Crítica: Lincoln



Depois das críticas ao exagero e didatismo de “Cavalo de Guerra”, Steven Spielberg avançou por um caminho mais seguro no drama histórico “Lincoln”. Ao enveredar pela vida do 16º presidente dos Estados Unidos, preferiu dar destaque à principal causa defendida pelo republicano: a abolição da escravatura. O filme não é necessariamente uma cinebiografia do personagem, revela-se um episódio altamente político da aprovação da 13ª emenda à Constituição e o fim da guerra civil, momentos marcantes para a transformação da América.

Entre jogos de poder e burocracias políticas, Abraham Lincoln negocia e utiliza até da corrupção para dar fim aos seus objetivos. São necessárias duas horas e 30 minutos para a produção concretizar na tela o feito tão importante que o presidente almeja. O conteúdo político torna a exibição em diversos momentos cansativa, mas o peso não interfere na construção desse belo exemplar de um registro histórico. A direção de arte retrata o período com perfeição, assim como o primoroso trabalho de maquiagem em Daniel Day-Lewis para torná-lo idêntico à figura pública que representa.

Como já não é novidade, o ator brilha em cena, principalmente, quando relata histórias e casos particulares como analogias para reafirmar seu ponto de vista em discussões. O esforço do ator mais uma vez impressiona. Porém, o que não encontra equilíbrio durante a sessão é como o roteiro trata a imagem do presidente, resumindo-o como um senhor bonzinho, fraco, cansado e com uma causa que o deixa inquieto. A fala lenta de Lincoln impede um rompante com verve de Day-Lewis, o que deixa a representação do personagem distante de uma demonstração poderosa da responsabilidade que está nas suas mãos.

Spielberg, que já havia trabalhado com o tema da escravidão em “Amistad”, comanda o projeto com pulso firme. Não há sentimentalismos e ode à nação. Uma oportunidade para conhecer o homem que promoveu o progresso humano em uma época de preconceitos. “Lincoln” aborda em essência a luta pela liberdade e o sentido de democracia, dentro de sua abordagem verídica.   

Nota: 7,2

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