Crítica: Cinco Anos de Noivado


O jovem casal Vic (Emily Blunt) e Tom (Jason Segel) decide se casar. Ao começar o planejamento da cerimônia, ela recebe uma carta da Universidade de Michigan com a oferta irrecusável de um emprego com validade de dois anos. Para não perder a oportunidade, os dois mudam-se de cidade e optam por adiar o casamento pelo período. Este será o primeiro empecílio do casal. Muitos ainda virão, porque, não por menos, o título dessa história é “Cinco Anos de Noivado”. Acompanhar os altos e baixos desse relacionamento é uma experiência interessante, cansativa e carismática.

O roteiro escrito por Segel e Nicholas Stoller (“Ressaca de Amor”), que também dirige o longa-metragem, é calcado na atual realidade em que ambas figuras do casal possuem individualmente suas carreiras profissionais – o que pode gerar conflitos. Tom, por exemplo, abdicou do cargo de chef de cozinha para morar com a noiva em uma cidade do interior que não tem apresenta um mercado em desenvolvimento para a gastronomia. O filme, ao abordar temas da vida moderna, representa novos impasses que se apresentam frente a instituição do casamento – esta que já não demonstra a mesma importância do passado.

No filme, a cerimônia simboliza o final feliz para os protagonistas. O problema é que esse encerramento parece ficar cada vez mais difícil ao passo que o casal cria lentamente uma distância entre si. Dessa forma, a comédia romântica insere uma pitada amarga quanto o desgate dos relacionamentos, promovendo perguntas como “Por que adiamos as coisas? Nunca estamos satisfeitos? Estamos sempre esperando um melhor momento?”.

Enquanto tentam resolver seus problemas antes de casar, Tom e Vic acabam esticando a duração do longa-metragem, deixando-o massante para o público. Inevitavelmente, a trama extensa de mais de duas horas torna-se cansativa – o que salva é o carisma absurdo de Emily Blunt, que ilumina cada uma de suas cenas. Um bom corte na edição resolveria esse problema. Fora isso, Cinco anos de noivado encerra em alta e consegue fazer uma análise válida sobre as relações humanas. Só é preciso ter um pouco de paciência.

Nota: 6,5

Crítica: Ruby Sparks - A Namorada Ideal


Quem nunca imaginou como seria o seu par perfeito? Um homem ou uma mulher de seus sonhos? Em “Ruby Sparks – A Namorada Ideal”, o jovem escritor Calvin Weir-Fields (Paul Duno) cria para o seu próximo livro uma personagem feminina tão encantadora que acaba se apaixonando pela garota da ficção. Como uma travessura do destino, a musa das páginas se materializa, saindo de sua mente, para a vida real. A partir dessa premissa, o filme explora a idealização do ser amado, brincando com os conceitos de perfeição e destino.

Dirigido por Jonathan Dayton e Valerie Faris, do sucesso “Pequena Miss Sunshine”, o longa-metragem possui uma aura indie e realista – apesar de ser um conto de elementos fantásticos. A história não se exime da possibilidade de Calvin interferir nas ações de Ruby (Zoe Kazan), sua criação. Em cada momento que o protagonista encontra-se insatisfeito com os rumos de seu romance, ele escreve as atitudes que espera da namorada, moldando-a à sua vontade. Aos poucos, calvin vai aprender que vale mais a pena deixar a vida ter seu rumo próprio.

Na pele do casal principal, Paul Duno e Zoe Kazan demonstram a química necessária ao projeto. Tarefa extremamente fácil já que os dois são namorados fora das telas. Enquanto Duno conquistou seu espaço em produções como “Sangue Negro”, Kazan tem no currículo pequenas participações em dramas e comédias, mas ainda é desconhecida do grande público. Neta do consagrado cineasta Elia Kazan, a jovem prodígio também assina o roteiro de “Ruby Sparks” e, por seu talento frente às câmeras e na produção, tem tudo para despontar na indústria cinematográfica.

“A Namorada Ideal” é uma combinação do romantismo de “500 dias Com Ela” com o realismo fantástico de “Mais Estranho Que a Ficção”. Uma fórmula relativamente original (longe de muitos clichês do gênero) que não poderia dar errado. Esta comédia romântica terna e inteligente mostra o quanto o amor pode ser mágico e, que apesar da realidade não ser aquela que esperamos, a perfeição encontra-se justamente na imperfeição.

Nota: 7,7

Crítica: Ted


Um urso boca-suja desbancou concorrentes de peso e garantiu vaga no ranking das maiores bilheterias do ano. “Ted” é o sucesso surpresa de 2012, com mais de 470 milhões de dólares arrecadados pelo mundo, tornando-se a comédia número 1 entre aquelas com classificação R (proibida para menores de 18 anos). O segredo do filme está nos diálogos espertos preenchidos por um humor sarcástico e infame, na maior parte das vezes proferido por um fofo bichinho de pelúcia.

Na produção da Universal Pictures, Mark Wahlberg interpreta John, um adulto infantilizado, que ainda não encontrou seu lugar no mundo. Quando criança, ele ganhou um urso de presente e pediu a uma estrela cadente que Ted fosse seu amigo. A partir disso, o brinquedo ganha vida e transforma-se em celebridade. Trinta anos depois, John trabalha como balconista em uma loja de aluguel de carros e Ted, sem a fama do passado, virou um vagabundo profissional. O impasse surge no momento em que Lori (Mila Kunis), a namorada de John, pede que o urso saia de casa para ter sua independência.

A comédia marca a estreia de Seth MacFarlane no cinema, o criador da série televisiva “Family guy”. O diretor e roteirista, que costuma atacar a moral e o conservadorismo americano, recebeu críticas fervorosas por incentivar as drogas e a vida fácil, sem estudo ou emprego, como foi o caso polêmico do deputado Protógenes Queiroz que se pronunciou revoltado no Twitter. O feito só incentivou a repercussão do filme e o aumento de sua arrecadação no Brasil.

Tanto alvoroço se justifica porque Ted é um urso que aparece cercado de prostitutas, fumando maconha, bebendo cerveja, falando inúmeros palavrões, dirigindo carro usando celular, apalpando seios de uma mulher e simulando sexo com um picolé e uma máquina registradora, além de disparar comentários preconceituosos. Curiosamente, esse conjunto de piadas ácidas funciona tão bem que as gargalhadas são involuntárias. E afeição com uma critura adorável e grotesca torna-se imediata.

“Ted” é um filme ousado, que segue à risca a cartilha das piadas policamente incorretas e aproveita-se de referências da cultura pop (Susan Boyle, Flash Gordon, Superman, Katy Perry e outros) para tirar muito sarro. A história de amizade com doses de humor negro e pastelão virou sensação nos cinemas e sua continuação está aprovada. Extremamente engraçado, o filme pode ser considerado, junto a “American Pie - O reencontro”, uma das melhores comédias do ano.

Nota: 8,1

Crítica: Até a Eternidade


Os maiores atores franceses da atualidade estão reunidos na produção “Até a Eternidade”, de Guillaume Canet, sobre um grupo de amigos que passam as férias em uma casa da praia. Marion Cotillard, François Cluzet, Gilles Lellouche e o vencedor do Oscar por “O Artista”, Jean Dujardin, integram o excepcional elenco. A produção de 2010 foi um dos principais sucessos de bilheteria dos últimos anos na França, com arrecadação de 44 milhões de dólares, e, após dois anos de atraso, finalmente chega ao circuito brasileiro. Um filme envolvente que trata de forma sincera e verdadeira diferentes assuntos, como relacionamento, homossexualidade, casamento, morte e, claro, amizade.

Na trama, um grupo de adultos formado por homens e mulheres entre 30 e 50 anos encontra-se anualmente na casa de veraneio do anfitrião Max (Cluzet). O encontro é um ritual para esses companheiros de longa data. Porém, desta vez, a viagem tem um gosto amargo: um dos companheiros, Ludo (Dujardin), sofre um acidente de moto e vai para o hospital em estado grave. Mesmo com a fatalidade, o grupo decide manter a reunião de férias sem a presença do amigo. Entre almoços, passeios de barco, partidas de futebol, jantares e conversas íntimas, segredos e mentiras que contam entre si acabarão sendo revelados. E, num último estágio, a indiferença ou a impotência quanto ao ocorrido com Ludo será colocada à prova.

O maior mérito de “Até a Eternidade” é a sólida construção de personagens, que faz as duas horas e meia de duração passarem sem que se perceba. São figuras bem definidas, com personalidades desenvolvidas com precisão a ponto de o espectador esperar a exata reação de cada um deles perante os fatos. Essa característica deve ser atribuída a Canet, que, além da direção, assina o roteiro. Talvez seja por isso que a personagem feminina de maior destaque ficou a cargo de sua esposa, Marion Cotillard – sempre competente em cena.

Inevitavelmente, o filme é comparado ao clássico “O Reencontro”, longa-metragem de 1983 que reúne um grupo de amigos no funeral de um deles. O título concentra grandes astros americanos: Kevin Kline, Glen Close, Tom Berenger, William Hurt e Jeff Goldbum. Canet assume sua inspiração no passado e sai vitorioso por conseguir criar um projeto próprio. Atualiza os conflitos para os dias de hoje, como quando introduz a história de Vicent (Benoît Magimel), casado e pai de dois filhos, que passa a sentir atração pelo amigo Max. Aliás, esta é uma das mais emocionantes narrativas que integram o filme.

A trilha sonora de “Até a Eternidade” merece um destaque em especial - semelhança que também divide com “O Reencontro”. Uma seleção de sucessos de Janis Joplin, David Bowie, The Isley Brothers, The Band, Damien Rice, Ben Harper e Jet embala as cenas dos amigos franceses. E nesse decorrer de situações casuais, a produção faz rir e chorar com a mesma intensidade. Apesar de se basear em alguns clichês e ter um jeitão de novela, consegue capturar o espectador desde a primeira cena, com um belo plano sequência. Ao final, é difícil se despedir do convívio com personagens que se tornam tão familiares.

