A Invenção de Hugo Cabret


Difícil imaginar Martin Scorsese à frente de uma adaptação infanto-juvenil. As dúvidas sobre qual seria a contribuição do diretor famoso por seus filmes violentos ao universo das crianças pipocavam até o lançamento do novo projeto. E de forma positiva, Scorsese correspondeu com um comando interessante, valorizando o tom de fábula da história e apostando em uma direção de arte impecável, que lembra a atmosfera dos contos natalinos. O único entrave de “A Invenção de Hugo Cabret” é toda parte que não realiza uma homenagem ao cinema.

O filme pode ser dividido em dois atos ou duas tramas. Temos a narrativa principal sobre um órfão que mora em uma estação de trem em Paris e tenta desvendar um mistério deixado por seu pai; e, em paralelo, temos a história verídica do cineasta Geórge Méliès. Enquanto a primeira é uma trama bonitinha, mas banal, a segunda é tão poderosa que praticamente carrega o filme nas costas.

As duas tramas ao invés de encontrarem uma sintonia acabam por rivalizar, deixando visível o abismo existente entre elas. Parecem dois filmes separados. A primeira hora de duração foca-se na história do garoto, por isso é tão tediosa. Quando inicia o relato sobre Méliès, o filme ganha um novo fôlego e melhora consideravelmente. Esse novo contexto faz referência a uma série de produções do início do cinema e ainda recria de forma fascinante os sets do clássico “Viagem à Lua”.

“A Invenção de Hugo Cabret” não chega a ser um filme para crianças. Pode até ser assistido e desfrutado por elas, mas guarda em seu segundo momento a essência do projeto: uma homenagem à sétima arte deliciada principalmente pelos adultos. E nesse conjunto ainda introduz um discurso importante sobre a preservação das obras cinematográficas. Embora esteticamente perfeito e com uma trama geral bonitinha, o filme deixa aquele gosto de que poderia ter sido bem mais proveitoso se o foco desde o início tivesse naquele que enxergou potencial nos filmes. “Hugo”, em seu melhor, é uma exaltação ao homem que transformou o que era documental em fantasia! Viva Méliès!

Nota: 7,9

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