Sombras da Noite



Chapeleiro maluco, barbeiro assassino, dono de fábrica de chocolates, homem com mãos de tesoura, pior diretor de todos os tempos, investigador de uma lenda americana e noivo de mulher morta. Esse rol de personagens esquisitos é fruto da parceria entre o ator Johnny Depp e o diretor Tim Burton. Em sua oitava realização juntos, o galã interpreta um vampiro amaldiçoado na comédia “Sombras da Noite”, novo filme do cineasta apaixonado pelo gótico.

No século 18, o aristocrata Barnabás Collins (Depp) é transformado em criatura das trevas por uma bruxa ciumenta (Eva Green) e aprisionado em um caixão para toda a enternidade. Dois séculos depois, ele é encontrado e precisa conviver com a nova geração da sua família, em plenos anos 70. Sua missão é fazer com que os falidos negócios dos Collins voltem à antiga glória. Porém, a bruxa permanece apaixonada por ele e está disposta a conquistá-lo de qualquer jeito. Se não conseguir, buscará destruir Barnabás e seus familiares.

A trama é baseada na série “Dark Shadows”, exibida entre 1966 e 1971 pelo canal americano ABC. O TV show adorado tanto por Burton como Depp motivou mais uma reunião desses dois talentos. Se antes proporcionaram obras fantásticas, vide “Edward Mãos de Tesoura” e “Sweeney Todd”, dessa vez, apresentam a primeira derrapada desse belo histórico conjunto. Diferente do habitual, a direção de Burton é sem personalidade e convencional. E até o estilo dark é suave. Já Depp não encontra um personagem carismático e desafiador, ficando apagado por atuações mais interessantes, como a hipnotizante bruxa de Eva Green - finalmente bem aproveitada após encantar o mundo em Os sonhadores.

O universo de “Sombras da Noite” é rico em personagens curiosos. Ótimos atores (Michelle Pfeiffer, Helena Bronham Carter, Jackie Earle Haley e Chloe Grace Moretz) esforçam-se para conferir veracidade aos moradores da mansão dos Collins, mas a história fraca e previsível impede qualquer aprofundamento ou sequer investida no carisma dessas figuras. E, infelizmente, o que recebe atenção na tela é o romance besta entre o vampiro e nova tutora da família (Bella Heathcote).

Outro fato questionável é como um ser horroroso, com mãos deformadas, profundas olheiras, cabelo colado na cabeça e pele mais branca que papel, consiga despertar o interesse amoroso em Green, Carter e na novata Heathcote. Para compensar certos absurdos, a produção investe no humor, com piadas pouco inspiradas, que enfraquecem o clima sombrio e de suspense que permeia o filme.

Sem sair-se bem na comédia, no drama ou no “terror”, “Sombras da Noite” fracassa em tentar igualar-se aos demais projetos da dupla. É uma “sessão da tarde” simpática, perfeita na reconstrução de época e até com um certo charme. A divertida participação especial de Alice Cooper ganha pontos, assim como a cena de sedução/destruição entre o vampiro e a bruxa. O filme possui uma última chance de conseguir envelhecer bem e, quem sabe, obter um caráter cult no futuro.

Nota: 6,5

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