Nota: 8

Crítica: Moonrise Kingdom


O novo filme de Wes Anderson segue a mesma e deliciosa cartilha utilizada em "Os Excêntricos Tenembaums", "A Vida Marinha com Steve Zissou", "Viagem a Darjeeling" e "O Fantástico Sr. Raposo". Os quatro são considerados “filmes de diretor”, em que o cineasta imprime uma marca própria e inconfundível. Na elaboração de seus projetos, Anderson costuma utilizar como figuras centrais pessoas esquisitas, desajustados sociais, fracassados. Para constituir esse universo geralmente melancólico, introduz uma fotografia que abusa da paleta de cores e aposta em trilha sonora composta por faixas dos anos 1960 e 1970. O cinema de Anderson permanece peculiar em "Moonrise Kingdom", produção em tom de fábula infantil sobre o primeiro amor.

A história se passa em 1965, em uma ilha da costa da Nova Inglaterra, onde dois jovens de 12 anos, Sam (Jared Gilman) e Suzy (Kara Hayward), se apaixonam. O casal decide fugir. Enquanto se aventuram vivendo na floresta, autoridades locais tentam localizar as crianças que sumiram. O filme consegue ir além da destemida fuga dos enamorados e apresenta surpresas para o seu segundo ato. Grande elenco integra o projeto: Bill Muray e Frances McDormand interpretam os pais de Suzy, Bruce Willis é o xerife que comanda as buscas, Edward Norton atua como o chefe do grupo de escoteiros e Tilda Swinton assume como a assistente social. Ainda tem participações especiais de Harvey Keitel e Jason Schwartzman.

Apesar de tantos astros na produção, os protagonistas são os estreantes Gilman e Hayward, totalmente encantadores como o jovem casal. Eles são os responsáveis por apresentar uma visão inocente e pura sobre o amor. Através desse delicado universo, o diretor proporciona um retrato sobre o período entre a infância e a adolescência, utilizando como metáfora o fato de estarem isolados em uma ilha. E, em cada frame, imprime sua plasticidade sedutora e particular, transformando o filme em uma peça gráfica de um charme estético irresistível.

"Moonrise Kingdom" é uma história de amor infantil que vai do triste ao engraçado, da aventura ao drama, do romântico ao esquisito. Entre seus acertos, cabe destacar a aposta em uma fórmula mais doce do que o habitual gosto pelo azedo do diretor. Com uma carreira de sucesso, de inúmeros elogios por onde é exibido, o filme apresenta-se como um forte concorrente ao Oscar 2013. Sem dúvidas, é uma obra de arte apaixonante, que resgata um espírito de aventura juvenil e a poesia do primeiro amor. Deve se tornar o principal projeto de Anderson a ser lembrado no futuro.

Nota: 8,4

O Que Esperar Quando Você Está Esperando


Manual básico para qualquer casal grávido, o livro “O Que Esperar Quando Você Está Esperando” tornou-se um sucesso imediato, com mais de dez milhões de cópias vendidas em todo o mundo. Tamanho êxito não passaria em branco por Hollywood, que encomendou uma versão para o cinema do best-seller escrito por Heidi Murkoff, Arlene Eisenberg e Sandee Hathaway. Um superelenco dá vida a várias histórias que retratam experiências dramáticas e divertidas com a gravidez.

O filme de Kirk Jones transforma as dicas do livro em cinco narrativas: Holly (Jennifer Lopez) quer muito adotar uma criança, mas seu marido (Rodrigo Santoro) possui dúvidas quanto à tarefa de ser pai, Jules (Cameron Diaz) é a estrela de um programa televisivo sobre emagrecimento e, de surpresa, fica grávida do atual namorado Evan (Matthew Morrison), Wendy (Elizabeth Banks) consegue engravidar após inúmeras tentativas, porém, ela perceberá que a gestação não será nada fácil, o sogro de Wendy (Denis Quaid) acaba de casar com a jovem Skyler (Brooklyn Decker), que está esperando gêmeos, e, por fim, Rosie (Anna Kendrick) envolve-se por uma noite com o sedutor Marco (Chace Crawford) e passa a esperar um filho dele.

O emaranhado de episódios, como de costume, apresenta seus altos e baixos. A melhor história é protagonizada por Banks, que abusa da comédia para mostrar como a gravidez pode ser massacrante. Em oposição, a trama que envolve Kendrick não é bem aproveitada, repercutindo em um romance sem graça e de pouca relação com a ideia central do filme. Nessa mesma linha, o núcleo envolvendo Diaz é completamente dispensável. Alguns momentos cômicos salvam a presença do enredo de Decker no projeto.

A parte que discute a adoção, protagonizada por Lopez e Santoro, oscila entre humor raso e cenas emocionantes, como aquela em que o casal encontra pela primeira vez a criança que será seu filho. O ator brasileiro destaca-se em um papel de relativa importância para a trama e apresenta um bom e convincente desempenho. Pena que ele participe de situações vergonhosas, como a do grupo de homens que se une para cuidar de seus bebês. Uma bobagem completa, principalmente quando Joe Manganiello entra em cena como um ganharão que todos veneram.

“O Que Esperar Quando Você Está Esperando” pode ser um guia literário bastante útil para os futuros pais, porém, como cinema não encontra essa relevância. É apenas um retrato pouco aprofundado e repleto de clichês sobre a gravidez. São poucos momentos que o salvam da completa inutilidade. O filme é recomendado para as plateias femininas e casais que estão vivenciado essa etapa da vida. Do resto, não vale tanto a espera por assistir.

Nota: 5,0

Crítica: 360


Um quebra-cabeças formado por numerosos personagens não é novidade no universo da sétima arte. Desde as sete indicações ao Oscar de Babel, a narrativa chamada de multi-plot (literalmente “multienredo” ou “enredos múltiplos”) foi experienciada por diversos cineastas. Porém, nem todos conseguiram o feito de Alejandro Gonzáles Iñarritu ao enlaçar os diversos núcleos de maneira orgânica. Utilizando praticamente o mesmo formato, o diretor Fernando Meirelles realizou o despretencioso longa-metragem 360, um passeio por nove histórias passadas nos Estados Unidos, Eslováquia, Inglaterra, França e Áustria. O filme, apesar de inconstante, apresenta um resultado satisfatório.

O giro pela vida dessas figuras inicia com uma garota tirando fotos para um site de agenciamento de prostitutas. Jude Law interpreta o executivo que contrata o serviço da novata e está prestes a trair sua esposa (Rachel Weiz). Não por menos, ela tem um caso com um fotógrafo brasileiro (Juliano Cazarré), recém-abandonado pela namorada após descobrir sua infidelidade. A jovem traída (Maria Flor) embarca em avião e conhece um homem obcecado pelo desaparecimento da filha (Anthony Hopkings). No aeroporto, flerta com um ex-presidiário (Ben Foster), acusado de agressão sexual. Soma-se ao conjunto, o motorista de um gângster russo, a esposa dele que está apaixonada pelo chefe dentista e, para completar o ciclo, a irmã da garota de programa lá do início.

As inúmeras tramas paralelas possuem apenas um objetivo: confirmar que estamos todos conectados, já que a decisão de um afeta a dos demais, independentemente de onde estejam. Em oposição a Babel, o filme de Meirelles não ambiciona discutir questões mundiais. O foco é no retrato íntimo de pessoas comuns, com os personagens dividindo o mesmo sentimento de melancolia, pois a maior parte deles encontra-se insatisfeito com suas escolhas. O roteiro de Peter Morgan (A rainha, Frost/Nixon) cruza essas histórias pessoais e oferece destinos curiosos, influenciados pelo mantra que rege a produção: “apenas vivemos uma vez”.

Em certos momentos, a combinação de muitos enredos fica desarmônica. Conflitos essenciais da trama são resolvidos com uma praticidade anormal. É o caso da personagem de Maria Flor, que sofre uma forte decepção e se recupera num estalar de dedos. O mesmo ocorre com o casal em crise formado por Law e Weiz, distantes um do outro nas primeiras cenas e apaixonado instantes depois. Um fato interessante é que a narrativa concentra-se mais nos núcleos dos artistas menos conhecidos do público, deixando de se aprofundar justamente nos contos dos quatro atores que estampam o cartaz do filme.

O renomado diretor brasileiro mergulha em casos simples, do dia a dia, e imprime sua técnica impecável atrás das câmeras, conferindo à produção um clima urbano e contemporâneo urgente. O projeto tem seu ápice nos 40 minutos iniciais, com um desenvolvimento impecável no entrosamento das histórias. Ganha fôlego novamente com um discurso emocionante de Hopkings e chega a apostar em um eficiente cinema de suspense e ação no encerramento. Ao final, esse envolvente giro de 360º pelo universo de diversas pessoas reforça uma mensagem essencial: não deixar a vida passar sem usufruir dela cada segundo.

Nota: 7,8



Crítica: Rock of Ages


"Rock of Ages" é um guilty pleasure (misto de prazer com culpa). O musical da Broadway que ganhou versão cinematográfica dirigida por Adam Shankman ("Hairspray") possui diálogos ruins, trama clichê, ritmo irregular e atuações artificiais. Porém, por outro lado, as cenas são contagiantes, as músicas deliciosas e a atmosfera dos anos 80 é visualmente encatadora. Apesar dos problemas, o filme é um prato cheio para quem gosta de musicais – e, principalmente, para quem curte o som das guitarras.

Considerado um jukebox musical, "Rock of Ages" utiliza canções populares previamente lançadas para contar sua história. As mais de 25 faixas que integram os números coreografados são conhecidas do público: sucessos de Dep Leppard, Bon Jovi, Foreigner, Journey, Poison, Twisted Sister e outros clássicos do rock da década de 1980. A produção ousa e promove mashups interessantes, oferecendo maior dinamismo e um ar contemporâneo para o projeto.

O filme acompanha dois jovens sonhadores, Sherrie (Julianne Hough) e Drew (Diego Boneta), que tentam a carreira musical em Los Angeles. Os dois se conhecem na Sunset Strip e acabam trabalhando juntos no bar do rock, o famoso The Bourbon Room, administrado por Dennis Dupree (Alec Baldwin). A casa se prepara para receber o último show do astro Stacee Jaxx (Tom Cruise), antes de deixar a banda Arsenal e trilhar carreira solo. No papel de vilã, a carola Patricia Whitmore (Catherine Zeta-Jones) é a esposa do prefeito que mobiliza a cidade para banir o rock.

