Crítica: Terapia de Risco


Considerado o melhor filme de Steven Soderbergh desde “Traffic”, “Terapia de Risco” vem para mostrar que o diretor pode fazer filmes que não sejam tão chatos como boa parte dos exemplares de sua carreira. Após o auge com “Erin Brockovich” e “Onze Homens e um Segredo”, esteve envolvido em projetos blase, como “Full Frontal”, “Bubble”, “O Desinformante”, “O Segredo de Berlim” e “Confissões de uma Garota de Programa”. Até os mais recentes sofreram desse mal. “Magic Mike” é divertido, porém vazio. E “À Toda Prova” é apenas vazio. 

“Terapia de Risco” possui um interessante ponto de partida. Emily Hawkins (Rooney Mara) é uma jovem mulher que toma diversos medicamentos para conter a ansiedade pelo fato de que seu marido (Channing Tatum) está prestes a sair da prisão. Para lidar com a depressão profunda, busca um tratamento psicológico com o doutor Jonathan Banks (Jude Law). A combinação desses remédios provoca efeitos inesperados que mudam o rumo da história. 

Como os demais projetos de Soderbergh, este também conta com um time de astros. Rooney Mara, após o sucesso de “Millennium – Os Homens que Não Amavam as Mulheres”, é a atração principal do longa-metragem. Despida de elementos góticos, ela está bem diferente da hacker Lisbeth. Um desempenho competente, mas nada extraordinário. Por outro lado, Jude Law destaca-se com o personagem mais consistente em cena e roubas as atenções para si. Enquanto isso, Catherine Zeta-Jones encontra-se novamente exagerada e caricata – vide “Rock of Ages”. 

O thriller desenvolve uma curva ascendente de tensão e inquietude em pouco mais de 90 minutos. O cineasta contribui com um produto estiloso, fundamentado em um cenário contemporâneo frio e de poucos e ternos contatos humanos. Perde um pouco o foco em sua segunda metade, quando despreza a indústria farmacêutica como vilã (leia-se o ponto alto do filme), para enveredar por uma reviravolta de cunho policial. A escolha não tão é eficaz. 

“Terapia de Risco” assume seu lado banal ao concluir a trama, sem recompensar com um grande final o espectador que acompanhou o desenrolar do mistério. É um filme bem construído, curioso e envolvente, até com jeito de produção cult. Porém, se não fosse pelos atores famosos, passaria batido nos cinemas. No fim, é mais do mesmo.

Nota: 7

Filmes para namorar

Casais de todo o país estarão reunidos nesta quarta-feira para comemorar o Dia dos Namorados. A data mais apaixonante do ano é sinônimo de troca de presentes e juras de amor. Porém, todo esse romantismo nem sempre é aproveitado em sua plenitude quando o 12 de junho cai em um dia da semana - este ano, numa quarta-feira. As tarefas diárias e profissionais não cessam para ninguém. Muitos terminam o dia cansados e ainda precisam encarar filas de espera em restaurantes, cinemas, shows e motéis. Para evitar uma noite estressante, a dica do CinemaX é preparar uma programação no conforto do lar, com jantar especial e um bom filme para acompanhar. 

Como sugestão, oferecemos uma lista formada por 12 comédias românticas lançadas recentemente no Brasil, entre 2011 e 2013, sendo que a maior parte já está disponível em DVD. A diversão com qualquer um dos títulos a seguir é garantida, ainda mais que a melhor companhia para uma sessão de cinema você já possui.


Ruby Sparks
Quem nunca imaginou como seria o seu par perfeito? Um homem ou uma mulher de seus sonhos? Em "Ruby Sparks - A Namorada Ideal", o jovem escritor Calvin apaixona-se pela personagem de seu novo livro e, como travessura do destino, a garota da ficção se materializa, saindo de sua mente para a vida real. Esta comédia romântica terna e inteligente mostra o quanto o amor pode ser mágico e que, apesar da realidade não corresponder com o que esperamos, a perfeição encontra-se justamente na imperfeição.


