A Garota Ideal


Uma das melhores surpresas de 2007, Lars and the Real Girl é uma comédia dramática encantadora sobre um cara que se apaixona por uma boneca inflável. Sem cair no riso escrachado, o tema é tratado com seriedade, fortalecido pela atuação sensível do cada vez melhor Ryan Goslin.

O Lars do título não se recuperou de uma forte desilusão na adolescência, e por isso, vive isolado na garagem do irmão mais velho. O absurdo chega ao extremo no momento em que Lars confessa que quando alguém o toca é como sentisse uma dor profunda. A solução para seu caráter antisocial surge na forma de uma “companheira” por encomenda. Deixando de lado apologias sexuais, o filme não julga o protagonista, apenas deixa que ele acredite que Bianca, a boneca, é real.

O texto, indicado ao Oscar desse ano por Melhor Roteiro Original, é de uma vivacidade singular, trabalhando com questões inteligentes possibilitadas pela diferente idéia. A trama assinada por Nancy Oliver, que era do time de Alan Ball em Six Feet Under, cria uma trama de humor negro rica em analogias. O curioso é que a cidade inteira começa a tratar o estranho casal com normalidade.

Criativo e acima de tudo humano, Lars and the Real Girl faz o espectador acreditar nesse amor impossível. Uma fita fora do comum que funciona.


Nota: 8,4

Onde os Fracos Não Tem Vez


Não adianta que o meu gosto não bate com o dos irmãos Coen. Suas obras, na maioria, soam estranhas para mim. Isso aconteceu até mesmo com os cultuados Gosto de Sangue e Fargo. Já outros filmes como Ei, meu irmão, cadê você? e Matadores de Velhinhas não me convenceram do talento da dupla. O Amor Custa Caro é simpático, mas com doses de bizarrice e Barton Fink consegue enlouquecer o espectador. Não que sejam filmes ruins, nenhum deles é, mas após assisti-los não se sabe se o que foi visto é realmente bom.

Novamente, a sensação de desconforto paira ao final do maior sucesso, e provavelmente o melhor filme dos diretores, Onde os Fracos Não tem Vez. A caçada do assassino indestrutível pelo caubói que acha uma maleta de dinheiro é tensa e emocionante. A direção impecável sabe contar a trama pesada com a densidade exata para o contexto, aproveitando para realizar tomadas sem pressa que valorizam as emoções e a interpretação dos atores.


Tão bem construída quanto a premiada personificação de Javier Barden, a atuação de Josh Brolin é de igual impacto, rivalizando com o seu antagonista sem medo. A força desses dois homens na tela é tanta que seguram sufocantemente o longa-metragem até o desfecho. Barden, em uma atuação poderosa, representa o mal enraizado na nossa sociedade. E é essa a idéia principal, tanto do texto original baseado no livro de Comarc McCarthy como do longa-metragem: uma análise sobre a violência contemporânea. Por isso, aquele final em aberto que deixa claro a proposta do projeto.

Foi aí a falha dos Coen, que preocupados demais na recuperação da maleta cheia da grana, esqueceram de desenvolver nas duas horas de filme a crítica social que querem que o espectador engula na última cena. Assim, o público se sente traído com o corte na narrativa linear e o estrago feito na conclusão.

Onde os Fracos Não Tem Vez não quer ser apenas um filme de ação, ele quer que o espectador questione - apesar de não explicar o suficiente e deixar elementos vagos.

Nota: 7,6

Across the Universe

Tudo indica que os musicais voltaram para ficar. Depois da retomada com Moulin Rouge, o gênero ganhou um novo fôlego, e ano passado chegaram três longas imperdíveis que não abrem mão da cantoria: Hairspray, Sweeney Todd e este Across the Universe.

Falando desse último, o projeto é uma grande homenagem aos Beatles, já que todas as músicas interpretadas pelos atores são do grupo de rock britânico. Imagine declararações de amor ao som de Something? Protestos de guerra com Let it Be? Psicodelia com I Am The Walrus? Simplesmente incrível.