De todo elenco, Tom Cruise é disparado o melhor em cena. Sua caracterização como Stacee Jaxx é incrível, uma mistura de Bon Jovi com Axel Rose. Quando está no palco, o artista brilha em suas performances musicais, evocando "Wanted Dead or Alive" e "Pour Some Sugar on Me". Catherine também está admirável, vide o show que oferece em "Hit Me With Your Best Shot", mas não tão fenomenal como esteve em outro musical, "Chicago". Enquanto isso, o lindo casal protagonista (Hough e Boneta) esforça-se para convencer e sustentar o desenrolar bobo de seus personagens, mas tudo soa pouco natural. Já o restante dos atores parece divertir-se com o clima alegre de danças e cantorias.

"Rock of Ages" é uma grande brincadeira. Não se leva a sério em nenhum instante, promovendo piadas constantemente - a principal delas vem de Dupree e seu “ajudante” Lonnie (Russell Brand). O projeto tem sua força no poder das músicas e no carisma dos astros. Divide com "Nine" um resultado semelhante: os dois são cheios de equívocos, mas ao mesmo tempo, maravilhosos. As duas horas de duração chegam ao final deixando a sensação de que poderiam ser mais enxutas. Porém, o filme é um musical delicioso de assistir, independente que não tenha profundidade ou carga dramática intensa. O alvo de "Rock of Ages" é registrar as aspirações de uma geração, com som e imagens pulsantes.

Nota: 7,8

Crítica: American Pie - O Reencontro




Um grupo de amigos dispostos a tudo para perder a virgindade antes do baile de formatura marcou o retorno das comédias adolescentes picantes para as novas gerações. "American Pie - A Primeira Vez é Inesquecível" foi um tremendo sucesso em 1999 e rendeu duas sequências com o elenco original e quatro títulos lançados diretamente em vídeo. Treze anos depois do primeiro filme, Jim e sua turma voltam para conferir um nostálgico e hilário capítulo final à série com "American Pie - O Reencontro".

Os icônicos personagens precisam encaram a vida adulta nesta nova produção. Jim e Michelle estão casados e têm um filho de dois anos, o que faz com que se afastem sexualmente. Kevin também é casado e interpreta o marido exemplar. Oz virou apresentador de um programa esportivo na televisão e namora uma modelo. Finch mantém contato apenas pelo Facebook, postando fotos em diversos países do mundo. Todos eles, incluindo o incorrigível Stiffler, irão se encontrar para a festa de reunião da turma de 1999.

Apesar do humor escrachado, vulgar e grosseiro que não poderia faltar, o projeto apresenta maturidade ao mostrar que os tempos mudaram. Na casa dos trinta anos, todos agora possuem responsabilidades, seja com a esposa, com o filho, com o trabalho ou com as demais escolhas que foram feitas nesse caminho. O filme faz questão de revisitar amores antigos e boas lembranças que a turma viveu. Existe uma busca pela satisfação e felicidade em cada um deles, aspirações urgentes que os jovens tanto almejam atualmente.

A aura que cerca o projeto é de nostalgia ao observar um autêntico reencontro - porque, além de reunir personagens, é a união de atores que tiveram suas carreiras lançadas pelo sucesso do original. E, para o público, que se divertiu com essa turma durante a adolescência, revê-los é um terno prazer. A identificação vem ainda de qualquer pessoa que integrou um forte grupo de amigos durante a escola.

O novo "American Pie" é um filme de grupo. Com um roteiro muito bem executado, promove o retorno de todos os personagens da série, mantendo-se fiel às suas características e conferindo a devida importância a cada um deles na conclusão. Incluindo nesse conjunto, os característicos (e constrangedores) diálogos entre Jim e seu pai - aliás, o veterano é responsável por cenas impagáveis nessa produção.

Quem, para variar, rouba a cena é Sean William Scott como Stiffler. Ele é o único que não mudou: continua festeiro, sacana e conquistador. Stiffler não se enquadra nessa nova realidade e não consegue lidar bem com as dificuldades da vida, permanecendo um adolescente. O interessante é que o roteiro valoriza sua figura e o coloca como a essência de que todos perderam, de quem eles eram anteriormente.

"American Pie - O Reencontro" consegue trazer de volta toda loucura da juventude e proporcionar muitas gargalhadas. Um resultado admirável para o oitavo filme de uma série de comédia. É ao mesmo tempo perceber e não perceber que o tempo passou. É reencontrar uma turma que fez parte da nossa vida, tanto na tela como nas memórias pessoais. É rever um divertido passado que deixamos para trás.

Nota: 8,4

Crítica: O Segredo da Cabana



A sinopse é a mesma: grupo de amigos viaja para lugar inóspito e é aterrorizado por assassino/criatura que os mata um a um. "O Segredo da Cabana" parte de uma premissa comum, mas subverte os clichês do terror com uma reviravolta surpreendente e apoteótica. O cartaz, o trailer e a primeira cena do filme entregam de imediato que tudo é, na verdade, um sádico experimento. Ir além disso estraga a surpresa ou, melhor, a revelação do tal segredo. 

Na trama, cinco amigos decidem passar o final de semana em uma cabana no meio da floresta. A viagem de diversão e descanso começa a ficar esquisita logo na primeira parada: um posto de gasolina desativado. Recebidos com hostilidade pelo proprietário do estabelecimento, os jovens são advertidos que o retorno de Tillermane não será tão simples. O suspeito aviso não é levado a sério. Chegando à casa, deparam-se com um recanto rústico e simpático situado na encosta de uma montanha e à beira de um lago. Lugar perfeito para relaxar longe da cidade. Porém, na primeira noite, o grupo desperta o desconhecido e terá que lutar por sua sobrevivência.

O filme é dividido em duas linhas narrativas. A principal fica por conta das assustadas vítimas na cabana, enquanto, paralelamente, funcionários de uma corporação observam e interferem no destino dos jovens protagonistas. Elementos de produções como "O Albergue", "Cubo" e "Jogos Vorazes" são de fácil identificação. Até esse momento, o longa-metragem parece seguir uma cartilha - mesmo que estranha.

Alternar as histórias acaba por quebrar a permanência de um clima de suspense desenvolvido na trama principal. Porém, provocar medo e sustos não é o objetivo central do projeto. A ambição dos realizadores vem à tona no terceiro ato, quando a "brincadeira" na montanha foge do controle e descamba para o cinema fantástico. "O Segredo da Cabana" mostra suas reais intenções e une terror, ação, ficção científica e muita violência em uma proposta original. Está aí a sua melhor parte.

Surgem deliciosas referências a clássicos, como "O Iluminado", "It", "Hellraiser", "Evil dead", "Os Estranhos", "Anaconda" e outros exemplares, em uma mistura de homenagem e sátira. Sua motivação é bastante curiosa e acaba por restringir o filme ao grande público. Inclusive, a crítica nos Estados Unidos ficou dividida quanto ao incomum conteúdo do projeto. Tanto foi chamado de obra-prima como de lixo completo. 

Essas denominações se justificam porque a produção é diferente de qualquer outro modelo do gênero. Parte do total clichê para um terreno inexplorado da narrativa de terror. Comprar essa ideia pode não ser das mais fáceis, mas sua experiência é válido porque apresenta interessantes novidades. Quem está acostumado com a fórmula tradicional de sustos e mortes bizarras, tem aqui o acréscimo de tensão, humor negro, carnificina e uma inteligente revelação. Como a maioria dos filmes que se tornam cult, "O Segredo da Cabana" é para poucos.

Nota: 7,7

Crítica: O Vingador do Futuro


Na onda de refilmagens (remake), prelúdios (prequels), reinícios (reboots) e sequências (sequels), Hollywood lança mais uma produção que se baseia numa obra lançada no passado. O conto de Phillip K. Dick que rendeu o clássico da ficção científica, “O Vingador do Futuro”, com Arnold Schwarzenegger, ganha nova versão pelo olhar do diretor Len Wiseman (“Anjos da Noite”/“Duro de Matar 4.0”). Com um show de efeitos especiais, algumas mudanças na trama e um novo astro à frente do projeto, a refilmagem pretende agradar a nova geração sedenta por deslumbrantes cenas de ação.

Ao invés de centralizar a história no planeta Marte, como no original, esta refilmagem se passa em uma Terra arrasada, cujas imagens são uma mistura de “Blade Runner” com “Minority Report”. O protagonista, Douglas Quaid (Colin Farrell), é um operário que começa a questionar o sistema opressor e, a fim de fugir da realidade, procura a empresa Rekall para participar de um experimento que transforma sonhos em uma simulação quase verdadeira. Algo dá errado e ele descobre ser um espião procurado pela polícia.

O filme coloca em dúvida se a nova identidade de Quaid é ou não uma consequência do procedimento pelo qual foi submetido. A provável reativação dessa parte da memória que havia sido apagada possibilita incessantes cenas de aventura. Duas delas se destacam: a sequência em que ele luta pela primeira vez com sua esposa (Kate Beckinsale), com início dentro no apartamento e depois por todo bairro; e, também, a tensa perseguição entre caixas de metal que servem como elevadores. Fora esses dois momentos, faltam emoção e adrenalina na caçada ao protagonista.

O que surpreende no novo projeto é a rica concepção do futuro, com uma fantástica direção de arte e os efeitos mais deslumbrantes e convincentes dos últimos anos no cinema. Em comparação com o filme de 1990, a refilmagem dá um nocaute em tecnologia. As imagens do primeiro longa-metragem envelheceram bastante nesses 12 anos e hoje podem ser consideradas trash. O investimento de 125 milhões de dólares na produção de 2012 é justificável.

Na substituição do protagonista, Colin Farrell cumpre seu papel como herói - apesar de certas vezes parecer no piloto automático - e se sai melhor que suas colegas de cena: Kate Beckinsale está canastrona demais como a vilã e Jessica Biel permanece apática ao meio das correrias e explosões. Mas, ainda assim, o principal problema do projeto é a história que acaba sendo um total clichê, uma desculpa para reproduzir muitas cenas de ação. Sem conseguir torcer pelo personagem, “O Vingador do Futuro” pode ser um passatempo facilmente esquecível logo após a sessão.

