Sucker Punch - Mundo Surreal


Reunir uma porção de referências à cultura pop, às vezes, pode dar certo, vide os filmes de Quentin Tarantino e Robert Rodrigues, porém, em outros casos o resultado pode repercutir de forma insatisfatória, como uma junção bagunçada e sem sentido, conforme o que aconteceu com o ambicioso projeto de Richard Kelly, “Southland Tales – O Fim do Mundo”. Em “Sucker Punch – Mundo Surreal”, o diretor Zack Snyder consegue ficar no meio termo. Mistura samurais, dançarinas de cabaré, robôs e um dragão medieval com destreza, mas, por outro lado, peca em um terceiro ato cansativo e com encerramento simplório.

O caldeirão pop de Snyder tem um motivo. “Sucker Punch” é um projeto pessoal. Depois de remakes (“Madrugada dos Mortos”) e adaptações de quadrinhos (“300”,“Watchmen”) e livros (“A Lenda dos Guardiões”), o cineasta optou por embarcar em uma história integralmente de sua autoria. Essa viagem inicia com a jovem Babydoll, que após a morte da mãe, passa a ser assediada pelo padrasto e, em uma das investidas dele, termina acidentalmente matando a irmã. O padrasto convence a polícia de que a menina enlouqueceu e a mandam para um hospício fazer uma lobotomia. Até a chegada do médico responsável pelo procedimento, que deve ser em cinco dias, ela cria um universo fantasioso para sobreviver aos horrores do local.

Nesta nova realidade, Baby Doll se junta as demais paciente para bolar um plano de fuga: precisam conseguir cinco elementos (uma chave, uma faca, um isqueiro, um mapa e um item não revelado). A partir de então ocorrem cinco cenas de ação na tentativa de obter tais “objetos”, cada batalha em um cenário diferente: Japão feudal, Primeira Guerra Mundial, castelos medievais e um futuro tecnológico. Todas com tomadas surpreendentes e repletas de efeitos especiais fantásticos, em um estilo semelhante ao videogame. Dá vontade de pegar um controle e sair jogando.

O problema é que, apesar de serem sequencias visualmente deslumbrantes, não são tão interessantes quanto o restante da narrativa, ambientada no hospício (mundo real)/cabaré (surreal). As cenas de batalha não possuem adrenalina e emoção suficientes para provocar torcida e envolvimento do público, o que acarreta em um terceiro ato cansativo. Se no início a ação era impactante, passa a ser tediosa (e até previsível).

Ao contrário, tem-se afinidade com o que acontece fora das batalhas, nas aulas de dança de Madame Gorski (Carla Gugino), nas ameaças do vilão Blue Jones (Oscar Isaac) e nas discussões sobre como escapar do centro psicológico. Uma das cenas mais belas da produção acontece logo no início, quando o trágico caminho que leva Baby Doll à internação é mostrado sem diálogos, apenas ao som de uma versão alternativa de “Sweet Dreams”. Quase como em um videoclipe. São nesses detalhes que Snyder acerta.

O pacote de referências certamente é melhor apreciado pelos viciados em cultura pop, mas o longa também contempla os fãs de filmes de ação e ficção científica. Além do mais, mostra as beldades de seu elenco (Abbie Conish, Jenna Malone, Vanessa Hudgens e Jamie Chung) como guerreiras duronas, vestindo roupas curtas e lutando de salto alto. É com esse girl power que elas enfrentam os orcs, robôs, dragões e monstros. E convencem. Com exceção da protagonista, Emily Browning, que no papel de Baby Doll está tão expressiva que um pires.

Mesmo com o frágil terceiro ato, arrematado ainda com a revelação de auto-ajuda do quinto item, “Sucker Punch” é um filme que explora a linguagem visual, utilizando paletas inspiradas no soturno de “Edward Mãos de Tessoura” ao colorido futurístico de “AI – Inteligência Artificial”, e assim, demonstra uma pluralidade de conteúdo bastante interessante. E, apesar de leves tropeços, também é muito divertido.

Nota: 8

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