Para dar vida a um projeto bem especial, a produção focou a história nos 60 e 70, com a explosão da guerra do Vietnã e a força do movimento hippie, aproveitando também para contextualizar a época em que as canções foram criadas e faziam efeito. Não é por coincidência que que os protagonistas se chamam Jude e Lucy.

Como entretenimento, o filme possui altos e baixos. A diretora Julie Taymor utiliza em várias ocasiões elementos multicoloridos, quase alucinógenos, criando videoclipes de cada canção. Ao ser um furação de imagens, a excitação presente durante toda exibição é extremamente prazerosa.

Uma pena é o índice relevante de sequencias desnecessárias. São cenas sem propósito ou estensas demais, que se tornam cansativas para o público, dando a impressão que foram desculpas só para acrescentar tal música ao filme.

De qualquer maneira, vale deixar de lado esse pequeno incômodo e relaxar junto com Across the Universe. Para compravar como todos se renderam ao encanto do longa, Paul McCartney ao final da sessão declarou: “O que há para não se gostar?”. Se é ele que tá falando, quem sou eu para discordar. Imprescindível.


Nota: 8,0

Eu, Meu Irmão e Nossa Namorada

Dan Burns é um viúvo com três filhas. Há quatro anos, desde o acontecimento trágico com sua esposa, ele não demonstra interesse por mulheres, até o momento que uma estranha o aborda em uma livraria. Parece paixão à primeira vista. Os dois possuem uma química imediata e prometem manter contato. Quando chega em casa, descobre que a primeira pessoa que despertou o seu interesse depois de todo esse tempo é a namorada de seu irmão.

Assim começa “Eu, Meu Irmão e Nossa Namorada”, a mais recente comédia de Steve Carrell, astro de O Virgem de 40 Anos. O título cômico engana os afobados porque o longa-metragem está mais para comédia dramática do que aquela estilo “pastelão”. São poucos momentos engraçados e quando surgem tornam a sessão bem mais leve.

Ironicamente, a produção transmite uma melancolia incomum para esse tipo de filme, o que deixa ainda mais interessante a maneira como Dan lida com esse primeiro amor após trauma. O cara permanece amargurado, procurando evitar até mesmo que suas filhas se apaixonem. Porém quando Juliette Binoche aparece em sua vida, é como se uma paixão louca nascesse repentinamente e ele não pudesse externá-la.

O projeto não foge da tradicional história do amor proibido e talvez isso transpareça uma sensação de realidade. Bons desempenhos da dupla principal fortalecem o todo e o filme termina como um passatempo bastante agradável.

Nota: 7,5

Nova crítica de Sweeney Todd

Decidi redigir outra crítica para o filme "Sweeney Todd”, já que assisti outra vez o longa-metragem. Na segunda sessão, com o intervalo de 3 dias da primeira, mudei minha opinião. Sabia que no primeiro momento, tinha assistido o projeto em uma situação desconfortável, por isso resolvi testar o filme novamente.

O resultado foi como eu esperava: achei muito melhor. Até porque já estava familiarizado com as músicas (algo que contruibui bastante). Pude apreciar mais as interpretações e a direção de arte. Até saber o final surpreeendente não diminuiu o choque.

Algo que não falei na crítica e vale comentar, foi a péssima escolha do casal jovem da produção. Os dois atores dos quais não sei o nome não apresentam emoção alguma, prejudicando que o público se envolva e torça pelos personagens.

Para ler a crítica reformulada desça a barra de rolagem ou vá no banco de críticas.


OBS: O texto antigo foi apagado.

Garçonete

É um prazer assistir filmes como Garçonete - comédia dramática que foge dos padrões. No filme, Jenna (Keri Russell) é uma garota bonita e inteligente, porém perdeu todo seu ânimo ao viver infurnada em uma lanchonete de beira de estrada e sufocada pela presença do marido Earl, possessivo e dominador. Logo no início do filme, ela descobre que está grávida, e essa criança significa mudança em sua vida: quer largar o marido e abrir seu próprio estabelecimento, onde poderá produzir as suas deliciosas tortas.