O Lado Bom da Vida
Uma equipe em perfeita sintonia é a fórmula do sucesso de "O lado Bom da Vida". A produção sobre dois adultos traumatizados que se apaixonam é encantadora. Apesar de não apresentar nada surpreendente em sua história, compensa pelo charme e desempenho impecável do quarteto Bradley Cooper, Jennifer Lawrence, Jacki Weaver e Robert DeNiro.


Um Divã para Dois
Ao lado de "Alguém Tem que Ceder" e "Simplesmente Complicado", "Um Divã para Dois" aborda o relacionamento na terceira idade. O filme retrata o momento em que é preciso inovação no casamento para resgatar um amor que pode não estar perdido. Destaque, como sempre, para a excepcional Meryl Streep. 


Moonrise Kingdom
"Moonrise Kingdom" é uma história de amor infantil que vai do triste ao engraçado, da aventura ao drama, do romântico ao esquisito. Entre seus inúmeros acertos, cabe salientar a aposta em uma abordagem mais doce do que a habitual preferência do diretor Wes Anderson pelo azedo. Uma obra de arte apaixonante, que resgata um espírito de aventura juvenil e a poesia do primeiro amor.


Para Sempre
Após sofrer um acidente de carro, Paige perde a memória dos últimos cinco anos, esquecendo-se de tudo que viveu com o seu marido. Leo, então, não mede esforços para que a esposa se apaixone mais uma vez por ele. O filme mescla romance e drama em uma mistura gostosa de assistir: é meloso na medida e não exagera nos clichês. Um passatempo ideal para os enamorados.


Amizade Colorida
Amizade colorida é a melhor comédia romântica produzida por Hollywood em anos. Os diálogos inteligentes e a química da dupla protagonista - Justin Timberlake e Mila Kunis - criam empatia imediata com o público. A trama desvia dos lugares-comuns, utiliza diversas referências pop e consegue ser atual e refrescante ao gênero.


Meia-noite em Paris
Com "Meia-noite em Paris", Woody Allen voltou ao topo ao arrecadar elogios e inúmeros prêmios, como Melhor Roteiro no Oscar e Globo de Ouro. A trama sobre um escritor fracassado que “viaja no tempo” para uma Paris dos anos 20, de encontros com grandes artistas do passado, deleitou gerações saudosistas. E, de brinde, apontou o verdadeiro sentido do amor.


Weekend
Depois de O segredo de Brokeback Mountain não houve um filme que retratasse o relacionamento gay de forma tão verdadeira como a produção inglesa Weekend. Em uma história romântica e atual, o diretor Andrew Haigh mostra que o amor pode surgir quando menos se espera - e por que não entre pessoas do mesmo sexo? O filme virou cult de forma espontânea, divulgado principalmente pela internet e, ainda, revelou o talento de Tom Cullen.


Solteiros com Filhos
Maturidade no cinema sempre é bem-vinda. "Solteiros com Filhos" distingui-se por ser um entretenimento sincero sobre os relacionamentos modernos. Discute o sexo entre recém-casados, sexo entre pais e sexo entre amigos. Três estágios diferentes que são experienciados pelos casais na faixa dos 30 e poucos anos que formam o mesmo grupo de amigos. Esta comédia dramática provoca questionamentos interessantes, com foco ainda em dúvidas quanto à paternidade.


Amor a Toda Prova
Grande sucesso nas bilheterias, "Amor a Toda Prova" veio para deixar o mundo babando por Ryan Gosling. Além desse atributo, o filme é uma divertida comédia romântica que carrega várias pequenas tramas. A principal delas é sobre um casal de meia-idade que se acomodou e perdeu o tesão, decidindo pela separação. O marido, agora solteiro, passa a receber dicas de sedução vindas de um jovem “pegador”.


O Homem do Futuro
Um dos raros exemplares de ficção científica nacional, "O Homem do Futuro" é, acima de tudo, uma comédia romântica. Utiliza a questão do tempo para mostrar que o amor é necessário para a humanidade, através de um retrato nostálgico e sentimental sobre a vida. Apesar de beber da fonte de exemplares como "De Volta para o Futuro" e "Efeito Borboleta", a produção é original a sua maneira. Ao término, "Tempo Perdido", da Legião Urbana, não será ouvida da mesma forma.


