Gran Torino


Clint Eastwood é um rabugesto veterano da Guerra da Coréia que vive em um bairro dominado por imigrantes asiáticos. Após a morte da esposa, ele passa a alimentar uma revolta contra a própria família, o padre que tenta ajudá-lo e os “bárbaros” que moram nas casas vizinhas.

O astro de 79 anos mostra-se completamente à vontade tanto na frente como atrás das câmeras. A direção precisa dá o tom certo para a narrativa tipicamente masculina e sabe trabalhar pouco a pouco com as rachaduras emotivas. O intransigente personagem de Eastwood acaba salvando sem querer a vida de Thao, um garoto oriental que em outra ocasião tentou roubar seu Gran Torino 1972. Surge entre o velho e o moço uma delicada relação.

O projeto foi injustamente esquecido nas principais premiações, e merecia no mínimo algumas indicações – principalmente para a atuação de Clint e sua obra como um todo. “Gran Torino” satisfaz alguns conflitos da trama com certa rapidez (algo inverossímel) e apresenta um bom número de clichês, mas ainda assim é um belo filme. Certamente está entre os melhores de 2008.

Nota: 8,5

A Verdade e Só a Verdade


Jornalista escreve um artigo para o jornal Sun-Times revelando a identidade de uma agente secreta da CIA e sua mais recente missão na Venezuela. Mesmo sofrendo duras pressões para confessar quem é a sua fonte, ela recusa-se a falar e é presa. O transcorrer do caso é o que acompanhamos nas quase duas horas de “A Verdade e Só a Verdade”, um drama inspirado livremente em uma história real.

O filme suscita muitos questionamentos éticos considerando as atitudes por parte da jornalista, do juri e da CIA. O processo é polêmico por natureza e a produção tenta não julgar as partes envolvidas – por mais que deixe claro ser à favor da mocinha. O pulso firme do diretor Rod Lurie gera um bom andamento para a história mantendo-a sempre interessante. Porém, o brilho é de Kate Benckinsale que na pele da protagonista apresenta uma de suas melhores atuações. “A Verdade e Só a Verdade” não possui intenções de fazer muito alarde entre os lançamentos, mas é uma fita que pode surpreender.

Nota: 7,8

O Efeito da Fúria


O ponto de partida deste drama é um tiroteio dentro de uma lanchonete. Na sequência, acompanhos por meio de histórias paralelas o que mudou na rotina dos sobreviventes ao trágico acontecimento. O estranho é que algumas das histórias não possuem ligações entre si, outras não apresentam o mínimo propósito e as demais nem chegar a ser abaladas pelo incidente na lanchonete. Ao assistir “O Efeito da Fúria”, sente-se que o roteiro procura filosofar sobre a sociedade americana, mas nunca chega a fazê-lo.

Me pergunto qual foi o interesse de tantos atores conhecidos (Kate Beckinsale, Dakota Fanning, Guy Pearce, Jackie Earle Haley e Josh Hutcherson) e mais alguns recentemente oscarizados (Forest Witaker e Jennifer Hudson) por esta produção. Boa parte dos personagens não necessitava de figuras renomadas para interpretá-los, chega a ser um desperdício de talentos - ainda mais em um filme que não leva a lugar nenhum.

Nota: 4,0

Choke


É perceptível o estrago que fizeram no texto corrosivo de Chuck Palahnick nesta adaptação da obra “No Sufoco”. O autor de “Clube da Luta” tem seu livro massacrado por uma falta de cuidados e escolhas criativas muito abaixo do óbvio. A narrativa possibilitava tantas liberdades poéticas que é deplorável constatar o resultado frustrante e enfadonho.

Victor Mancini é viciado em sexo, trabalha em um parque temático vestido de vassalo irlandês e costuma afundar grandes pedaços de comida goela à abaixo em restaurantes para se sentir querido. Este é o personagem central de “Choke”, uma comédia de humor negro que funciona nas páginas de Palahnick, mas nas mãos do ator Sam Rockwell isso não acontece.