Com uma leve raiz nas produções alternativas, o filme não tenta a sorte em uma narrativa simples. O roteiro é mais profundo do que aparenta, sabendo equilibrar ironia e charme. A estréia de Adrienne Shelly na direção é um achado (pena que ela morreu antes da estréia do projeto). Seu texto divertido e esperto dá um dinamismo incomum: Jenna dá nomes bizarros para cada torta que inventa, como: “Eu não quero o bebê do Earl”!

Mais que um passatempo descartável, Garçonete conversa com o espectador sobre a importância do ser humano ter força de vontade e critica o comodismo cada vez mais frequente na sociedade. O longa-metragem, além de hiper simpático, é um programa com um sabor diferente e com uma linda lição ao final. Sem muita atenção, é um filme que pode passar despercebido na hora de escolher entre os inúmeros títulos na prateleira da locadora. Se não criar muita expectativa, vale a pena experimentar.

Nota: 8,2

Um Beijo Roubado

O título original desse longa-metragem é mais coerente do que o lugar-comum Um Beijo Roubado. Para quem não sabe o que é blueberry, a palavra significa mirtilo. Piorou? Mirtilo é uma fruta originária da América do Norte, menor que uma uva e parecida com o acará. No filme, a personagem de Norah Jones saboreia as tortas de mirtilo que ninguém pede no café que Jude Law possui.

Os dois se conhecem por acaso, nesse estabelicimento, quando ela descobre a traição do namorado e precisa de alguém para conversar. Em seguida, empanturrada de torta, ela adormece. No dia seguinte, decide mudar de vida e parte em uma jornada para o interior dos Estados Unidos, fugindo de Nova York. Pelo caminho, ela escreve cartas para o “amigo” do bar e encontra pessoas que também estão perdidas.

Escrito e dirigido pelo chinês do momento, Wong Kar-Wai (Amor à Flor da Pele), o projeto criou uma expectativa imensa tanto pelo nome do diretor quanto pelo elenco. O argumento interessante acaba naufragando em uma trama irregular, que favorece as histórias secundárias e diminui a principal. Falta impacto e sentimento na tela. A tão comentada atuação de Norah Jones deixa a desejar. Sua interpretação sem verve é prejudicada pela personagem de intensidade fraca.

O filme abriu o Festival de Cannes no ano passado e não empolgou. Ao todo, não é uma obra sofrível. A maravilhosa fotografia e o time de apoio com Jude Law, Natalie Portman, Rachel Weiz e David Strathairn ajudam a melhorar o resultado. Porém, ainda assim, Um Beijo Roubado é decepcionante.


Nota: 5,0

O Diário de Uma Babá

Scarlett Johansson não tira folga entre um projeto e outro. Em seis anos, após o seu estrelato em 2003 com Encontros e Desencontros, a atriz não parou um segundo: são doze filmes de lá pra cá, ou seja, dois por ano. Em seu mais recente longa-metragem, ela interpreta uma babá e, como você pode estar pensado, e até um dos personagens diz no filme, “Isso não é meio pornô?”. De imediato pode até parecer: a gatíssima atriz vestida naqueles uniformes justinhos e... pode parando por aí. O Diário de Uma Babá é sessão da tarde, classificação livre. Portanto, nada disso.

No filme, Annie (Johansson) recém se formou em antropologia e decide mudar-se de Nova Jersey para a cidade grande, Nova York. Sem saber o que quer da vida, ela aceita a primeira oportunidade que bate a sua porta, a da de trabalhar como babá do filho pequeno de uma socialite. Claro que a garota se encanta com a criança, porém não será fácil lidar com a megera patroa. Ainda na mistura, soma-se o pai ausente e infiel e um estudante de Direito cheio da grana apaixonado pela protagonista. Annie vai passar por vários dilemas e assim, tentar descobrir quem ela é e o quer fazer da vida.