Nota: 6,8

O Ditador


Sacha Baron Cohen é daqueles atores que realmente vivem o personagem. Suas crias mais famosas, Borat e Bruno, são figuras semelhantes ao real esculpidas à base de estereótipos e preconceitos. Essa dupla enganou muitas pessoas em 2006 e 2009, respectivamente, através de falsos documentários (mockumentary) promovidos por Cohen. Em seu quarto projeto autoral (já que assina também como produtor e roteirista), ele utiliza a representação de um tirano para criticar regimes totalitários, guerras nucleares, técnicas de tortura e o medo de terroristas por parte dos norte-americanos. O contexto político tem uma missão específica: fazer rir.

Diferente dos anteriores, "O Ditador" é um filme de ficção. Não há nenhuma linguagem cinematográfica que remeta ao estilo de documentário ou que transmita a sensação de que as cenas são verdadeiras. Na trama, Cohen interpreta o almirante Aladeen, governante da República de Wadiya, que arrisca a própria vida para que a democracia nunca chegue ao país que ele amorosamente oprime. Em visita aos Estados Unidos, Aladeen é sequestrado e tem sua marcante barba cortada. Ele consegue fugir, mas, com o visual diferente, ninguém o reconhece como líder de Wadiya. Acaba recebendo a ajuda da militante Zoey (Anna Faris) e passa a trabalhar de atendente em uma cooperativa ecológica, sem deixar de planejar sua volta ao trono.

Uma novidade bem-vinda do projeto é a participação de astros como Ben Kingsley, Megan Fox, John C. Reilly e Anna Faris. Mais que oferecer seu trabalho artístico, esse time demonstra que apóia a mensagem do filme. A figura de um ditador opressivo, racista e ofensivo torna-se válida para qualquer líder mundial que queira acabar com os direitos dos cidadãos. E, o bom, é que o roteiro defende essa conduta até o final, sem promover uma transformação de caráter do vilão.

O filme tem momentos realmente engraçados. Possui diálogos absurdos que invariavelmente provocam o riso, mas esse humor inteligente não é constante. Estão no conjunto cenas completamente sem graça, escatológicas e ridículas; porém, ainda bem longe das piadas de mau gosto de Bruno, por exemplo. Se não fosse por sequências alongadas e grotescas, como a do parto, da descoberta da masturbação e da luta com peitos superpoderosos, "O Ditador" poderia ter um resultado mais consistente e satisfatório.

Por outro lado, é preciso creditar a Sacha Baron Cohen a ousadia em produzir um longa-metragem politicamente incorreto, repleto de humor negro e que critica ferozmente os Estados Unidos. Nesse quesito assemelha-se a "Borat – O Segundo Melhor Repórter do Glorioso País Cazaquistão Viaja à América". Em comparação aos outros projetos, "O Ditador" ainda é o mais comercial em fórmula, com uma história redondinha, e com maiores chances de agradar o grande público.

Nota: 7

Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge


Cercado de expectativas, a conclusão da trilogia do Batman, O Cavaleiro das Trevas ressurge, consegue dar fim à história do Homem-Morcego com uma brilhante jogada: conectar os dois filmes anteriores e formar uma trinca perfeitamente ajustada sobre o herói mais sombrio das HQs. O último capítulo da saga adota o tom épico e despede-se dos personagens de Gothan City com um quebra-cabeças típico do diretor Christopher Nolan.

O principal conselho antes de conferir esta nova aventura é reassistir a Batman begins e O Cavaleiro das Trevas. Estando atualizado com os dois filmes, o espectador certamente não irá perder as diversas relações que o terceiro longa-metragem promove com os capítulos iniciais. Figuras marcantes como a de Espantalho e Ra's Al Ghul retornam em importantes momentos da produção.

O ponto de partida da trama ocorre oito anos depois do herói ter assumido a culpa pelo assassinato de Harvey Dent. Com a criminalidade quase zero, a cidade não precisa mais de Batman. O aparecimento do brutamontes Bane (Tom Hardy), a fim de promover um ajuste de contas com Gothan City, faz o Homem-Morcego deixar o seu exílio e lidar com uma real e destruidora ameaça.

Mais uma vez, o roteiro introduz novos personagens à história: o policial Blake (Joseph Gordon Levitt), a ladra Selina Kyle (Anne Hathaway) e a executiva Miranda Tate (Marion Cotillard). E o resultado não poderia ser diferente. A intrincada teia de personagens funciona tão bem que a reivenção da Mulher Gato é plenamente satisfatória (superar a imagem fetichista de Michelle Pfeifer em Batman - O retorno seria impossível). Além disso, o destino conferido a Blake é uma das escolhas mais acertadas da produção. Somente a presença de Miranda que não se encaixa - e até compromete - a história.

O vilão Bane também merece alguns apontamentos. Se por um lado, ele é imponente e imbatível, como demonstra na sensacional sequência de invasão a um estádio de futebol ou quando luta ferozmente contra o herói do filme, por outro, ele é extremamente fraco, já que a risível revelação de suas motivações acaba enfraquecendo e desprezando o personagem. Além do mais, Bane não é tão assustador e impactante como deveria ser o último adversário do Batman.

Outros tropeços do projeto são as cenas de luta, que certas vezes não convencem. Em um momento, Batman precisa lutar contra vários capangas do vilão e, ao contrário do natural, os homens armados preferem esperar que o herói bata em cada um deles e, quando partem para o ataque, optam por proferir coronhadas ao invés de tiros. Extramemente artificial. Falso também é a forma como as participações de Miranda e Bane são finalizadas no longa-metragem.

Apesar desses (pequenos) pontos falhos, o derradeiro capítulo possui alta carga dramática, destaque para as cenas com Michael Caine, abusa de tecnologia, como exemplo o batmóvel à la nave espacial, conecta as aventuras anteriores de maneira precisa, tornando a trilogia redondinha e empolga com em seu combate final, no qual Gothan é levada sem piedade à destruição. Apesar de um pouco cansativo - o filme tem nada menos que 164 minutos - o ritmo calculadamente tenso só é afetado por um instante, quando o herói é capturado e preso. Fora isso, a sessão desenrola-se de forma concisa.

O diretor encerra uma série que ultrapassou a barreira do puro entretenimento das aventuras de super-herói e apostou na profundidade psicológica dos habitantes deste fantástico universo. Próximo da realidade, a reivenção do Batman no cinema conquistou até mesmo quem não era fã dos gibis. E, apesar dos últimos minutos deixarem a dúvida sobre a continuidade da lenda do Homem-Morcego, o retorno de Bruce Wayne e sua Gothan City só será devidamente descoberto nos próximos anos. Enquanto isso, sua saga fica muito bem representada pelos três filmes de Nolan.

Nota: 7,9

Solteiros com Filhos


Maturidade no cinema sempre é bem-vinda. “Solteiros com Filhos” destaca-se por ser um entretenimento sincero sobre os relacionamentos modernos. Discute o sexo entre recém-casados, sexo entre pais e sexo entre amigos. Três estágios diferentes da vida que são experienciados pelos casais que formam o mesmo grupo de amigos. Na faixa dos 30 e poucos anos, esses homens e mulheres servem de espelho para o que significa a vida adulta e como a presença de um filho pode interferir na felicidade e no amor que sentem um pelo outro.

Um time de astros em ascensão - a maioria oriunda do sucesso “Missão Madrinha de Casamento” -, compõem esse quadro de pura análise comportamental. O casal Leslie (Maya Rudolph) e Alex (Chris O´Dowd) deixaram os filhos tomarem conta e estão sempre esgotados. Já Missy (Kristen Wiig) e Ben (Jon Hamm) substituem o desejo sexual pelas provocações mútuas quando o primeiro filho surge no pedaço. Ao observar esses dois relacionamentos, os amigos Julie (Jennifer Westfeldt) e Jason (Adam Scott) decidem burlar as chatices advindas do casamento e ter uma criança, mesmo sem formarem um casal.

Apesar de possuir boas cenas cômicas, o que nutre “Solteiros com Filhos” é o drama. O roteiro formado por diálogos afiados e o elenco extremamente carismático contribuem para formar um filme agradável e comovente. O ápice é a tensa sequência de discussão entre Jason e Ben durante as férias em grupo. Verdades são ditas sem pudores e mostram as reais intenções do projeto. Quem se sobressai praticamente todo tempo é Jennifer Westfeldt (“Beijando Jessica Stein”), encatadora como a protagonista, que ainda assina como roteirista e diretora do filme.

O excelente longa-metragem tem apenas um deslize: os 20 minutos finais. O encerramento aposta em clichês típicos de comédia romântica e estraga o que poderia ser um projeto mais verdadeiro e ousado. Ao mudar de rumo, transmite um recado que desde o início parece ser contra. Se investisse mais na linha dramática, poderia arrancar algumas indicações a prêmios, como foi o caso de “Minhas Mães e Meus Pais”, que concorreu ao Globo de Ouro e ao Oscar.

Ainda assim, “Solteiros com Filhos” não perde sua força. É uma deliciosa e inteligente comédia dramática que provoca questionamentos interessantes para além das dúvidas sobre paternidade. Vale também por trazer bons (e novos) atores da comédia americana em papéis mais humanos.

Nota: 7,9

O Espetacular Homem-Aranha


A pergunta recorrente durante a sessão de “O Espetacular Homem-Aranha” é: "por quê?". Dez anos depois do primeiro longa-metragem de Sam Raimi, os produtores decidiram reinventar a série e contar novamente a história do super-herói mais popular da Marvel. O novo projeto acaba encontrando obstáculos justamente por ser praticamente uma repetição do filme de 2002.

Desentendimentos entre o diretor Raimi e os produtores Avi Arad e Matt Tolmach inviabilizaram a realização de “Homem-Aranha 4”. Para dar continuidade a uma franquia de alto retorno financeiro para a Sony, os produtores aproveitaram a onda da reinvenção de Batman, por Christopher Nolan, e apostaram em fazer o mesmo com o aracnídeo.

