A Estrada


“Está tudo bem. É apenas mais um terremoto”. Assim, com a face calma e serena, que o personagem de Viggo Mortensen acalma o seu filho nas primeiras cenas de “A Estrada”. Em um mundo devastado pela tragédia, onde a comida é escassa, a gasolina um bem precioso e o canibalismo algo normal, os terremotos representam ameaças mínimas. Afinal, nessa situação, a morte não é o pior dos males.

Acompanhamos a narrativa através do olhar desse pai, que luta para proteger o filho e sobreviver em uma terra sem humanidade. “A Estrada” não explica o real motivo do cenário de destruição – até porque este não é seu propósito. A realidade vista na tela mostra um ser humano primitivo, que sem as normas da sociedade se vê matando por comida e estuprando para satisfazer necessidades. A forma crua como encara os temas lembra “Ensaio Sobre a Cegueira”, que, por sinal, apresenta muitas outras semelhanças.

A visão apocalíptica proposta por Cormac McCarthy, autor do livro do qual o filme se baseou, é de total desolação. Os dias são cada vez mais frios, os incêndios se alastram com rapidez e as árvores enfraquecidas se desprendem e vão ao chão. A luta pela sobrevivência levou a formação de gangues armadas, que invadem as casas em busca de comida, matando as famílias que esperam pelo pior. Os suicídios em massa já se tornaram comuns.

O tema pesado é intensificado pela abordagem tensa do diretor John Hillcoat, que mostra-se bem sucedido em trabalhar com uma trilha sonora angustiante e sem apelar para cenas de ação. Como de costume, Viggo Mortensen entrega uma performance firme e competente. Mesmo aparecendo em pequenos (e elucidativos) flashbacks como a esposa e mãe nos primeiros momentos pós-catástrofe, Charlize Theron contribui para sensibilizar de maneira pontual na história.

Em uma realidade como essa, com o mundo definhando e sem qualquer perspectiva de um futuro decente, a razão de existência daquele pai se torna treinar o filho para que este possa sobreviver sozinho. A luta dos refugiados é corajosa e triste. Uma proposta de ‘apocalipse’ como essa não pode ser comparada aos espetáculos vistos em produções como “2012”. O que “A Estrada” oferece é muito mais crítico e relevante.

Nota: 8

1 comentários:

Menestrino disse...

Falando em filmes pós-apocalípticos, fico com O Livro de Eli.

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