assombra mesmo após a sessão. Digna de todos os prêmios. 

Nota: 7,5

A Entidade



“Eu tenho um ótimo pressentimento sobre isso”, fala o escritor Ellison Oswalt (Ethan Hawke) para esposa, quando muda-se de cidade para escrever sobre um crime hediondo que ocorreu novo endereço. Ao começar a investigação sobre o caso, ele nem imagina os eventos trágicos que o esperam. A incursão de Ellison a um território aterrorizante de mortes brutais e sustos incessantes é a equação de sucesso de “A Entidade”, um dos melhores filmes de terror dos últimos anos.  

Na verdade, o escritor não contou para família que a nova moradia deles foi palco dos assassinatos que pretende averiguar. A intenção de Ellison é aprofundar-se no acontecimento chocante e, através do relato escrito, resgatar a fama obtida apenas em seu primeiro livro. A investigação ganha, aos poucos, contornos cada vez mais sinistros, conforme seu envolvimento com os incidentes do passado. 

A tensão na tela é mantida alta desde o início, a partir do momento em que o protagonista encontra no sotão da casa uma caixa com filmes antigos em super 8, cujos títulos são “Passeio de família”, “Churrasco de 1973” e outros registros aparentemente inocentes. Porém, cada um dos vídeos apresenta uma situação cotidiana que termina em chacina.  

Ao logo do filme, o nervosismo só aumenta. Cenas perturbadoras se multiplicam cada vez que chega a noite e o mal desperta na casa. E os sustos não são poucos. Fazem o espectador pular da cadeira várias vezes. A revelação do mistério não é novidade, mas também não compromete. Ao menos, o “responsável” pelos crimes é realmente apavorante, assim como suas aparições. 

“A Entidade” é um filme de terror sério, de ritmo lento e intrigante. E estas podem ser consideradas suas principais virtudes. Sem um assassino que mata jovens um a um ou persegue incessantemente o mocinho, este exemplar prefere ir a fundo no cerne da trama: a investigação criminal realizada pelo protagonista. O diretor Scott Derrickson (“O Exorcismo de Emily Rose”) conduz com mão firme a narrativa e Ethan Hawke comprova como pode ser consistente na pele de qualquer personagem, inclusive no campo do horror.


Na falta de bons exemplares do gênero, “A Entidade” destaca-se na safra 2012 como um projeto eficiente, recheado de suspense e com muita tensão. Mesmo com um título ruim em português, o filme merece ser descoberto pelos adoradores do medo. “A Entidade” é tudo que se espera de boa produção de terror: é asustador, pesado, hipnótico, angustiante e perturbador. Prepara-se para não dormir tranquilo algumas noites. 

Nota: 8,1

Crítica: Um Divã Para Dois


Casados há 31 anos, Kay (Meryl Streep) e Arnold Soames (Tommy Lee Jones) estão em crise. A desgastada convivência acabou os isolando: dormem em camas separadas, pouco conversam e a intimidade entre os dois não ultrapassa aquele beijo de saudação, uma espécie casual de “bom dia”. Como diz Kay, seu marido só a toca para tirar fotografias. Dessa forma, a vida na casa dos Soames é triste. Para tentar salvar o relacionamento, decidem participar de uma semana intensiva de terapia. “Um Divã Para Dois” dialoga sobre e com os casais na terceira idade, retratando o momento em que é preciso de inovação para resgatar um amor que pode não estar perdido.

A reconstrução do casamento desenvolve-se através de conversas com o terapeuta Dr. Bernie Feld (Steve Carell), famoso autor de best-sellers do gênero. O tratamento e seus exercícios provocarão, gradativamente, a aproximação de Kay e Arnold. Porém, o roteiro resume a intimidade do casal a prática sexual, submetendo os sessentões a diversas situações desconfortáveis/cômicas que nem sempre funcionam. O que o projeto sugere é que se tudo vai bem na cama, então não é preciso de mais nada.