Bem bonitinho, o filme é a clássica comédia romântica que ainda funciona. Scarlett tem carisma e Laura Linney dá um show como a perua insensível. Vale descartar as metáforas bobas que Annie faz com antropologia. Do resto, se você procura um filme com final feliz, já achou. Tem vezes que o público não está com vontade de assistir um longa pesado e procura uma diversão tranqüila. O Diário de Uma Babá é ideal para esses dias.


Nota: 7,0

Juno


Diablo Cody está em alta após o fenômeno inesperado de Juno (mais ainda com o Oscar de Melhor Roteiro Original). Porém, é inegável que o sucesso do filme deve-se muito ao seu brilhante roteiro. A realidade nunca foi tão bem retratada em uma comédia adolescente, se bem que não é tão adolescente assim.

Juno é uma garota de 16 anos que fica grávida na primeira transa - logo de seu melhor amigo. Sem desespero e choradeira, ela trata de resolver a situação conseguindo um casal para adoção do bebê. É essa a sinopse do projeto. Simples assim, e é exatamente por ser uma história tão batida, que o filme merece o reconhecimento que teve. Cody conseguiu segurar o longa-metragem em um fiapo de trama e dar originalidade a algo tão clichê.

O melhor de Juno são os diálogos, construídos com perfeição para os carismáticos e atípicos personagens. O pai de Juno e sua madrasta tratam com certa naturalidade a situação, enquanto o amigo e pai da criança é um nerd desajustado que não sabe o que fazer após receber a notícia. Até mesmo a protagonista não é certinha e digna de pena. É alguém que parece real, que oscila de personalidade porque ainda não descobriu que tipo de pessoa é.

O painel das relações humanas do filme é riquíssimo. Além de Juno e seu “ficante”, os pais adotivos vividos por Jason Bateman e Jennifer Garner são figuras muito interessantes, tratadas com sensibilidade, e que sabem lidar com seus desejos fugindo do óbvio.

Apesar do tema universal, o diretor Jason Reitman dá um caráter indie e classifica a produção no estilo alternativo. Em qual filme você vê uma grávida chamando seu filho de “coisa” e querendo se livrar dele? São nas sutilezas do texto e nas interpretações fantásticas de todo elenco, principalmente Ellen Page no papel título, que fazem desse filme um passatempo obrigatório.

Nota: 8,5

O Clube de Leitura de Jane Austen


Jane Austen é tão moderna assim? Essa é a primeira pergunta que vem a mente quando se assiste O Clube de Leitura de Jane Austen. O filme procura provar que os livros da autora, lançados em 1800, tratam sobre as mesmas complicações vividas hoje nos relacionamentos amorosos.

A roteirista Robin Swicord estréia na direção em um filme com elenco repleto de atores conhecidos do púbico. São eles: Kathy Baker, Maria Bello, Emily Blunt, Maggie Grace e Kevin Zegers. O centro da história é o tal “clube”, onde cinco mulheres e um homem se reúnem para discutir as obras da clássica escritora. Cada um dos participantes passa a refletir sobre as histórias dos livros e assim, conseguem solucionar problemas através dessas lições.

Para quem não leu nada de Jane Austen provavelmente perderá boa parte dos diálogos. Durante as reuniões, os protagonistas discutem sobre as decisões dos personagens dos livros, o que acaba dificultando um aproveitamento completo para os espectadores alheios ao assunto. Claro que isso não impede a compreensão do importante da trama.

As pequenas histórias individuais dos integrantes do “clube” são prejudicadas pelo grande número de personagens, tornando-as superficiais. Na maioria, são clichês e previsíveis. Esse não é um projeto com muito a acrescentar. Será mais um filme passageiro que amanhã você já esqueceu, o que pode torná-lo especial é se você posteriormente decidir ler um dos livros de Jane Austen. Vontade dá. Já é alguma coisa.