Ao contrário da nova cara que Nolan imprimiu em sua trilogia, o diretor Marc Webber, do ótimo “(500) Dias com Ela”, reproduziu praticamente a mesma história com a mesma abordagem, unindo ação, romance e humor. Sem injetar a personalidade tão necessária. Então, assistimos novamente Peter Parker ser picado por uma aranha e descobrir seus poderes. As semelhanças entre os dois filmes são absurdas, até os créditos iniciais são idênticos.

O argumento de marketing insistiu que essa versão seria mais fiel aos quadrinhos, sugerindo no cartaz que é “a história não contada”. De modo geral, troca-se o vilão Duende Verde pelo Lagarto e o par romântico Mary Jane por Gwen Stacy (Emma Stone). A principal novidade é aparição dos pais de Peter, interpretados por Cambpell Scott e Embeth Davidtz. 

O melhor do filme, sem dúvidas, é Andrew Garfield como o super-herói. O ator convence na pele do Aranha e tira de letra a missão de substituir Tobey Maguire. A versatalidade de Garfield funciona tanto nos momentos em que se apresenta de nerd sofredor de bullying como quando veste a fantasia e assume a segurança em usufruir de seus poderes.

Ainda assim, “O Espetacular Homem-Aranha” encontrá resistência por ser um remake recente que não apresenta resultados significantes em sua reinvenção. A pergunta “por que assistir tudo de novo?” pode ser respondida após os créditos finais. Esse primeiro filme preparou terreno para as próximas aventuras do personagem. A intenção dos produtores é realizar no mínimo uma trilogia e explorar inúmeros elementos que os anteriores deixaram de lado.

Apesar de assistir mais uma vez a origem do super-herói, o novo longa-metragem não é ruim. Diverte como passatempo e encontra seu público principalmente nas crianças e adolescentes. Comparado com o primeiro “Homem-Aranha”, perde em não ter uma trilha sonora empolgante e cenas marcantes, como o personagem aprendendo a escalar os prédios de Nova York ou o clássico beijo na chuva e de ponta cabeça. Devem ficar para os próximos filmes!

Nota: 7,1

Bel Ami - O Sedutor


Um ex-soldado sem dinheiro tenta a sorte na Paris de 1890, considerada, na época, uma cidade cheia de oportunidades. George Duroy (Robert Pattinson) é um jovem ambicioso que utiliza seu charme para conquistar mulheres da aristocracia e elevar sua situação social. No centro de um jogo de intrigas, desejo e traições, o rapaz se envolve com Madeleine (Uma Thurman), Clotilde (Christina Ricci) e Virginie (Kristin Scott Thomas). A trama faz parte do clássico romance francês de Guy de Maupassant, “Bel Ami”, que recebeu mais uma adaptação cinematográfica e chega ao Brasil sob o título de “O Sedutor”.

Os diretores Declan Donnellan e Nick Ormerod, oriundos do teatro britânico, conduzem a narrativa de muitos acontecimentos com rapidez, atropelando momentos de intensidade na tela. Por ter um ritmo ágil, os dramas e, principalmente, a complexidade do protagonista ficam em desvantagem ao conferir um aprofundamento raso. Em contrapartida, a direção de arte e a trilha sonora encontram a exuberância ideal para garantir atenção ao desenrolar da história.

Equívoco total da produção foi escalar o limitado Pattinson como o galã da trama. Emburrado a maior parte do tempo, o ator não convence como o pobretão sedutor que deixa as mulheres desatinadas. O poderoso personagem seria um deleite para qualquer ator competente, mas para o vampiro de “Crepúsculo” cada cena parece ser mais um dia de trabalho enfadonho. Falta verve e emoção em seu “bel ami”.

Se por um lado o atrativo principal do filme decepciona, por outro, o trio de coadjuvantes compensa roubando todas as cenas. Uma Thurman é a que mais se destaca como a bela esposa do editor de política do jornal La vie française. Cada expressão e olhar da atriz denotam tudo que não é dito por sua personagem. A sumida Christina Ricci mostra talento e sedução como a fogosa Clotilde, cujo marido está sempre viajando. Por último, a recatada Virginie, interpretada de forma adequada por Kristin Scott Thomas, é casada com um dos homens mais poderosos da cidade.

Atraindo as três mulheres, trocando de cama como quem troca de roupa, o destemido Georges entra na sociedade parisiense e dela não pretende sair, nem que para isso tenha que manipular as suas presas. E nesse emaranhado a la “Ligações perigosas”, dissipando sentimentos como ganância, orgulho e vingança, “O Sedutor” comprova que possui uma grande história. Um atraente conto de ascensão social a qualquer custo, que, por escolhas duvidosas da produção, acaba deixando muito de seu potencial desperdiçado.

Nota: 6,9

Amor Impossível


Duas pessoas se conhecem e enfrentam diversos obstáculos até ficarem juntas ao final. Essa fórmula deu certo em inúmeras comédias românticas. Mas, depois se conferir o previsível histórico do gênero, por que não contar um caso de amor que, além do romance, utiliza uma trama verdadeiramente interessante sem utilizar os tradicionais coadjuvantes cômicos? Assim como outros raros exemplares, "Amor Impossível" utiliza uma narrativa de pano de fundo tão importante quanto a aproximação entre o casal protagonista.

Baseado no livro homônimo de Paul Torday, o filme é sobre o doutor Alfred Jones (Ewan McGreggor), um cientista que se vê envolvido em um projeto para introduzir pesca de salmão no Yemen. Apesar de relutante à investida, precisa atender o capricho milionário do sheik Muhammed e satisfazer o governo britânico que enxerga no programa a possibilidade de obter boas notícias vindas do Oriente Médio. Nessa empreitada, Alfred conhece Harriet (Emily Blunt), a assessora do sheik, que se revela uma ótima companhia. Aos poucos, os dois vão se aproximando e começam a depositar, juntos, credibilidade ao inusitado projeto.

O tom de comédia acompanha o longa-metragem com diálogos e cenas simpáticas, utilizando muitas vezes a política como inspiração. Esta personificada na figura de Kristin Scott Thomas, que interpreta a assessora do primeiro-ministro. O humor escrachado não tem chance - até porque este é um filme inglês. Assim, estamos frente a uma história para adultos, longe das comédias românticas adolescentes. O que pode provocar confusão é o infeliz título em português, Amor impossível, que, além de não se encaixar na proposta, “vende” a sessão como mais uma trama romântica e bobinha. Equívoco. No original, chama-se "Salmon fishing in the Yemen" ("Pesca de Salmão no Iêmen"), como na obra literária.

Quem espera se apaixonar com o relacionamento entre McGreggor e Blunt irá se decepcionar. A trama investe bastante na construção dos personagens e os apresenta como “pessoas reais”, possíveis de encontrar ali na esquina. Os dois estão em relacionamentos duvidosos que apresentarão mudanças imediatamente. Quando juntos, formam na tela um belo casal, conferindo o charme essencial para o filme, calçado principalmente na competência dos atores.

"Amor Impossível" vale o ingresso porque vai além do óbvio - mesmo que não seja totalmente original. É um entretenimento agradável que de tão interessante quase convence como uma história real. É pura ficção, mas passível de acontecer. Ponto positivo para o diretor Lasse Hallstrom, de "Chocolate" e "Regras da Vida". Mais um bom filme para o seu currículo.

Nota: 7

Para Roma, Com Amor


Nos últimos anos, o diretor Woody Allen realizou um roteiro turístico por cidades da Europa. Em 2005, saiu da sua habitual Nova York, retratada em inúmeros filmes da carreira, e filmou “Match Point” em Londres. Na sequência, a metrópole inglesa serviu de locação para “Scoop - O Grande Furo” (2006), “O Sonho de Cassandra” (2007) e “Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos” (2010). A Espanha também recebeu sua ilustre visita em “Vicky Cristina Barcelona” (2008), assim como a França com “Meia-noite em Paris” (2011). Agora, este ano, é a vez da capital da Itália ser retratada com todo seu charme pelo olhar inconfundível do cineasta na encantadora comédia “Para Roma, Com Amor”.

O flerte de Allen com a cidade é delicioso de assistir. Assim como nos filmes antecessores, a vontade é de comprar uma passagem de avião e embarcar para o país imediatamente. A trilha sonora, composta por clássicos como “Amada Mia, Amore Mio” e “Nel Blu Dipinto di Blu (Volare)”, somada às belas imagens de cada recanto de Roma conferem a ambientação perfeita para os romances que se desenham na tela. Pequenos fragmentos de visitantes e moradores da cidade compõem o roteiro do longa-metragem.

Como diz o personagem que abre o filme: “Em Roma tudo é uma história”. Na produção de Allen, são precisamente quatro tramas: trabalhador (Roberto Benigni) vira celebridade da noite para o dia, arquiteto (Alec Baldwin) volta ao passado e confronta suas escolhas, jovem casal acaba se desencontrando em plena lua de mel e aposentado diretor de ópera (o próprio Allen) descobre um novo talento artístico.

A melhor história é de Baldwin, que revive momentos da juventude como estudante na Itália. Através da figura de Jesse Eisenberg, ele conhece a envolvente aspirante a atriz Monica (Ellen Page). A narrativa por si só, com um certo aprofundamento, já renderia um filme inteiro. Bastava injetar mais doses dos inteligentes diálogos para se ter um conto apaixonante e melancólico,  característico do veterano diretor.

No emaranhado de histórias interessantes, “Para Roma, Com Amor” apresenta uma narrativa que quebra o ritmo e difere do tom adotado pelo projeto. É a de Roberto Benigni, que poderia ser excluída sem comprometer o resultado. Sua crítica à fama possui uma conclusão pouco inspirada que termina por não cumprir o objetivo. Ao menos serve para rever o comediante Benigni em ação. Nesse mesmo sentido, o retorno de Allen como ator é muito bem-vindo - desde “Scoop” que não aparecia frente às câmeras. Ele vem acompanhado de Judy Davis, parceira de loga data que volta em forma de deleite para quem acompanhou a carreira dos dois.   

