Crítica: Velvet Buzzsaw



"Velvet Buzzsaw" é um filme de nicho. Alternativo em sua essência, aborda o mundo da arte através do comércio de telas para compradores milionários. Os protagonistas da trama são donos de galerias, artistas e críticos de arte. Esse ambiente elitista, somado a alguns toques do horror, serve de metáfora para muitas questões contemporâneas.

Se fosse lançado há uma década, o título certamente seria pouco alugado na locadora, frente aos blockbusters do momento. Porém, o consumo de cinema mudou e "Velvet Buzzsaw" é uma das primeiras novidades de 2019 no catálogo dos originais da Netflix, tendo como chamariz o nome de Jake Gyllenhaal à frente do elenco. O convite atraiu, para o bem e para o mal, diversos desavisados.

A primeira pista de que esta não será uma receita de fácil digestão é a assinatura de Dan Gilroy como diretor e roteirista do projeto. Ele possui como destaque em seu currículo o longa "O Abutre", de 2014, em que apresenta um retrato sombrio da prática jornalística, alicerçada na falta de ética e no sensacionalismo.

Com seu novo filme, Gilroy envereda por uma trama satírica sobre a cena artística de Los Angeles. Introduz o funcionamento deste curioso universo, baseado em cinismo e altas cifras, para gradativamente revelar sua análise negativa do mesmo.

A narrativa tem início quando a assistente de uma galeria de arte, Josephina (Zawe Ashton, do seriado "Wanderlust"), encontra seu vizinho morto. Ele é Vetril Dease, um desconhecido artista que deixou em seu apartamento inúmeras pinturas. Hipnotizada pelas imagens e sabendo que o legado vai para o lixo, Josephina decide ficar com as telas.

Todos os personagens do filme, de certa forma, serão envolvidos pelo trabalho de Dease. Seus quadros transformam-se em uma sensação no circuito da arte. Eis que o espírito do artista que nunca foi valorizado se personifica nas obras para buscar sua vingança, principalmente daqueles que tentam lucrar com as telas do falecido.

A partir deste ponto, o longa-metragem passa a seguir uma sucessão de mortes bizarras. Dease, supostamente, estaria punindo quem utiliza a arte como uma oportunidade para gerar status e lucro. O personagem de Gyllenhaal chega a comentar que existe um nojo, por parte do assassino, pelo mundo do dinheiro. Ou seja, quando a arte colide com o comércio.

O espírito do pintor salva aqueles que lidam com a arte de uma forma mais saudável, tendo-a como uma forma de expressão, original, verdadeira, de puro sentimento, catarse. Imerso nesse universo, o roteiro ainda debate a pergunta universal dentro da área: “o que é arte?”, seja através da cena de um crime vista como parte de uma exposição ou sacos de lixo que são confundidos como novas obras de um excêntrico artista.

Há um tom de humor que permeia todo discurso. Gyllenhaal, o nome à frente do elenco, não decepciona em mais uma surpreendente performance - mesmo que, por vezes, fuja do personagem. Rene Russo também rouba a cena como Rhodora, uma ambiciosa dona de galeria. O elenco ainda comporta nomes como Toni Collette ("Hereditário") e John Malkovich ("Bird box"), além de jovens talentos como Natalia Dyer ("Stranger Things"), Billy Magnussen ("A Noite do Jogo") e Tom Sturridge ("Mary Shelley").

Independentemente se é bom ou ruim, "Velvet Buzzsaw" é um filme extremamente intrigante. Envolve o espectador pelas excentricidades, embora enquanto terror não seja tão eficaz. As mortes são previsíveis, mesmo que por vezes causem arrepios. O interessante da história está nas discussões que provoca após os créditos finais. Depois de "O Abutre", seria esta uma visão pessimista de Gilroy para o mundo da arte? Ou para qualquer atividade a qual nos tornamos responsáveis em nossas vidas?

Nota: 7,5