Justamente por serem opostos, os personagens principais incomodam um pouco. Ele é ranzinza ao extremo, reclama sem parar e possui um mau humor contagiante. Por outro lado, ela é pacífica demais, suplicando por ser amada por alguém que aparentemente não lhe dá valor. A acelerada mudança de personalidade de Arnold, conforme anuncia-se o final do filme, soa um pouco forçada, já que o contexto apresentado aparece praticamente sem solução.

O grande atrativo, é claro, fica com Meryl Streep, que repete a parceria junto ao diretor David Frankel, do excelente “O Diabo Veste Prada”. A atriz, como sempre, dá um show em cena. Sua Kay possui uma fragilidade encantadora – não por menos foi indicada ao Globo de Ouro. Tommy Lee Jones personifica a si mesmo e convence como o teimoso Arnold. Em contrapartida, o cineasta não se decide em qual gênero conferir sua história. Essencialmente é um drama, mas diversas vezes paga de comédia.

Mesmo com seus relativos problemas, “Um Divã Para Dois” motiva o espectador a torcer pelo final feliz e cumpre o prometido ao encontrar identificação com seu público-alvo. Inúmeros casais certamente se enxergarão retratados na tela. E este é principal mérito do projeto. Assim, o filme configura-se como mais um exemplar a somar na coleção das comédias românticas para a meia-idade, ao lado de “Alguém Tem Que Ceder” e “Simplesmente Complicado”.

Nota: 7

Crítica: Paranorman


Misturando comédia e terror, “Paranorman” mostra-se uma animação um tanto interessante. Reúne elementos de filmes de horror – aí vale-se de algumas referências – com a comédia pastelão comum às produções infantis. Em sua estética, aposta em traços à la Tim Burton, explorando um universo sombrio que envolve espíritos, zumbis e uma bruxa malvada. Se por um lado acerta na direção artística e no argumento do roteiro, por outro, perde uma oportunidade preciosa de ser um entretenimento nerd, com apreciação também pelos adultos.

Na trama, Norman é um garoto que consegue ver e falar com fantasmas. Ele sofre bullying na escola e não tem amigos, justamente, por ser diferente dos demais. Mesmo sem ser o cara mais popular, está sempre acompanhado: em casa, pelo espírito de sua vó e, na rua, pelos diversos seres ainda presos ao plano terrestre. A aventura de Norman inicia quando seu tio – que possui o mesmo dom – o alerta sobre uma antiga maldição que será despertada naquela noite. Sem conseguir impedir que a desgraça venha à tona, o rapaz tentará salvar a cidade do retorno de mortos-vivos e do espírito de vingança de uma menina que foi considerada bruxa no passado.

O charme da produção concentra-se nas pequenas homenagens aos filmes de terror, como os créditos de abertura e de encerramento que reproduzem os filmes B do gênero. Além desse exemplo, tem-se ainda a fascinação do protagonista por filmes de zumbis, possuindo despertador, pantufas, cartazes, escova de dentes e outros objetos referentes aos monstros. O roteiro também ironiza a estupidez dos mortos-vivos em cenas divertidas. É o caso da sequência em que um personagem, prestes a ser devorado pelas criaturas, espera o salgadinho cair de um máquina automática para depois correr.

No geral, as referências ao macabro não sustentam o projeto. Ainda mais, o filme mantem um tom comedido para não assustar os espectadores menores. Não há sustos. Também fica carente de piadas inteligentes no estilo da Pixar. “Paranorman” segue a cartilha previsível de uma animação tipicamente infantil e, por isso, seu destino acaba sendo as crianças, que vão curtir a atmosfera “sinistra” e, de quebra, aprender/reforçar uma mensagem importante: deve-se sempre aceitar as diferenças. O resgate à trabalhosa técnica de stop-montion acrescenta uma graciosidade extra ao projeto.

Nota: 6