A viagem do cineasta à Itália inevitavelmente sofrerá comparações com o maravilhoso “Meia-noite em Paris”. Um confronto desleal, já que “Para Roma, Com amor” é um filme menor do diretor. Suas histórias são divertidas e de um humor delicioso, mas, no geral, não possuem uma mensagem definida. Resultam apenas em agradáveis análises sobre o comportamento humano, combinadas de forma tão interessante que conquistam a simpatia e provocam muitos risos. “Para Roma, Com Amor” pode não estar entre os melhores filmes de Woody Allen, mas será a melhor escolha entre as produções em cartaz atualmente.

Nota: 8

Sombras da Noite



Chapeleiro maluco, barbeiro assassino, dono de fábrica de chocolates, homem com mãos de tesoura, pior diretor de todos os tempos, investigador de uma lenda americana e noivo de mulher morta. Esse rol de personagens esquisitos é fruto da parceria entre o ator Johnny Depp e o diretor Tim Burton. Em sua oitava realização juntos, o galã interpreta um vampiro amaldiçoado na comédia “Sombras da Noite”, novo filme do cineasta apaixonado pelo gótico.

No século 18, o aristocrata Barnabás Collins (Depp) é transformado em criatura das trevas por uma bruxa ciumenta (Eva Green) e aprisionado em um caixão para toda a enternidade. Dois séculos depois, ele é encontrado e precisa conviver com a nova geração da sua família, em plenos anos 70. Sua missão é fazer com que os falidos negócios dos Collins voltem à antiga glória. Porém, a bruxa permanece apaixonada por ele e está disposta a conquistá-lo de qualquer jeito. Se não conseguir, buscará destruir Barnabás e seus familiares.

A trama é baseada na série “Dark Shadows”, exibida entre 1966 e 1971 pelo canal americano ABC. O TV show adorado tanto por Burton como Depp motivou mais uma reunião desses dois talentos. Se antes proporcionaram obras fantásticas, vide “Edward Mãos de Tesoura” e “Sweeney Todd”, dessa vez, apresentam a primeira derrapada desse belo histórico conjunto. Diferente do habitual, a direção de Burton é sem personalidade e convencional. E até o estilo dark é suave. Já Depp não encontra um personagem carismático e desafiador, ficando apagado por atuações mais interessantes, como a hipnotizante bruxa de Eva Green - finalmente bem aproveitada após encantar o mundo em Os sonhadores.

O universo de “Sombras da Noite” é rico em personagens curiosos. Ótimos atores (Michelle Pfeiffer, Helena Bronham Carter, Jackie Earle Haley e Chloe Grace Moretz) esforçam-se para conferir veracidade aos moradores da mansão dos Collins, mas a história fraca e previsível impede qualquer aprofundamento ou sequer investida no carisma dessas figuras. E, infelizmente, o que recebe atenção na tela é o romance besta entre o vampiro e nova tutora da família (Bella Heathcote).

Outro fato questionável é como um ser horroroso, com mãos deformadas, profundas olheiras, cabelo colado na cabeça e pele mais branca que papel, consiga despertar o interesse amoroso em Green, Carter e na novata Heathcote. Para compensar certos absurdos, a produção investe no humor, com piadas pouco inspiradas, que enfraquecem o clima sombrio e de suspense que permeia o filme.

Sem sair-se bem na comédia, no drama ou no “terror”, “Sombras da Noite” fracassa em tentar igualar-se aos demais projetos da dupla. É uma “sessão da tarde” simpática, perfeita na reconstrução de época e até com um certo charme. A divertida participação especial de Alice Cooper ganha pontos, assim como a cena de sedução/destruição entre o vampiro e a bruxa. O filme possui uma última chance de conseguir envelhecer bem e, quem sabe, obter um caráter cult no futuro.

Nota: 6,5

Uma Semana


Chegam momentos na vida em que é preciso repensar sobre o caminho que trilhamos até aquele instante. Para Ben Tyler, protagonista de "Uma semana", esse confronto aparece após descobrir que sofre de um câncer terminal. A situação fará com que ele parta em uma viagem de autodescobrimento pelas estradas do Canadá. Uma semana é uma pequena joia entre as produções independentes, valorizada principalmente por apresentar uma das mensagens mais verdadeiras sobre o que realmente vale a pena na vida.

A história é sobre Ben (Joshua Jackson), um jovem professor de Ensino Fundamental que está noivo de Samantha (Liane Balaban). Ele vive uma rotina de acomodação, um dia depois do outro, sem previsão de mudanças. Insatisfeito com essa realidade, Ben só encontra motivação para realizar seus desejos quando recebe a notícia que possui no máximo dois anos de vida. Compra uma motocicleta e parte sem destino para inúmeras cidades do país, a fim de viver uma aventura. Uma história que, segundo ele, “valha uma vida”.

O filme é inteiramente narrado pelo ator Campbell Scott, que permeia a narrativa com belas e inspiradores frases sobre o sentido da vida. Ben, ao se afastar do trabalho e da família, começa a colocar em jogo o que construiu durante esse tempo, principalmente seu relacionamento com Samantha. A forma como a produção discute o amor é ao mesmo tempo melancólica e bonita. Enquanto isso, em sua jornada, o protagonista encontra diversas pessoas que o ajudarão nesse processo de tentar se encontrar.

Ben arrisca e vai em busca do que lhe faz feliz. Acompanhar essa trajetória faz com que o espectador também pense sobre a sua própria caminhada. Em certo trecho, o narrador diz: “O que você faria se soubesse que tem apenas mais um dia, uma semana ou um mês de vida? A que bote salva-vidas você se agarraria? Para qual pessoas declararia seu amor? Qual desejo realizaria?”. Questões que, mesmo sem ter a urgência de um prazo como Ben, acabam encontrando identificação geral.

Uma semana é um road movie que encanta por encontrar beleza na simplicidade. É honesto, poético e real. Conta ainda com boas atuações de Jackson e Balaban; além de conferir destaque para a trilha sonora carregada de emoção e formada apenas por bandas canadanses. O filme, lançado em 2008, não recebeu merecida atenção em seu lançamento e acabou restrito aos países da América do Norte, sem distribuição mundial. Se surgir a oportunidade, não deixe de assistir.

Nota: 8

Projeto X - Uma Festa Fora de Controle


"Projeto X" convida o espectador a acompanhar a maior festa adolescente jamais imaginada. Mais de 1,5 mil estudantes divertiram-se durante uma noite em residência no subúrbio dos Estados Unidos. Música, drogas, jogos alcoólicos e putaria não poderiam faltar. Mas, esta balada sem limites tem muito mais surpresas. E os estragos serão catastróficos. Este novo projeto de Todd Phillips, diretor de Se beber, não case 1 e 2, oferece duas opções: se divertir e rir de toda confusão ou colocar-se no lugar do dono da casa e não curtir o filme direito.

Thomas (Thomas Mann) está de aniversário e seus pais foram viajar durante o final de semana. Com a casa liberada, ele e mais dois amigos organizam uma festa para comemorar a data e, de quebra, ganhar popularidade na escola. Os garotos convidam todos que encontram pelo caminho com medo de que ninguém compareça ao local. Ao contrário do que pensavam, as pessoas não param de chegar e a celebração perde o controle conforme os convidados vão ficando cada vez mais bêbados e inconsequentes.

Se não bastasse andar de skate no telhado, tomar banho de piscina sem camisa (inclusive as meninas), utilizar quartos da casa para fazer sexo e amarrar balões de gás hélio para fazer um cachorro literalmente voar, a festa chega ao extremo quando um anão furioso provoca o caos e um piromaníaco decide que tudo vai abaixo. A polícia chega ao local por reclamação dos vizinhos e os adolescentes tomam conta da rua, entrando em conflito com os policiais. O evento chega a ser transmitido pela televisão, ao vivo.

Tantos absurdos podem soar pura invenção do roteiro, mas a história de "Projeto X" é baseada em um fato real que ocorreu na Austrália, em 2008. O jovem de 16 anos, Corey Worthington, divulgou uma festa em sua casa no MySpace e atraiu mais de 500 pessoas. Os vizinhos assustados chamaram a polícia, que foi recebida com garrafadas, além de ter os carros destruídos. Os estragos chegaram a mais de 20 mil dólares.

O filme utilizou o acontecimento verídico como base para criar uma série de situações hilárias. A garotada assistiu o filme e aprovou as loucuras de "Projeto X", transformando-o em hit entre os adolescentes e influenciando a reproduzir na realidade festas naquelas proporções. Uma dessas baladas inspiradas no longa-metragem terminou na morte de um dos convidados, quando adolescentes brigaram e resolveram o conflito com tiros.

A partir desse caso, o filme recebeu críticas de que incita a irresponsabilidade dos jovens. O diretor estreante Nima Nourizadeh e o produtor Todd Phillips não acreditam que as acusações fazem justiça ao filme, já que cada um se inspira na produção de um jeito. Os adultos, principalmente os pais, torcerão o nariz para o filme, mas a Geração Y vibrará com cada excesso cometido em cena. Apesar da polêmica, "Projeto X" provavelmente será a festa mais insana que o espectador está convidado a participar.

Nota: 7

Branca de Neve e o Caçador


“Branca de Neve e o Caçador” é tudo que “Alice no país das maravilhas”, de Tim Burton, não conseguiu ser: uma releitura envolvente e interessante sobre um conto infantil. E este recente lançamento tem vantagens, como o tom sombrio, as imagens deslumbrantes (sem ser carnavalescas) e o clima épico do início ao fim. Porém, para curtir essa aventura, é preciso desprender-se do texto original e embarcar em adaptação livre sobre a fábula dos irmãos Grimm.

A Branca de Neve veste armadura e lidera uma batalha, os anões ganham mais um companheiro e totalizam oito, a Floresta Negra é uma armadilha mutante e um trasgo (monstro parecido com um troll) aparecem na mistura proporcionada pelo filme. Tantos elementos novos surgem nesta versão, mas, por incrível que pareça, não a tornam forçada. O roteiro realiza milagre ao transformar o pequeno conto em uma história medieval de grandes porporções dramáticas.