Nota: 6,0

Sweeney Todd - O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet


Chegando à sexta parceria entre Tim Burton e Johnny Depp, Sweeney Todd consagrada a dupla como a união perfeita entre diretor e ator. Adaptação do musical da Broadway, o longa-metragem permanece com as cantorias e não censura a violência. Sangue em espasmos cavalares valorizam a trajetória vingativa do icônico personagem.

Depp é Bejamin Barker, barbeiro injustiçado que perde a mulher e a filha para o inescrupuloso juiz Turpin. Após temporada preso, Barker retorna repleto de ódio como Todd, e ao lado da sra. Lovett investe em um plano de vingança .

Respirando uma atmosfera sombria, o filme, assim como os demais do diretor, não poupa esforços para deslumbrar o público com uma Londres vitoriana decadente. A história clássica da produção encaixa-se magistralmente com o estilo de Burton, e para os que não a conhecem, é difícil desgostar roteiro. Envolvente e excitante, a trama é uma saga sangrenta e bem orquestrada.

O desequilíbrio aparente está ligado às canções, que em alguns momentos atrapalham a narrativa, sendo extrensas ou inoportunas, cortando a emoção das cenas. Do resto, o musical gótico não poderia ser melhor. Johnny Depp é fantástico como o barbeiro demoníaco e Helena Broham Carter consegue se ajustar como a louca sra. Lovett. Já Sacha Baron Coen, mais conhecido como Borat, está divertidíssimo em uma ponta de impacto.

Algumas sequencias são realmente deslumbrantes: os atores respiram os personagens, os cenários são fantásticos e as músicas empolgantes traduzem os sentimentos dos protagonistas sem precisar de coreografias. Sweeney Todd é excelente, se fosse pequenos detalhes, seria mais uma obra-prima do diretor.

Nota: 8,4

Eu e as Mulheres


Em Eu e as Mulheres, não há nada de novo. É a mesmice das comédias românticas encenada mais uma vez. O acúmulo de clichês é interminável, começando pela história batida: jovem roteirista leva fora da namorada e decide visitar sua avó doente em uma cidade do interior. Lá, ele faz amizade com a vizinha da casa da frente e suas duas filhas; e a partir daí mistura amor, compaixão e amizade, sem saber lidar com seus sentimentos e com as mulheres que aparecem em sua vida.

Adam Brody repete o personagem da série The OC, sendo incomodativo com personagem fútil e bobo. Meg Ryan, sem filmar há 3 anos, faz uma ponta forçada e insossa. Quem se salva é a gata Kristen Stewart, que já deve ser alertada por repertir demais o papel de adolescente rebelde.

Com todos esses defeitos, o longa-metragem escorrega feio no roteiro, sendo previsível, babaca e sem atrativos, não agradando nem como comédia romântica nem como drama. O pior é que não chega a ser, no mínimo, simpático. É tédio mesmo.

Nota: 3

Viagem a Darjeeling

Wes Anderson é como um ícone do cinema indie popular. O cara reúne um time de astros para cada um de seus filmes e utiliza a mesma identidade visual em todos eles. Algum problema nisso? Nenhum. É mais um dos motivos para considerá-lo um gênio. Pode ser exagero, mas é fato que não há experiência parecida como a de assistir um de seus projetos.

Dessa vez, o tema é o reencontro de três irmãos - afastados por mais de um ano após a morte do pai. O mais velho decide organizar uma jornada espiritual, tanto para uni-los como também para visitar a mãe que entrou em parafuso e decidiu virar freira na Índia. Por isso, os protagonistas embarcam em uma espécie de Expresso do Oriente, chamado de The Darjelling Limited (título original do longa). Enquanto o trem percorre cidades turísticas, os três homens desajustados irão aprender a conviver novamente juntos.