Meu Namorado é um Zumbi
Esta comédia de ação sobre o relacionamento entre uma garota e um morto-vivo é mais indicada para as plateias adolescentes. O filme provoca um estranhamento inicial ao distorcer o conceito de zumbi, mas, aos poucos, acaba conquistando o espectador. "Meu Namorado é um Zumbi" entretém bastante e mostra que os casais no cinema estão cada vez mais ecléticos. 

Crítica: As Palavras


"As Palavras" é aquele filme que não vai se tornar um sucesso de bilheteria, não virará cult e nem ao menos será reconhecido como um belo drama existencial. É o exemplar que estreia em poucos cinemas e passa batido entre as cópias na locadora. Pouca gente assiste e dá valor. Mas, a produção escrita e dirigida pela dupla Brian Klugman e Lee Sternthal possui uma das melhores histórias de 2012 e, na mão de um diretor de renome, poderia ser um blockbuster devorador de muitos prêmios.

A trama é dividida em três capítulos. Inicia com o escritor Clay Hammond (Dennis Quaid) realizando uma sessão de leitura de seu novo livro. Ele narra ao público os acontecimentos de Rory Jansen (Bradley Cooper), um jovem ambicioso que deseja assinar contrato com uma editora para lançar seus romances. Certo dia, ele encontra um manuscrito antigo e resolve mandar para um editor, como se a obra fosse sua. O texto é publicado e não demora para se tornar um sucesso. Porém, o verdadeiro autor (Jeremy Irons) surge para atormentar o tal “ladrão de palavras”.

A partir deste momento, o projeto muda o rumo e passa a revelar os fatos que motivaram o relato contido nas páginas do agora bestseller. Aborda, assim, as escolhas feitas na vida e o preço que se paga por elas. Registra momentos que transformam para sempre as pessoas. Escolhas que permanecem conosco. Irreversíveis. O filme entrega sua intensa carga dramática através de belos diálogos: “O que aconteceu com ele?”, pergunta um dos personagens, e o outro responde, tristemente, “A vida”, com um peso que dói na alma. 

Passagens de uma sensibilidade extrema marcam o dinamismo entre realidade e ficção. Em determinado instante, o escritor misterioso despeja: “Você roubou a vida de um homem e achou que não haveria um preço a pagar? A alegria e a dor deram origem àquelas palavras. Roubando as palavras, você leva a dor”. E desta figura amargurada, judiada pela vida, numa versão masculina da Ms. Dinsmoor, de "Grandes Esperanças", surge a força do sofrimento contido no filme. 

A estrutura multifacetada consegue atingir um de seus maiores desafios ao conciliar de forma coesa as três narrativas. De quebra, o elenco entrelaça os personagens com atuações competentes. Jeremy Irons (magnífico) e Quaid entregam atuações vigorosas como há tempos não apresentavam nas telas. Durante os flashbacks, Ben Barnes surpreende como um “personagem do passado”. E Cooper, antes do desempenho em O lado bom da vida, mostra seus primeiros passados como ator sério.

Por todas essas razões, "As Palavras" oferece uma grande história. Seu roteiro é tão literário que chega a ser possível imaginar a estrutura de uma versão impressa. Carece apenas de um aprimoramento, uma lapidada, retirando cenas que deixam a trama mastigada para o espectador, pois a sugestão é sempre mais elegante que a revelação explícita. Outro fator inconveniente é que, em certas ocasiões, o longa-metragem parece um filme feito para a televisão, conforme o baixo investimento no projeto. 

Ainda assim, pequenos deslizes não tiram o mérito de uma brilhante construção filosófica. Nas mãos de Almodóvar, Scorsese, Stephen Daldry ou outro diretor com experiência e notoriedade, "As Palavras" teria uma invejável carreira em festivais e premiações. Infelizmente, fica restrito a poucos que, ao acaso, o descobrem. E, para esses sortudos, a seguinte frase, proferida pelo sábio personagem de Irons, provavelmente ficará marcada na memória: “Nós todos fazemos escolhas na vida. O difícil é conviver com elas”.

Nota: 8,7