O astro de “Confissões de Uma Mente Perigosa” e “Os Vigaristas” tentou despontar em Hollywood mas não conseguiu. Porém quando quer, ele é um bom ator e aqui não parece que Rockwell tenha se esforçado: sua interpretação não é nada empolgante. Angelica Huston, como a mãe do personagem alterna bons momentos com cenas robotizadas. Ao geral, dá raiva de assistir o desastre de um texto genial sendo tão mal aproveitado na tela. Os culpados não são só os atores, mas toda a equipe que não consegue realizar uma cena memorável perante a transposição de uma obra de sequências inesquecíveis.

Incrivelmente, o longa foi premiado no Festival de Sundance com o Prêmio Especial do Júri.

Nota: 4,0

Milk - A Voz da Igualdade


“Milk” dá novo gás para o diretor Gus Van Sant, que deixa um pouco de lado seu experimentalismo de filmes como “Elefante” e “Últimos Dias” para realizar uma produção caprichada e de roteiro no ponto. Sean Penn assume a figura icônica do primeiro político assumidamente homossexual na história dos Estados Unidos. O astro vencedor do Oscar por “Sobre Meninos e Lobos” ganhou seu segundo prêmio da Academia pela ótima interpretação, sem beirar o exagero ou repulsa.

Harvey Milk lutou pelos direitos gays e causou muita polêmica nos anos 70 e nesta cinebiografia sua história é contada com ritmo e envolvendo o espectador na trajetória do personagem. Vale destacar a reconstituição da época, perfeita em figurinos e direção de arte. O elenco coadjuvante merece considerações: Emile Hirsh como assistente de Milk consegue agradar, James Franco cada vez melhor ator merecia mais espaço e Josh Broslin mal aparece e levou uma indicação ao Oscar (!).

Nota: 8,0

Segurando as Pontas


Olha que nem chapado dá para aproveitar a sessão de “Segurando as Pontas”. O filme foi concebido pela turma de Judd Apatow, que antigamente realizou os ótimos “O Virgem de 40 Anos”, “Ligeiramente Grávidos” e “Superbad”. Após a trilogia, o roteirista, produtor e diretor envolveu-se em projetos sofríveis ou no mínimo questionáveis, como “Quase Irmãos”, “Ressaca de Amor”, “Zohan”, “Meu Nome é Taylor, Drillbit Taylor” e esta produção aqui.

Para começar, “Segurando as Pontas” não é terrível. A ousadia em trabalhar a maconha como um de seus principais temas tinha tudo para render uma engraçadíssima comédia. O resultado é morno. No início até empolga, mas logo desanda pela falta de graça. A extensa duração massacra o filme e as cenas de ação próximo ao final já não possuem chance de levantar a moral do projeto.

Na trama, Seth Rogen trabalha fumando maconha e entregando mandatos judiciais. Após presenciar um assassinato, ele procura seu traficante e acabam os dois sendo perseguidos pelos criminosos. James Franco rouba a cena como o eterno chapado Saul Silver, companheiro de fuga. O restante são poucas cenas merecedoras de atenção, muitas beirando o humor pastelão e com personagens caracturais. Desta vez parecia que Judd Apatow iria acertar. Será que ainda vai demorar?

Nota: 5,5

Simplesmente Feliz


Entre as baladas produções que concorriam ao Globo de Ouro em 2009 um singelo filme britânico destacou-se pelas indicações como Melhor Comédia e Melhor Atriz. O filme era “Simplesmente Feliz”, que conta a história de Poppy, uma professora de escola primária apaixonada pela vida e que possui um otimismo invejável. Como diz o título, ela considera-se uma pessoa feliz e satisfeita com o que construiu, porém, esse universo harmônico será sacudido pelas interferências de Scott, seu instrutor de direção, que revela-se um homem perturbado e descrente da filosofia de Poppy.

Sally Hawkins está fantástica como a personagem exagerada e merecidamente venceu como Melhor Atriz (Comédia ou Musical) na premiação. Poppy é a alma do filme, mesmo que algumas vezes tome atitudes infantis e irritantes. Ainda assim, estamos frente a frente a uma criatura encantadora que faz com que esse sentimento se espalhe pelo conjunto do filme. “Simplesmente Feliz” tem a intenção de procurar no espectador o mesmo amor que sua personagem transborda na tela. Todos nós possuímos, só falta deixá-lo ativado por mais tempo.

Nota: 7,8