Crítica: Mulher-Maravilha



Enquanto Superman e Batman aparecem nas telas desde os anos 1950 e 1980, respectivamente, a principal heroína dos quadrinhos recebe seu primeiro longa-metragem com décadas de atraso. Frente a uma indústria que exalta personagens do sexo masculino, o filme da Mulher-Maravilha, estrelado por Gal Gadot, possui um importante papel social no reconhecimento das mulheres na Sétima Arte.

Os tempos são outros e, finalmente, a DC Comics percebeu que estava mais do que na hora de contar a história da guerreira Diana, filha de Zeus com a amazonas Hippolyta. O momento não poderia ser mais adequado, conforme o atual debate sobre às questões feministas e de gênero.

No filme, a jovem é criada na escondida e paradisíaca ilha de Temiscira, onde encontra-se isolada do mundo dos humanos até a chegada do misterioso Steve Trevor (Chris Pine), que sofre um acidente de avião e cai numa praia local.

O estrangeiro conta que, recentemente, descobriu detalhes sobre a elaboração de uma arma devastadora, criada pela Doutora Veneno para matar milhões de pessoas. Assim, os dois partem rumo a Londres para dar um fim aos conflitos da Primeira Guerra Mundial.

Os dois primeiros atos da produção (Temiscira e Londres) são melhores construídos que o encerramento, o qual  aposta numa revelação não convincente do vilão. A batalha final deixa a desejar em pancadaria e efeitos especiais, mas neste momento Gal Gadot já conquistou o espectador - e ele não vai abandoná-la em sua jornada.

Isso porque Diana mostra-se pouco a pouco ser realmente uma mulher poderosa, uma heroína a altura de qualquer marmanjo de capa vermelha ou preta. Existe uma química entre Diana e Steve, sem que ele roube o brilho da protagonista. O show é inteiramente da Mulher- Maravilha.

Se Gal Gadot já havia chamado atenção no ano passado em Batman vs Superman, agora, em seu território, a atriz esbanja carisma. Para fins do roteiro, ela mantém um ar inocente, o que a torna facilmente manipulada. Entretanto, o tratamento que foi criticado por muitos mostra um amadurecimento que faz parte de uma história de origem.

"Mulher-Maravilha" não é um filme que exalta o caráter feminista. Trata as questões de forma natural, como deve ser. Diverte, empolga e reforça que representatividade no cinema é importante. A heroína estará de volta em novembro deste ano em Liga da Justiça.

Nota: 7,3

Crítica: Quase 18


Nadine é uma típica adolescente. Insegura, ela não se sobressai entre os demais no colégio e transforma qualquer problema no fim do mundo. Por vezes, é exagerada, irritante, egoísta e mimada. "Quase 18" apresenta o amadurecer de uma personagem que não é idealizada. Seus dramas são reais e conferem o peso que é enfrentar a transição da adolescência para a maioridade.

A história se desenvolve a partir da descoberta que a melhor (e única) amiga de Nadine está se relacionando com o irmão mais velho dela. E, claro, ele faz parte do grupo de pessoas que se destacam em tudo. O mundo da jovem entra em colapso. Sente-se excluída, pois acredita que sua amiga tem outras prioridades agora, inclusive interagir com colegas mais velhos e mais populares.

Revoltada com a situação, Nadine acaba por atrair mais e mais problemas, despertando uma sucessão de erros envolvendo sua mãe, dois interesses amorosos, um professor e a própria relação com o irmão tido como perfeito. Será preciso, então, encarar cada desafio de uma outra forma. Afinal, a vida é feita de riscos, de escolhas e de aprendizado.

A diretora estreante Kelly Fremon Craig, que também assina o roteiro, adota a linha da comédia sutil para abordar os dramas da personagem. O que chama atenção são os rumos inesperados da narrativa. Quando espera-se que uma mensagem comprometedora seja divulgada na escola, o roteiro apresenta justamente o contrário. E assim por diante.

Hailee Steinfeld, já vista em produções como "Mesmo se nada der certo" e "A Escolha Perfeita 2", é puro carisma. A atriz - e também cantora fora das telas - toma o filme para si e brilha em cena, oferecendo muita verdade para a protagonista. Desta forma, e por todos os motivos anteriores, Quase 18 é um filme que se relaciona totalmente com seu público, e expande o diálogo para todos aqueles que já foram adolescentes. Sem precisar envolver situações absurdas, vampiros ou brincadeiras mortais.

