Duplicidade


Julia Roberts e Clive Owen voltam a contracenar juntos quatro anos depois do excelente “Closer – Perto Demais” e a sintonia permanece intacta. Neste thriller sobre agentes duplos que planejam passar a perna em todo mundo, não existe mocinhos nem bandidos. O importante é se dar bem e, para transmitir esse clima de trapaça e jogo de interesses, o diretor Tony Gilroy imprime seu estilo elegante ao dividir a tela em várias cenas, transmitindo dinamismo para a trama.

O grande mote do roteiro é brincar com a duplicidade dos agentes e abordar a relação de eterna desconfiança entre eles. Embora apaixonados, o casal não consegue por um único instante relaxar e, assim, seguem maquinando estratégias para o funcionamento perfeito do plano - sempre com um pé atrás quanto a fidelidade de seu parceiro.

O filme foi considerado bastante complicado, conforme sua narrativa não linear e a linguagem específica a respeito dos trâmites entre os serviços secretos. “Duplicidade” exige mesmo a atenção do espectador (nada fora do normal), e termina por revelar-se um entretenimento esperto e charmoso, assim como seus protagonistas. Destaque também para a interessante trilha sonora de James Newton Howard com muitos batuques e swing.

Nota: 8

Shortbus


“Hedwig – Rock, Amor e Traição” foi um marco na carreira de John Cameron Mitchell, tanto como diretor quanto ator. A produção hiper cultuada é uma falsa biografia sobre um popstar do glamrock e conta com deliciosas músicas próprias. Depois de ser catapultado para o sucesso, o astro repentino levou cinco anos para lançar este “Shorbus”, um filme sem pudores sobre a vida sexual de um grupo de jovens.

Para realizar o projeto, o diretor buscou suporte nas relações sexuais para falar sobre aceitação pessoal – em todos os sentidos. A polêmica dessa vez foi com o conjunto de cenas de sexo explícito hetero e homossexual. Embora nada gratuitas, as sequencias não impedem a imediata repulsa dos espectadores mais puritanos.

“Shortbus” é um filme pesado e muito longe de um cinema adolescente pipoca. As cenas são perfeitas de forma independente, quando somadas ao contexto podem não justificar a sua importância. Por isso, a fita não deve ser avaliada como um roteiro linear, a graça está nas sensações que transmite, nos temas que aborda e na experiência total proporcionada. É um grande exercício de linguagem cinematográfica sobre a sexualidade sem ser de mau gosto ou grosseiro.

Nota: 7,7

Arraste-me para o Inferno


Antes de comandar a franquia “Homem Aranha”, o diretor Sam Raimi ficou conhecido por um de seus primeiros filmes, uma produção de horror chamada “Evil Dead” que ganhou continuação e se tornou cultuada com o passar dos anos. Agora, famoso e com três blockbusters no currículo, ele decidiu relembrar o período em que trabalhou com o gênero prestando uma esperta homenagem aos clássicos do terror.

Na interessante trama, atendente de um banco é amaldiçoada após negar empréstimo para uma senhora. Sentindo-se humilhada, a velha invoca o demônio chamado Lâmia, que durante três dias diverte-se torturando sua vítima para depois levar a alma da pessoa diretamente para o inferno. O roteiro de Raimi e seu irmão Ivan faz uma salada com os mais conhecidos clichês: demônios, videntes, sacrifícios de animais, pragas, pesadelos, espíritos, larvas, vômitos e muito mais.


A proposta é ser trash, com direito a cenas muito escrachadas e até cômicas, mas o que dá maior força ao projeto é a forma como a história é levada a sério, envolvendo o público e tornando-o cúmplice dos absurdos. A homenagem pode ser conferida já nos créditos iniciais, quando o título salta na tela - bem como os primeiros longas de horror.


O filme de orçamento modesto para padrões hollywoodianos foi bastante elogiado pela crítica e bem recebido pelo público. Mais um ponto para Sam Raimi. Se dá sustos? Sim, alguns bons sustos estão no conjunto.

Nota: 8