Na trama, Banca de Neve (Kristen Stewart) completa 18 anos e se torna uma ameaça para sua madrasta, a rainha Ravenna (Charlize Theron), que até então era a mais bela de todas. Antes que o plano malígno da rainha se concretize, Branca foge do castelo em direção a Floresta Negra. Ravenna envia um caçador (Chris Hemsworth) para capturar e matar a jovem. O tom da narratica não é infantil. O clima soturno e a maldade da vilã mostram que o filme está bem longe de outra versão lançada este ano, Espelho, espelho meu.

Uma jogada interesse do roteiro é não comparar a beleza de Charlize Theron com a de Kristen Stewart. O roteiro apresenta Branca de Neve tão poderosa quanto a rainha porque possui duas virtudes: pureza e inocência. O que fica em desnível é a entrega de Theron a hipnotizante rainha com a apatia de Stuart como a heroína da produção. A mesma sem gracisse de Bella Swan na saga Crepúsculo persiste na atuação da atriz. O destaque vai também para Hemsworth, que consegue criar um personagem interessante, além de força e músculos.

Como é grandioso em tudo, o filme investe em inúmeras cenas de luta e batalha, deixando a história sempre movimentada. As imagens belíssimas de cada frame são tão impactantes visualmente que indicações ao Oscar já estão praticamente garantidas. A direção de arte e o figurino não são carregados, alegóricos, como o carnaval de “Alice no país das maravilhas”. O clima é obscuro, sujo e de elementos lúgrubres, como corvos, castelos imponentes e magia das trevas.

O diretor estreante Rupert Sanders, originário do mercado publicitário, acerta a mão com sua aventura épica e proporciona diversão para toda família. O blockbuster cumpre ser um bom passatempo pipoca e firma-se como a melhor adaptação adulta de um conto infantil para telonas. A resposta da crítica, público e bilheteria foi tão positiva que uma continuação está em negociação e uma franquia se projeta para os próximos anos. Tudo muito bonito, desde que a rainha má esteja presente.

Nota: 8

Martha Marcy May Marlene


Sabe aqueles filmes que são feitos para confundir e não explicar nada? É assim “Martha Marcy May Marlene”, produção americana lançada ano passado em circuito alternativo que tem como destaque a atuação de Elizabeth Olsen, a terceira irmã das gêmeas Mary-Kate e Ashley. Mistura de alucinação e realidade em uma trama que pode ou não estar invertida. Isso faz algum sentido? Não muito. O filme é um quebra-cabeças lento (leia-se muito lento), de momentos tensos e com uma história pesada.

O drama psicológico inicia quando a jovem Martha, interpretada por Olsen, foge de casa. Aos poucos descobrimos que essa residência é a sede de um culto abusivo, uma comunidade de pessoas perdidas que se sujeitam ao dominador Patrick (John Hawkes) – algo semelhante a seita de Charles Manson. A garota busca auxílio com a irmã Lucy (Sarah Paulson) e seu marido (Hugh Dancy). O casal acolhe Martha e passa a ter problemas com as atitudes pouco comuns da jovem.

Assombrada pelas recordações dolorosas dessa experiência anterior, Martha apresenta calmamente o que foi habitar uma comunidade que abdica dos valores contemporâneos para viver numa ideologia do passado. Homens e mulheres não dividem a mesa durante as refeições, os alimentos são cultivados em uma horta ou caçados na floresta, não há interferências tecnológicas, a única diversão é através de instrumentos musicais. A situação complica quando essas ações retrógradas ganham ares cada vez mais invasivos.

O líder Patrick comanda a comunidade de forma machista, aproveitando da ingenuidade de seus companheiros alienados. Ele pode, quando quiser, dormir com qualquer uma das mulheres do grupo. Se precisa de dinheiro, obriga que os habitantes solicitem o montante às suas famílias. E, junto com seus comparsas, realiza assaltos a casas luxuosas. Esse ambiente violento, tanto como físico como psicológico, torna-se cada vez mais sufocante para Martha.

Na casa da irmã, a garota deveria buscar a reintegração com a família após ter sumido por dois anos. Porém, na verdade, ela demonstra estar ali como hóspede. E o pior: comporta-se como uma selvagem, não sabendo o que é certo ou errado, demonstrando como a seita interferiu no inconsciente de Martha, deixando-a sem controle de suas atitudes. Ao na mesmo tempo, a narrativa começa a sugerir que os acontecimentos na comunidade podem ser alucinação da garota.

O roteiro não busca oferecer respostas. Ficamos sem saber porque Martha foi parar no culto, de que maneira esses hábitos bizarros foram desenvolvidos e muito menos o que acontece com ela ao término de sua estada na casa da irmã. Certas sequências colocam espaço e tempo em dúvida, como quando ela telefona para a casa do grupo. E, por fim, o filme ainda questiona a ordem dos fatos na narrativa. Certamente esses são exemplos de que a intenção é originar um quebra-cabeças a fim de confundir o espectador. Ou então conferir caráter cult à produção.

Se a confusão mental não é muito atrativa, o filme tem seu valor na qualidade técnica: brilhante direção (é do estreante Sean Durkin toda carga dramática e o tom melancólico da produção), fotografia (tons pastéis de uma beleza sublime), edição (fusões inteligentes entre passado/presente) e boas atuações de todo elenco, principalmente, de Elizabeth Olsen - surpreendente como a protagonista arisca e de poucas palavras. Apesar do aparato de produção funcionando, o roteiro perturbador e capaz de provocar um nó na cabeça deixa a sensação de vazio, de história incompleta. Assim, “Martha Marcy May Marlene” é uma experiência desconfortante.

Nota: 5,8

Hysteria


Esta comédia romântica inglesa conta a história do homem que criou o vibrador. Hugh Dancy (“Adam”, “Ao Entardecer”) é o jovem médico que começa a trabalhar como assistente do Dr. Robert Dalrymple (Jonathan Pryce), famoso por tratar casos de histeria. A doença era comum em donas de casa entendiadas que apresentavam sintomas de ansiedade, nervosismo e depressão. O tratamento era simples: masturbação.

Assim, uma fila de mulheres lotava o consultório do Dr. Dalrymple. Todas esperando que seus dedos milagrosos curassem as crises de histeria. O mais engraçado é que em 1880 essa técnica de tratamento era bem aceita pela sociedade machista – ou então as mulheres não contavam para seus maridos o que se passava na consulta.

Por utilizar constantemente seus dedos, o jovem médico começa a sentir dor e não consegue aplicar o tratamento da melhor maneira. Então, tem a ideia de usar um equipamento elétrico para reproduzir a mesma satisfação proporcionada por seus gentis toques. Surge então o vibrador, um aparelho rústico que iria evoluir durante as décadas e continuar fazendo sucesso até a atualidade.

A história real é bastante interessante, mas o tom de comédia, o acúmulo de clichês e o formato convencional não ajudam. Além disso, o roteiro acaba investindo mais nas dúvidas amorosas do protagonista, dividido entre as filhas do doutor, interpretadas por Felicity Jones e Maggie Gyllenhaal – os três extremamente competentes em seus papéis. Infelizmente, a atração principal do projeto, o vibrador, fica de lado e somente mostra a que veio nos 20 minutos finais da produção.

Nota: 6,5

Paraísos Artificiais


“Uma história de amor e êxtase”. A frase do cartaz de "Paraísos Artificais" traduz duas das principais vertentes deste novo e ousado exemplar do cinema nacional. O drama ambientado nos anos 2000 é sobre o relacionamento do jovem casal Erika e Nando, que encontram-se no Rio de Janeiro, Pernambuco e Amsterdam, em meio ao universo de música eletrônica, drogas e muito sexo. É o conjunto desses novos elementos à produção cinematográfica brasileira que definem o fôlego e o caráter de novidade apresentada pelo filme de Marcos Prado.

Em uma narrativa não linear, a produção se desenrola em três atos, cada um numa cidade. O primeiro ocorre em território europeu, onde Nando (Luca Bianchi) conhece a DJ Érika (Nathália Dill) em uma boate. O segundo se passa dois anos antes, em uma rave que acontece uma vez por ano em uma praia paradisíaca do nordeste do Brasil. Érika, acompanhada da amiga Laura (Lívia de Bueno), experimenta diversas substâncias na procura do auto-conhecimento. No terceiro ato, situado no Rio de Janeiro, Nando volta para casa e enfrenta problemas com seu irmão menor.

A dinâmica de alternar cada momento na vida dos personagens contribui para deixar a história mais atraente. O quebra-cabeças logo começa a ser formado na mente do espectador e, mesmo não sendo tão complexo, contribui ao tom de seriedade do projeto. O excelente trabalho de fotografia, de Lula Carvalho (filho de Walter Salles), aproveita essa trama multifacetada para imprimir plasticidades específicas em cada contexto narrativo. A frequente iluminação de festa também ajuda em belas imagens, saturadas em cores vibrantes.

"Paraísos Artificiais" não poderia ter título mais adequado. O universo das baladas de música eletrônica e drogas sintéticas experienciado pelos protagonistas comprova a ilusão criada pelas substâncias alucinógenas. Para alguns, essas descobertas não passam de uma fase, mas para outros traz consequências irreversíveis. É o caso do jovem trio que, em um período de indecisões, encontra a fuga nas drogas e quebra a cara. São garotos e garotas de 20 e poucos anos, de classe média, bonitos e com futuro cheio de possibilidades. Todos querendo se encontrar.

Aparentemente, o diretor Marcos Prado revencia esse mundo de prazer imediato, com suas longas sequências nas raves e constante uso de drogas durante o filme, mas aos poucos essa diversão sem limites acaba tornando-se vilã. E de forma declarada. Todos os personagens que se envolvem com drogas se dão mau. Uma lição moralista do projeto, que deixa um gosto amargo em cada desfecho. Érika, Nando e Laura não serão mais os mesmos após as aventuras arriscadas entre peiote, cocaína, êxatse e GHB.

O filme comprova ainda uma maturidade no cinema nacional, que vai além da qualidade técnica, ao investir em um roteiro sem pudores e preconceitos. Tem cenas de nudez e sexo aos montes, sem apelação. É moderno, jovem e de um vibe que refresca a produção brasileira atual. E, pelos temas contemporrâneos, apresenta apelo universal, podendo vislumbrar uma interessante carreira internacional - além de reforçar a ótima safra de filmes locais, junto a "2 Coelhos" e "Xingu".