Nota: 7,6

Crítica: Colossal


Notícias de todo mundo divulgam que um monstro gigante e assustador surgiu repentinamente em Seul, na Coreia do Sul, e está destruindo a cidade. Este poderia ser mais um filme catástrofe na linha de Godzilla, mas "Colossal" inova quando coloca uma mulher comum com o poder de controle sobre a criatura.

Anne Hathaway interpreta a protagonista Glória, que vive em Nova York e precisa retornar para a sua cidade natal depois de perder o emprego, afundar-se na bebida e ainda terminar o relacionamento com o namorado. De volta ao lar, ela descobre que possui uma forte ligação com a ameaça do outro lado do planeta, ou seja, suas ações são igualmente reproduzidas pelo monstrengo, inclusive seu tique de coçar a cabeça quando está nervosa.

O ponto de partida de "Colossal" é muito interessante - e original. Mistura comédia e ficção científica de maneira esperta, mas encontra sua base no drama. A história, na verdade, apresenta-se como uma fábula moderna, utilizando elementos fantásticos para revelar que existe um monstro dentro de cada um de nós.

No caso da personagem principal, essa descoberta é benéfica, tirando-a da inércia e dando-lhe um objetivo em sua rotina de tédio e muitas doses de álcool. Por conta disso, Glória consegue, inclusive, deixar o vício da bebida.

A derrapada do projeto acontece em seu terceiro ato, quando aposta em um suposto vilão para a trama, personificado na figura de um robô gigante. Seria este o oposto de Glória, duas faces de uma mesma moeda. Um ser amargurado, invejoso, que promoveu uma destruição interna sem volta. Mesmo com todos esses motivos, a revelação do verdadeiro comandante desta criatura não é bem construída.

Ainda assim, o roteiro assinado por Nacho Vigalondo, que também é o responsável pela direção, aproveita para conferir um caráter cult e fazer algumas críticas, como quando um dos personagens comenta que se a destruição está acontecendo apenas em Seul, ainda não é alarmante. O problema é se isso avançar.

"Colossal" pode aparentar uma divertida aventura sobre um monstro implacável, porém, em análise mais profunda apresenta-se como um filme existencial sobre pessoas em frangalhos e o que elas são capazes de fazer quando recebem poder. São os dramas pessoais que ditam as regras, e esses são os verdadeiros Godzillas.


Nota: 7,0

Crítica: The discovery


E se fosse provado que existe vida após a morte? Seria um novo plano de existência, uma nova chance, um recomeço… Em "The Discovery", produção original Netflix, a resposta vem através de uma abordagem pessimista. O cientista Thomas Harbor identifica que, após o óbito, ondas cerebrais deixam o corpo humano. Mesmo sem saber para onde vão, a notícia acarreta uma onda assustadora de suicídios em todo planeta.

O filme não faz mistério quanto à tal descoberta e inicia com uma entrevista de Harbor (Robert Redford) para a televisão. Ele é contestado porque levou seis meses para se pronunciar sobre o caso, levando os índices de mortes a ultrapassarem um milhão. O desfecho do bate-papo é chocante, o que faz o cientista voltar à sua reclusão.

A trama, então, passa a acompanhar o neurologista Will (Jason Segel) que está indo até uma ilha visitar seu pai. Antes de chegar na mansão onde encontra-se Harbor e seu laboratório de testes, o filho se depara com Isla (Rooney Mara), uma mulher que possui um passado trágico. Os dois desenvolvem uma conexão imediata.

Cada um dos três personagens apresenta diferentes traumas e motivações. Alguns destes são interessantes para a trama, outros nem tanto. O mais intrigante na história é “a descoberta” e suas consequências, incluindo também a possibilidade de desenvolver um modo de acabar com os suicídios.

Portanto, há muito para ser abordado em pouco mais de 90 minutos, o que provoca um certo atropelo no terceiro ato. Por conta disso, acaba prejudicado por uma reviravolta sem muitas explicações. Essas características destoam perante a narrativa prévia, construída de forma lenta e com cara de drama indie misturado com ficção científica, na linha de "O Lagosta".

De qualquer forma, "The Discovery" instiga pelas perguntas que provoca, mesmo não respondendo a maior parte delas. Revela-se uma jornada melancólica, criativa e curiosa, fortalecida pelos diálogos precisos, por boas atuações de todo elenco e, principalmente, pelos dilemas proporcionados a partir do delicado tema ao qual é corajoso em se aventurar. Um filme que vale ser descoberto pelo espectador!

Nota: 8,0