Pode ir esquecendo as seqüências emocionantes e melosas de reconciliação. Aqui as expectativas são quebradas na cena seguinte e a falta de ritmo não cria nenhum clímax. O cinema do diretor é diferente mesmo e o que há de excêntrico é visto na tela. A exuberância de cores característica de seus trabalhos é reinventada com os tons multicoloridos e vibrantes do exótico país.

Para os espectadores ainda não familiarizados com o ambiente, o indicado é evitar a procura pelo propósito de cada elemento, e sim valorizar o conjunto do passeio. São belas imagens, uma trilha sonora bacana, atores divertidos (destaque para Adrien Brody) e as cenas em slow-motion que intensificam a dramaticidade e a estética. O roteiro não é um dos mais inspirados de Anderson, só que mesmo assim significa um entretenimento acima da média.

Nota: 7,5

O Caçador de Pipas

Adaptação de um fenômeno literário, O Caçador de Pipas mantêm-se fiel à obra original, sem abrir mão de ser falado em uma das línguas do Afeganistão, o dari. Apesar de terem filmado em paisagens desoladas da China, essas locações substituíram primorosamente a capital Cabul, dando uma veracidade impressionante à produção e não evoca o caráter hollywoodiano da qual pertence.

A história inicia no fim dos anos 70, com a relação entre Amir e Hassan, dois amigos que vivem sob o teto do pai do primeiro. Hassan é filho do empregado da casa e também é hazara, etnia considerada inferior no país. Os dois participam dos torneios de pipas, até a chegada do regime Talibã e o fim de toda diversão. A situação muda quando um ato de traição abala a amizade.

O diretor Marc Foster atua com sensibilidade no desenrolar da trama, assim como fez no filme Em Busca da Terra do Nunca. A fidelidade com o livro é grande. Os atores mirins apresentam desempenhos que tornam o longa mais comovente. Um bom filme para quem leu o livro – e melhor ainda para quem não leu.

Nota: 7,8

O Assassinato de Jesse James Pelo Covarde Robert Ford


O título imenso que de imediato revela o final do projeto representa, na verdade, toda a complexidade da produção. É de conhecimento (quase) geral, que Jesse James foi um dos mais carismáticos bandidos dos Estados Unidos - isso no século 19, quando a personalidade chegou a virar herói dos quadrinhos.

No filme, a figura do assaltante acaba ficando para segundo plano, apagada pela presença infinatamente mais interessante de seu assassino e do que o levou a cometer o crime. O Jesse James de Brad Pitt é bem interpretado: ameaçador quando está no bando e frágil perante a família. Pena que se tem uma visão superficial do protagonista, porque o grande astro é Robert Ford, vivido na tela por Cassey Affleck. O instável personagem domina o filme e deixa o espectador fascinado com sua discutível coragem. O trabalho de Affleck é superior ao do galã e por ironia a Academia e as demais premiações classificaram-no como Ator Coadjuvante.

Não se pode deixar de comentar a exuberante fotografia, onde as cenas são de uma beleza estética deslumbrante. O ponto fraco é a duração: 160 minutos. Mesmo com a trama lenta e demorada, o filme será recompensador para aqueles que chegarem a presenciar o assassinato.

Nota: 7,9

Candy


Dan e Candy estão viciados um no outro, e também, na heróina. Essa é a história de um amor louco, inconsequente e sem limites. Mesmo com muitas razões para repudiá-lo, o casal de junkies totalmente desregrado consegue transmitir empatia em um relato honesto. Heath Ledger e Abbie Cornish mostram desempenhos fortes o suficiente para carregarem o longa-metragem. O que gera desconforto são os clichês e a falta de entusiasmo.

Perdidas no meio do projeto, duas cenas fantásticas: a sensacional abertura do filme quando Dan e Candy entram numa centrífuga humana em um parque de diversões e quando Dan encontra as paredes de sua casa pintadas com um texto de Candy.

O título Candy refere-se tanto ao nome da personagem de Abbie como também faz alusão as drogas (candy = doce). O filme é baseado no romance de Luke Davies, lançado em 1997.


Nota: 6,2