Ilha do Medo


Dezenove anos depois de “Cabo do Medo”, Martin Scorsese embarca pela segunda vez, em toda sua filmografia, no gênero do suspense. A atmosfera de mistério é oferecida desde a primeira cena, quando observamos em meio à neblina uma balsa levando o agente federal Teddy Daniels e seu colega Chuck Aule para a ilha Shutter. A dupla está ali para investigar o sumiço de uma paciente que escapou de maneira inexplicável do hospital psiquiátrico instalado no local.

A partir dessa premissa, o diretor começa a introduzir pistas, como em um filme de David Lynch, instigando a curiosidade e desafiando o público a desvendar o que existe por trás daquele emaranhado de cenas que podem ou não ser reais. A estratégia é semelhante a do seriado “Lost”, que com o decorrer vai apresentando cada vez mais personagens e, com eles, mais enigmas.

Tanto mistério por nada. A resolução de “Ilha do Medo” é tremendamente óbvia, e pode ser descoberta antes da metade do filme por qualquer espectador que já assistiu alguns bons exemplares de suspense e terror. A quantidade elevada de mistérios e subtramas procura dar a impressão de complexidade – o que se mostra pura enrolação. O roteiro ainda tenta justificar os momentos anteriores com um encerramento chocante e possivelmente denso ao mostrar DiCaprio em uma cena dramática que acontece em um lago.

O forte da produção é, sem dúvida, o comando do veterano diretor, que realiza um trabalho elegante e por vezes artificial. Esse exagero visual pode ser identificado através da trilha agressiva, das atuações caricaturais, diálogos forçados e uso de tecnologia grotesca. Todos esses elementos com o propósito de homenagear os filmes de suspense das primeiras décadas do cinema, incluindo também os trash. O clima criado por Scorsese é soturno e tenso, perfeito para um roteiro que visa estimular a mente de quem assiste.

Infelizmente, o projeto não consegue fazer todos os seus instrumentos funcionarem em harmonia. Com esses problemas o labirinto pelo qual Teddy Daniels percorre mais atordoa do que proporciona entretenimento satisfatório.

Nota: 7

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