Nota: 7,8

Como Agarrar Meu Ex-namorado



"Como Agarrar Meu Ex-namorado" é mais um comédia de ação no estilo "Par Perfeito" e "Caçador de Recompensas". Ou seja, pelas referências já dá para perceber que este lançamento tem tudo para ser uma bomba. E realmente é. Começando pela brilhante capacidade que os tradutores tem para esculhambar com os títulos nacionais. "Como Agarrar Meu Ex-namorado" não tem nada de comédia romântica. No original, "One For The Money" (algo como 'Nessa por dinheiro') é mais condizente com a proposta. Além de "enganar" espectadores ao cinema, o filme não convence nos gêneros de ação, comédia, romance e qualquer outro que talvez tivesse alguma intenção.

Baseado em uma série de sucesso com 20 livros lançados pela norte-americana Janet Evanovich, "Como Agarrar Meu Ex-namorado" conta a história de Stephanie Plum (Katherine Heigl), uma vendedora de lingerie que perde o emprego e vira caçadora de fugitivos da polícia. Seu primeiro caso: capturar Joe Morelli, policial acusado de assassinato, que, por acaso, também foi o responsável por tirar a virgindade de Stephanie e sumir do mapa.

Por não ter ligado no dia seguinte, a protagonista nutre uma raiva (ou paixão?) pelo suposto bandido. Recuperar o cara se torna algo pessoal. A partir desse instante, inicia uma investigação fajuta promovida por Stephanie, alguém que nunca teve treinamento ou preparo para encarar criminosos. Mas, isso não será problema para a mocinha. Ela não tem medo do perigo e passeia por bairros barra-pesada, torna-se amiga de prostitutas, invade casas de traficantes e fica boa de mira quando está brava. Tudo perfeitamente normal.

Com todas essas proezas, não tem como levar o filme a sério - nem mesmo ele se leva. Esse descompromisso com a veracidade não chega a ser um ponto negativo. O defeito maior é que nada funciona. O roteiro é enfadonho, principalmente porque a investida policial não empolga em nenhum momento. O romance é tão óbvio que qualquer um sabe que ela vai se apaixonar novamente por seu caso da juventude. Katherine Heigl e Morelli não apresentam a química necessária - ele, por exemplo, entrega uma atuação tão boa quanto qualquer modelo da Calvin Klein. Por tudo isso, "Como Agarrar Meu Ex-namorado" é um filme sem carisma e muito chato.

Nota: 3,5

Jogos Vorazes


Nova franquia cinematográfica adolescente, “Jogos Vorazes” voa mais longe que seus antecessores “Percy Jackson”, “Crepúsculo” e, inclusive, “Harry Potter” porque foca no lado humano dos personagens e não nas peculiaridades de um universo fantástico. Dessa forma, suas chances em atingir o grande público, que desconhece a origem literária, são maiores. Somado a isso, a história extremamente atual captura o espectador em um mix de ação, violência, romance, política e ficção científica que provoca uma tensão progressiva incapaz de desgrudar um segundo do que está acontecendo no jogo de vida ou morte.

Baseado em uma trilogia escrita por Suzanne Collins, a trama se passa em um futuro distante, na nação de Panem, após a destruição da América do Norte. Anualmente, o governo autoritário sorteia dois jovens entre 12 e 18 anos de cada distrito (a comunidade é dividida em 12 deles, sendo o primeiro o mais rico e o último o mais pobre) para participar de um reality show transmitido ao vivo. Os 24 selecionados são treinados para matar uns aos outros até sobrar apenas um vencedor.

A história é centrada na adolescente Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence), de 16 anos, que vive com a mãe e a irmã menor no distrito 12. No dia da colheita, sua irmã é selecionada para os tais Jogos Vorazes e Katniss se candidata para ir no lugar. Com ela, também do seu distrito, é escolhido o filho do padeiro, Peeta Mellark. Os dois passam a ser treinados por um ganhador do jogo, Haymitch Abernathy (Woody Harrelson). A partir desse instante, a 74ª edição do reality show inicia e a luta pela sobrevivência toma conta da tela.

Mesmo antes dos jogadores entrarem na "arena", a tensão é sufocante. O caminho de Katniss ao violento programa televisivo transcorre sem pressa - e esta revela ser a melhor parte da produção. Quando os jogos iniciam, percebe-se como o reality show é envolvente e fascinante, levando toda população de Panem a assisti-lo. Por se tratar de uma aventura juvenil, o filme não investe em cenas sangrentas. Portanto, apesar de ser um jogo de morte, são poucas vezes que o público pode ficar impressionado.

O triângulo amoroso formado por Katniss, Peeta e Gale (Liam Hemsworth), o namorado dela que ficou fora do jogo, em nenhum momento aproxima-se do que ocorre em Crepúsculo, por exemplo. O amor e as suas dúvidas não são o mais importante na história. Toda narrativa é em função da sobrevivência. E sua heroína não poderia ter sido melhor. Jennifer Lawrence é o símbolo da saga, com jeito de durona, hábil no arco e flecha, impetuosa em suas decisões e inocentemente sensual. Escolha perfeita para protagonista.

“Jogos Vorazes” pode não parecer original. Disputas transmitidas ao vivo já apareceram no livro “1984”, no programa “Big Brother Brasil” e nos filmes “Fahrenheit 451”, “Cubo” e “O Sobrevivente”. O êxito dessa nova versão é promover uma mistura de gêneros (ficção científica, ação, romance) com pano de fundo de crítica social em um ambiente juvenil. Realmente pode não ser original, mas a fórmula funcionou muito bem. O filme é entretenimento de muita adrenalina para qualquer público.

Nota: 8

À Beira do Abismo


Em "À Beira de um Abismo", tudo gira em torno de um homem prestes a se jogar do beiral de um enorme prédio no coração de Nova York. Sua atitude ganha proporções de mega evento quando a rua é evacuada, a televisão passa a transmitir ao vivo a situação e as equipes policiais reúnem-se para impedir que o sujeito pule lá de cima. No entanto, o que parecia ser uma tentativa de suicídio pode não ser bem isso.

Sam Worthington vive esse misterioso homem que em negociação com a policial Lydia Mercer (Elizabeth Banks) não quer revelar sua identidade. Em flashback, sabemos que ele é foragido da Justiça e saiu da prisão a poucos dias. No beiral do prédio, ele se comunica com alguém através de uma escuta. Tantos sinais mostram demonstram que ele não é apenas alguém desesperado querendo se matar. Então, o filme começa a mostrar a que veio.

"À Beira do Abismo" vira um thriller de ação e roubo mirabolante, que, apesar de basear-se em clichês, tem uma boa ideia. Pode não converser muito ao final, mas seu desenrolar é divertido. O time astros competentes (Ed Harris, Edward Burns, Kyra Sedgwick e Jamie Bell) também contribuem para este sofisticado e surpreendente exercício cinematográfico.

Nota: 7,5

Xingu


O diretor Cao Hamburger, de "Castelo Rá-Tim-Bum" e "O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias", realiza longos intervalos de um filme a outro, mas a espera de até sete anos entre cada lançamento é recompensadora: sempre entrega uma obra caprichada sobre o tema que decidiu apresentar ao público. Desta vez, com “Xingu”, ele entra de cabeça na luta dos irmãos Villas-Bôas e, além de contar um pedaço da história brasileira, também promove a discussão sobre o papel do índio no contexto atual.

O filme acompanha os paulistas Cláudio (João Miguel), Orlando (Felipe Camargo) e Leonardo (Caio Blat), que inscrevem-se em um programa do governo Getúlio Vargas, a Expedição Roncador-Xingu, na década de 1940, para habitar terras consideradas desocupadas. Os três são levados para o norte do Mato Grosso com a missão de ser o intermédio entre os homens brancos dominantes e os índios que ali vivem.

A interação dos irmãos com os habitantes ocorre de forma natural. Mesmo sendo invasores, são recepcionados com cordialidade pelos índios e convivem em harmonia numa troca interessante de culturas. Os representantes do governo demonstram total descaso com essa população e aos poucos começam a pressionar uma colonização ou até extermínio.

Os Villas-Bôas então percebem que o melhor é deixar o índio isolado, sem contato com o branco, uma vez que toda vez que esse encontro não é benéfico aos locais. Após tentativas políticvas, os irmãos conseguem criar o Parque Indígena do Xingu, território do tamanho de um estado, com 2,8 milhões de hectares. Por este trabalho frente a maior reserva do mundo, os irmãos foram indicados ao prêmio Nobel da Paz.

Essa trajetória épica é contada por um diretor apaixonado pela transformação real promovida pelos Villas-Bôas, que assim como os índios viveram em isolamento. A qualidade técnica de "Xingu" é impressionante. Uma deslumbrante fotografia desvenda as paisagens naturais do Brasil central. O aúdio e efeitos sonoros são impecáveis. Boas atuações também complementam o projeto, com destaque para João Miguel ("Estômago"), que mais uma vez cria um personagem autêntico e verdadeiro.

A produção nacional veio na hora certa, justamente no ano em que o Parque Indígena do Xingu comemora o seu 50° aniversário. Assim, sugere o debate sobre o lugar do índio hoje, vivendo em uma comunidade que não evoluiu, preso ao passado e esmagado por uma sociedade tida como mais desenvolvida. Ao mesmo tempo, esse habitante dos primórdios ainda cultiva valores nobres como o senso de coletividade e a harmonia com a natureza, mostrando que temos muito o que aprender com eles.

Além de promover essa relevante discussão, “Xingu” tem uma tarefa de igual importância: apresentar e registrar uma realização recente pouco conhecida da nossa história. Os Villas-Bôas foram responsáveis por preservar a cultura indígena, evitando a devastação de aldeias pela construção da Transamazônica e a exploração por seringueiros e proprietários rurais. A área conquistada pelos irmãos em favor dos índios resultou no primeiro parque do país, em 1961. Cao Hamburger, em seu terceiro longa-metragem, comprova que a saga do Xingu é digna de filme – e também de inspiração.

Nota: 7,9