O Ditador


Sacha Baron Cohen é daqueles atores que realmente vivem o personagem. Suas crias mais famosas, Borat e Bruno, são figuras semelhantes ao real esculpidas à base de estereótipos e preconceitos. Essa dupla enganou muitas pessoas em 2006 e 2009, respectivamente, através de falsos documentários (mockumentary) promovidos por Cohen. Em seu quarto projeto autoral (já que assina também como produtor e roteirista), ele utiliza a representação de um tirano para criticar regimes totalitários, guerras nucleares, técnicas de tortura e o medo de terroristas por parte dos norte-americanos. O contexto político tem uma missão específica: fazer rir.

Diferente dos anteriores, "O Ditador" é um filme de ficção. Não há nenhuma linguagem cinematográfica que remeta ao estilo de documentário ou que transmita a sensação de que as cenas são verdadeiras. Na trama, Cohen interpreta o almirante Aladeen, governante da República de Wadiya, que arrisca a própria vida para que a democracia nunca chegue ao país que ele amorosamente oprime. Em visita aos Estados Unidos, Aladeen é sequestrado e tem sua marcante barba cortada. Ele consegue fugir, mas, com o visual diferente, ninguém o reconhece como líder de Wadiya. Acaba recebendo a ajuda da militante Zoey (Anna Faris) e passa a trabalhar de atendente em uma cooperativa ecológica, sem deixar de planejar sua volta ao trono.

Uma novidade bem-vinda do projeto é a participação de astros como Ben Kingsley, Megan Fox, John C. Reilly e Anna Faris. Mais que oferecer seu trabalho artístico, esse time demonstra que apóia a mensagem do filme. A figura de um ditador opressivo, racista e ofensivo torna-se válida para qualquer líder mundial que queira acabar com os direitos dos cidadãos. E, o bom, é que o roteiro defende essa conduta até o final, sem promover uma transformação de caráter do vilão.

O filme tem momentos realmente engraçados. Possui diálogos absurdos que invariavelmente provocam o riso, mas esse humor inteligente não é constante. Estão no conjunto cenas completamente sem graça, escatológicas e ridículas; porém, ainda bem longe das piadas de mau gosto de Bruno, por exemplo. Se não fosse por sequências alongadas e grotescas, como a do parto, da descoberta da masturbação e da luta com peitos superpoderosos, "O Ditador" poderia ter um resultado mais consistente e satisfatório.

Por outro lado, é preciso creditar a Sacha Baron Cohen a ousadia em produzir um longa-metragem politicamente incorreto, repleto de humor negro e que critica ferozmente os Estados Unidos. Nesse quesito assemelha-se a "Borat – O Segundo Melhor Repórter do Glorioso País Cazaquistão Viaja à América". Em comparação aos outros projetos, "O Ditador" ainda é o mais comercial em fórmula, com uma história redondinha, e com maiores chances de agradar o grande público.

Nota: 7

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